Frei Betto: Lula, Boulos e Flávio Dino são ótimos nomes para 2022

Para religioso, escolha de um candidato de consenso deve se submeter à definição de um projeto nacional, aliado à unidade do campo popular-progressista

Em 2020, Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, lançou seu 69º livro. Diário de Quarentena – 90 dias em Fragmentos Evocativos (Editora Rocco) reflete sobre os impactos da pandemia de Covid-19, além de evocar experiências pessoais do autor. Agora, em entrevista à Folha de S.Paulo, publicada nesta segunda-feira (4), o frade brasileiro, de 76 anos, volta a abordar as lições da crise no Brasil.

“Ficou óbvio que vivemos num país desgovernado. Quase 200 mil mortos pela pandemia foram vítimas de um presidente que sofre de tanatomania”, afirmou. Ainda assim, ele diz que o pessimismo não pode sobressair diante do governo de extrema-direita de Jair Bolsonaro. “Tudo que os demolidores como BolsoNero querem é que percamos o ânimo e fiquemos à mercê de seus arroubos autoritários.”

Preso duas vezes durante a ditadura militar, Frei Betto foi assessor especial da Presidência da República no governo Lula e coordenador de Mobilização Social do Programa Fome Zero. Hoje, é assessor de movimentos sociais e da FAO/ONU para questões de soberania alimentar e educação nutricional.

Opositor do presidente Jair Bolsonaro – a quem chama de “BolsoNero” –, ele acredita que, com projeto, luta e unidade, é possível derrotar a extrema-direita e reconquistar a Presidência. “Quando constato que, numa cidade conservadora como São Paulo, Guilherme Boulos passou para o segundo turno e teve mais de 2 milhões de votos (nas eleições 2020), a esperança renasce. O bolsonarismo foi o grande derrotado nessas eleições municipais, como será varrido do mapa em 2022.”

Em sua opinião, o caminho para a esquerda voltar ao poder passa pelo trabalho de base. “Enquanto os partidos progressistas não tiverem consenso em torno de um Projeto Brasil, continuarão sem condições de produzir uma alternativa de poder. E precisam retomar o trabalho de base popular. A cabeça pensa onde os pés pisam”, diz. “É hora de retomar o trabalho de base popular e definir estratégias na guerra digital”, enfatiza.

Declarando que “fora do povão não há salvação”, Frei Betto critica o que chama de “afastamento dos partidos progressistas das periferias, favelas e zonas rurais pobres”. Lamenta também “o refluxo das comunidades eclesiais de base, devido aos pontificados conservadores de João Paulo 2º e Bento 16”. Esses fenômenos, segundo o escritor, “abriram espaço, no universo dos marginalizados e excluídos, ao fundamentalismo religioso que alavancou a eleição de BolsoNero”.

“Temos de fortalecer os movimentos sociais e começar a sinalizar que é uma falácia candidaturas de centro à Presidência”, diz. “Todos que, agora, se fantasiam de centro são, na verdade, convictos defensores das pautas políticas e econômicas da direita, como a prevalência da apropriação privada da riqueza sobre os direitos coletivos e o “direito” de as empresas brasileiras sonegarem mais de R$ 400 bilhões por ano. Nenhum deles aprovará uma reforma tributária progressiva, que afete a fortuna dos mais ricos e favoreça os mais pobres.”

Outro desafio é descontruir o bolsonarismo. “Em 2018, a direita soube manipular muito bem – em especial pelas redes digitais – o antipetismo alimentado pelas tramoias da Lava Jato”. Para Frei Betto, a farsa de Sergio Moro, Deltan Dallagnol e cia. “fomentou uma narrativa moralista capaz de induzir muitos a esquecerem os avanços” dos governos Lula e Dilma, “sobretudo na área social”. Cabe ao ex-presidente, em especial, resgatar esse legado: “Lula é o mais importante líder popular do Brasil. Tem o papel fundamental de articular esse Projeto Brasil criando, agora, um fórum de partidos e movimentos sociais progressistas”.

Mas a escolha de um candidato de consenso em 2022 deve se submeter, segundo Frei Betto, à definição de um projeto nacional, aliado à unidade do campo popular-progressista. “Para 2022 a oposição, se lograr unidade, conta com ótimos candidatos: Lula, Boulos e Flávio Dino são três exemplos”, diz ele. “Quanto ao Projeto Brasil, deverá resultar da articulação entre os partidos progressistas e os movimentos sociais.”

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Um comentario para "Frei Betto: Lula, Boulos e Flávio Dino são ótimos nomes para 2022"

  1. Genival Linhares disse:

    Façam uma matéria com o prefeito eleito de jacobina, que reduziu seu salário em90% para se solidarizar com os demais cidadãos que só ganha um salário mínimo.

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