Gigante do aço: pandemia reforça domínio da China na siderurgia

Proporção chinesa na produção mundial de aço foi de 57,5% em 2020

Mesmo sob a pandemia de Covid-19, a China registrou expressivo crescimento em suas indústrias básicas ao longo de 2020. Um setor que particularmente deixa isso bem claro é o de aço. Em 2020, até novembro, a proporção chinesa na produção mundial foi de 57,5%, conforme análise de dados da Associação Mundial do Aço (WSA, na sigla em inglês) feita pela MySteel. Em comparação, a porcentagem em todo 2019 foi de 53,3%.

No mundo, a produção de aço caiu. Mas, nesses 11 meses de 2020 (em comparação ao período similar do ano anterior), a produção chinesa aumentou e somou quase 1 bilhão de toneladas. Na China, o registro de novos casos de contágio diminuiu até quase sumir na segunda metade do ano, enquanto a pandemia continuou (e continua) a assolar outras grandes economias.

As medidas econômicas da China para reagir à pandemia – que incluíram a emissão de bônus especiais criados para custear projetos de infraestrutura, repetindo a estratégia de estímulos pós-crise financeira mundial de 2008 – elevou a necessidade de aço. A demanda também foi impulsionada pela enxurrada de construções que acompanhou a forte alta no preço dos imóveis.

Esse quadro teve implicações importantes no mercado de commodities. Enquanto algumas delas – mais notavelmente o petróleo – viam a cotação mergulhar, afetadas pela pandemia, o preço do minério de ferro (ingrediente essencial na siderurgia) quebrava um recorde atrás do outro. Em dezembro, a cotação alcançou o maior patamar em sete anos, incentivado em parte pela demanda da próspera indústria chinesa.

A Austrália, que se enrolara em uma disputa geopolítica cada vez mais furiosa com a China, conseguiu, mesmo assim, enviar enormes quantidades de minério de ferro ao longo dos últimos 12 meses. Sua economia e as grandes mineradoras com sede no país, assim como outros produtores como a brasileira Vale, se beneficiaram diretamente dessas vendas.

Projeta-se que a produção de aço na China continuará elevada neste ano. A S&P Global Platts estima que, em 2021, a produção bruta chegará a 1,068 bilhão de toneladas. Também prevê aumento nas exportações chinesas de produtos de aço acabado.

Seria mais um exemplo de recuperação que chega primeiro na China para depois disseminar-se a outros países. Assim como na produção de aço, a China elevou sua proporção na corrente de comércio mundial em 2020. As exportações em novembro subiram mais de 20% na comparação anual.

A S&P Global Platts prevê aumento nas exportações de aço graças tanto à recuperação no exterior quanto à desaceleração da demanda por propriedades na China, em especial no setor residencial – segmento em que o governo chinês tomou medidas recentes para controlar os preços. Os dirigentes anunciaram medidas para restringir a alavancagem de suas maiores incorporadoras imobiliárias e, nas últimas semanas, impuseram novos limites à concessão de empréstimos bancários, tanto para incorporadoras quanto para o mercado de créditos imobiliários.

A recuperação da China deverá entrar em uma fase puxada pela recuperação plena do consumo doméstico, afastando-se da pesada dependência em relação à indústria. Dados oficiais mostram que, até agora, o crescimento das vendas varejistas vem ficando para trás em comparação ao da produção industrial, que em novembro superou o da maior parte dos meses de 2019.

Portanto, embora muitas das condições que sustentaram a cadeia de produção do aço em 2020 possam continuar presentes, também há sinais de que a estratégia industrial da China cederá espaço a uma abordagem econômica diferente. O quadro como um todo depende da recuperação mundial – e do que ocorrer na China.

A produção siderúrgica chinesa deva continuar elevada, mas pode não superar necessariamente o patamar de 2020. No fim de dezembro, a agência Xinhua noticiou declarações de Xiao Yaqing, ministro da Indústria e da Tecnologia da Informação, dizendo que a China iria “decididamente reduzir a produção de aço bruto e garantir que caia, em termos anuais, em 2021”.

O anúncio não foi motivado pelas pressões de curto prazo da pandemia, mas pelos planos de longo prazo da China de reduzir as emissões de carbono. Em 2020, o presidente da China, Xi Jinping, prometeu a neutralidade de carbono no país para 2060. Quando os efeitos da pandemia tiverem desaparecido, esses planos poderiam ter consequências ainda maiores (e imprevisíveis) para o comércio de commodities.

Com informações do Financial Times, via Valor Econômico

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