Disputa na Geórgia para o Senado define maioria no Congresso americano

Em superioridade na Câmara, partido Democrata almeja maioria também no Senado nas eleições desta terça-feira (5)

Capitólio dos Estados Unidos, centro legislativo do Estado americano em Washington, DC -Foto: David Knox/Unsplash

As eleições de segundo turno para o Senado que ocorrem hoje (5), no estado americano da Geórgia, são decisivas para os primeiros anos do governo Joe Biden. São duas vagas restantes em um total de cem senadores. O partido de Donald Trump, Republicano, possui 50 senadores eleitos, enquanto o partido de Biden ocupa 48 assentos.

O Democrata já possui controle da Casa Branca e superioridade na Câmara, conquistada em 2018 e que exerceu forte oposição ao governo Trump na segunda metade do mandato. A maioria no Senado concederia autonomia ao governo Biden para aprovar medidas e indicações com menos dificuldades. A conquista dos dois assentos por parte dos progressistas igualaria o número de senadores entre os partidos, sendo o voto de minerva do Vice Presidente dos EUA – a democrata Kamala Harris, a partir de 20 de janeiro.

A tarefa do partido Republicano é eleger pelo menos um dos candidatos em Georgia, um estado tradicionalmente conservador em que um democrata não vencia desde 1992 com Bill Clinton. Nas eleições em novembro, Biden quebrou a hegemonia republicana na região e provocou protestos por parte do lado derrotado.

Donald Trump alegou fraude e recorreu aos tribunais para tentar alterar o resultado das eleições presidenciais, mas não obteve sucesso. Na época, o presidente cobrou ações de políticos republicanos da Georgia, em especial o governador Brian Kemp e o secretário de Estado Brad Raffensperger. A pressão de Trump forçou uma recontagem manual dos quase 5 milhões de votos. Em 20 de dezembro, Kemp certificou o resultado, garantindo os 16 delegados para Biden.

Na época, Brad Raffensperger afirmou que a contagem foi refeita três vezes e os resultados permaneceram inalterados. “Eu sei que há pessoas que estão convencidas de que a eleição foi repleta de problemas, mas as evidências, as evidências reais, os fatos nos contam uma história diferente”.

Donald Trump ainda não aceitou a derrota no estado e voltou a pressionar o secretário no último final de semana. No sábado, Trump ligou para Raffensperger e disse que ele deveria “encontrar votos”, o suficiente para ficar a frente de Biden. O secretário de Estado assegurou novamente que não havia nenhum indício de fraude.

A publicação do áudio pelo jornal The Washington Post aqueceu ainda mais a corrida pelos últimos assentos no Senado. Tanto Trump quanto Biden foram a Geórgia discursar em favor dos candidatos. Pelo partido Republicano, os empresários David Perdue e Kelly Loeffler tentam a reeleição. O reverendo Raphael Warnock e o documentarista Jon Ossoff são os candidatos do partido Democrata.

Em um comício na segunda à noite (4) em Dalton, na região noroeste de Geórgia, Trump afirmou que os democratas estavam tentando roubar Casa Branca e os eleitores não poderiam deixar que o mesmo ocorresse com o Senado. Mais uma vez, ele mencionou ser vítima de fraude eleitoral. “Foi uma eleição fraudada, mas ainda estamos lutando e vocês verão o que vai acontecer”. Donald Trump expressou o apoio a Perdue e a Loeffler e afirmou que o voto desta terça “é um dos mais importantes na história do país”.

Joe Biden falou para algumas centenas de pessoas acomodadas nos capôs e tetos dos carros em um estacionamento em Atlanta. Em seu discurso, sem mencionar o telefonema feito por Trump, Biden falou que o republicano estava aprendendo uma dura lição da democracia. “Nossos opositores estão descobrindo que todo o poder emana do povo”, afirmou o presidente eleito em novembro. Biden ainda afirmou que políticos não podem “tomar para si o poder” e elogiou os candidatos democratas, Warnock e Ossoff.

Candidatos ao Senado

Jon Ossoff, jornalista e produtor audiovisual de 33 anos de idade, fez um paralelo entre a ligação telefônica de Trump e a história de supressão de votos na Geórgia. “O presidente dos Estados Unidos tentou intimidar autoridades para jogar fora seus votos”, afirmou o candidato democrata que defende reforma na justiça criminal dos EUA e acesso universal à saúde no país. “Vamos mandar um recado: não venham à Georgia para desrespeitar nosso direito ao voto”.

O adversário de Ossoff, David Perdue, é um empresário de 71 anos ligado ao ramo de vestimentas e materiais esportivos. Em 2014, elegeu-se como um outsider da política. Com a principal bandeira de responsabilidade fiscal, o candidato é próximo à Donald Trump e defendeu o presidente em entrevista à Fox News no domingo à noite. “O que o presidente disse é exatamente o que ele tem falado nos últimos meses”, afirmou Perdue. O republicano ainda condenou o vazamento do áudio e cobrou respostas sobre as eleições presidenciais. “Houve irregularidades nas eleições em novembro e ele [Trump] quer respostas. E ainda não as conseguiu do secretário de Estado”.

A outra disputa é entre o reverendo Raphael Warnock e a empresária Kelly Loeffler. O pastor de 51 anos atuou na liderança da Igreja Batista Ebenezer de Atlanta, o mesmo púlpito no qual subiu o ativista pelos direitos civis da população negra Martin Luther King Jr. décadas atrás. Warnock nunca havia se candidatado a um cargo eletivo e tem como principal bandeira a reestruturação da criminal e acesso à saúde pública.

Loeffler é uma empresária de 50 anos que se posiciona a favor das pautas conservadoras, entre elas a criminalização do aborto, posse de arma e a construção do muro na fronteira com o México para conter a imigração ilegal, uma das principais imagens do governo Trump. A candidata republicana tenta a reeleição após chegar ao Senado em 2019, indicada pelo governador Brian Kemp para o lugar de Johnny Isakson, que renunciou por problemas de saúde.  

De acordo com o site FiveThirtyEight, que compila pesquisas de intenção de voto nos Estados Unidos, os dois democratas tinham uma pequena vantagem na véspera da eleição. O resultado deve sair nesta terça-feira (5) à noite.

Jon Ossoff e Raphael Warnock, candidatos democratas | Foto: Jim Watson/Agence France-Presse
Kelly Loeffler e David Perdue, candidatos republicanos | Foto: Brynn Anderson / AP

Com informações de G1 e The New York Times

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