Auxílio injetou na economia o equivalente a dez anos de Bolsa Família

Benefício pode deixar de existir na próxima quinta-feira (31), caso Bolsonaro insista com sua promessa irresponsável

(Foto: Reprodução)

Faltam quatro dias. Se o presidente Jair Bolsonaro mantiver sua promessa irresponsável, o auxílio emergencial – que chegou a beneficiar 68 milhões de brasileiros durante a pandemia de Covid-19 – deixará de existir na próxima quinta-feira (31), último dia de 2020. Os efeitos econômicos e sociais do fim do auxílio serão inevitáveis, e o Brasil provavelmente estará mais perto do caos.

Até aqui, o impacto do benefício superou o de qualquer programa de transferência de renda já implantado no País. Proposto pelo PCdoB e pela oposição ao governo Bolsonaro, o auxílio foi criado em abril para socorrer os brasileiros das limitações de circulação e da escassez de trabalho sob o estado de calamidade pública. O pagamento emergencial – primeiro de R$ 600 e depois, a partir de setembro, de R$ 300 – ajudou a amortecer a queda livre da atividade.

“O auxílio emergencial transferiu, em nove meses, o mesmo volume de recursos que o Bolsa Família transferiu em dez anos”, disse ao G1 o economista Pedro Fernando Nery. Segundo ele, o fim dos pagamentos, num contexto econômico ainda muito deprimido e com desemprego elevado, vai reverter automaticamente a redução de quase 24% da pobreza que o auxílio conseguiu. Mesmo reconhecendo as restrições fiscais, Nery defende algum tipo de “pouso suave” que prorrogue o benefício, ainda que em valor menor.

O problema é que Bolsonaro e sua equipe, inicialmente contrários à implantação do auxílio emergencial, fracassaram na tentativa de substituí-lo ou compensá-lo. O governo anunciou a criação de um programa social alternativo e permanente, batizado a princípio de Renda Brasil. Semanas depois, o projeto mudou de nome – para Renda Cidadã –, mas continuou no papel. No final, o Brasil está prestes a ficar sem auxílio e sem um substituto à altura.

Na semana passada, em evento online organizado pela Abras, o ministro bolsonarista da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o “plano A” do governo é tão-somente ampliar um pouco os valores pagos pelo Bolsa Família. “Se você perguntar assim: ‘qual o plano para o auxílio emergencial?’. A resposta hoje é remoção gradual”, afirmou Guedes. “Acaba o auxílio emergencial, e nós voltamos para o Bolsa Família.”

Em contrapartida, o ministro reconheceu a possibilidade de uma segunda onda de Covid-19 no Brasil e de, por efeito, novas medidas de restrição social e econômica. Nesse caso, diz Guedes, não estaria descartado o decreto de um novo estado de calamidade pública, nem a prorrogação do auxílio – mas em patamares bem mais modestos. Segundo o ministro, o gasto do governo em 2021 seria menor em um novo enfrentamento ao vírus, ficando por volta de 4% do Produto Interno Bruto (PIB), contra 10% do PIB neste ano.

“Nossa hipótese de trabalho é ir retirando os estímulos. É o que estamos fazendo”, diz. “Eram R$ 600, baixa para R$ 300, depois aterrissa ali na frente ou numa versão do Renda Brasil, de renda básica, ou no próprio Bolsa Família que existia antes”, agrega Paulo Guedes, sem dar detalhes de valores, número de parcelas e prazo.

Da Redação, com agências

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