Covid-19: situação do Brasil é “particularmente preocupante”, diz Opas

Órgão destaca aumento da covid-19 no México, Estados Unidos e Canadá

Fila de ambulâncias para receber pacientes de Rondônia em Porto Alegre Fotos: Felipe Dalla Valle/ Palácio Piratini

A diretora da Organização Pan-americana de Saúde (Opas), Carissa Etienne, classificou a situação do Brasil na pandemia do novo coronavírus como “particularmente preocupante”. Ela destacou o esgotamento da capacidade de atendimento, a insuficiência de estruturas e as filas para leitos de Unidades de Tratamento Intensivo (UTI).

“As hospitalizações estão aumentando na maior parte da região. A situação do Brasil é particularmente preocupante. Em Manaus há crescimento dos casos. A cidade foi severamente impactada nas últimas semanas”, ressaltou.

“Cerca de três quartos de todos os leitos em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) em muitos estados brasileiros – das regiões do norte da Amazônia à fronteira sul com o Uruguai – estão sendo usados para tratar pacientes com covid-19”, destacou a especialista.

Carissa relembrou o pesado fardo suportado pelos profissionais de saúde e estimou que, apesar dos dados limitados, quase um milhão de trabalhadores de saúde na região foram infectados com o vírus e pelo menos 4.000 morreram, a maioria mulheres.

A diretora da Opas relata que há informes de colapso do sistema de saúde em outros estados, com aumento das taxas de ocupação dos leitos de UTI para pacientes com a covid-19.

Além do Brasil, outros países na região também vêm apresentando crescimento da pandemia. “O México está reportando aumento, enquanto a Colômbia teve o maior aumento de casos na América do Sul. Algumas regiões triplicando sobre as últimas semanas. Em alguns estados dos Estados Unidos e áreas do Canadá há esgotamento da capacidade [de atendimento]. No Caribe países estão vendo aumento das infecções”, comentou. Paraguai e Chile também veem um aumento das infecções.

Cinco países americanos ocupam o topo da lista de contágios (primeiros 20 lugares), sendo que o Brasil está em segundo lugar em novos casos por dia.

Já na Argentina e no Uruguai o movimento é de desaceleração. Etienne destacou a necessidade de manter as medidas de prevenção para fazer as curvas de casos e mortes caírem, como o distanciamento social e a higienização.

Segundo ela, há políticas públicas que podem contribuir para mitigar a circulação do vírus. Ela citou o caso do Chile, onde foi adotado um programa de apoio a pessoas infectadas disponibilizando moradias no caso de quem não tinha condições para ter um isolamento adequado.

O subdiretor da Opas, Jarbas Barbosa, falou sobre os esforços para a vacinação dos países, que deve priorizar trabalhadores de saúde, populações vulneráveis, idosos e pessoas com doenças crônicas.

Barbosa reportou que a Opas está em contato com fabricantes e que há o debate no âmbito do mecanismo Covax Facility, da OMS, para assegurar doses aos países da região. As doses deverão começar a chegar em fevereiro. 

Homenagem

Carissa citou a morte da diretora-presidente da Fundação de Vigilância em Saúde do Amazonas, Rosemary Pinto. Ao fim da coletiva, todos os presentes fizeram silêncio em homenagem à epidemiologista.

“Quero destacar uma pessoa que perdemos nesta pandemia, doutora Rosemary Costa Pinto ou doutora Rose, como ela era conhecida. Ela era uma parceira da OPAS, uma líder local, impactando a vida de milhões em sua região. Infelizmente adoeceu e morreu do exato mesmo vírus que ela se dedicou para controlar. Hoje celebramos sua vida e dos milhões dos trabalhadores de saúde que continuam na linha de frente salvando vidas.”

Etienne aproveitou para homenagear e agradecer todos os profissionais de saúde da região. “Nós sabemos que mais de um milhão de profissionais de saúde da região adoeceram com covid-19 e ao menos 4 mil, a maioria deles mulheres, morreram como resultado, afetando nossa capacidade de responder a essa emergência sanitária.”

1 milhão de mortes

Pelo menos 14 países da região das Américas já detectaram variantes do novo coronavírus, informou o diretor assistente do departamento de emergências da OPAS (Organização Pan-americana de Saúde), Sylvian Aldihieri, em coletiva de imprensa. Mas, segundo ele, ainda é cedo para dizer se as variantes são a causa da nova onda de contaminações na região.

Segundo o diretor, até o momento, a variante detectada tanto na Europa quanto na África do Sul foi identificada na região apenas em viajantes e seus contactantes e não seria ela a causa do aumento dos casos e hospitalizações atualmente. “Não vemos nesse momento um impacto na dinâmica de transmissão na área onde essas variantes foram detectadas”, afirmou.

No entanto, ele ressaltou que a variante registrada no Brasil foi identificada em maior escala nos infectados no estado do Amazonas, o que poderia indicar uma maior capacidade de transmissão. “Ainda é muito cedo para dizer que há uma relação entre a detecção dessa nova variante e a mudança na dinâmica da pandemia neste momento.”

Carissa Etienne lembrou que as Américas atingiram a marca de mais de 1 milhão de mortes em função da pandemia. Os Estados Unidos são responsáveis por quase metade, com mais de 426 mil óbitos, conforme mapa da Universidade Johns Hopkins. Já o Brasil é responsável por mais de 20% deste total, com quase 220 mil casos. 

CURVA DE CONTÁGIOS DOS ESTADOS UNIDOS
CURVA DE CONTÁGIOS DO BRASIL
CURVA DE CONTÁGIOS DO MÉXICO
Autor

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *