Luta e Resistência, substantivos femininos, por Silvana Conti

Nosso principal desafio é a unidade na luta dando destaque aos movimentos LGBTQI+. Temos o mesmo alvo e queremos reconquistar a democracia que nos foi roubada.

Neste 8 de Março de 2021, vivemos um período obscuro, neofacista, negacionista, conservador, onde o presidente genocida é responsável pela morte de mais de 250 mil pessoas, filhas, mães, pais, netas, irmãs, companheiras, companheiros, parentes, amigas e amigos que estão tombando todos os dias sem ter chance de sobreviver. Hoje, o Brasil é uma das ameaças e o novo epicentro da crise global da Covid-19. 

Nós lésbicas feministas emancipacionistas sempre estivemos nas lutas em defesa da democracia. Nossa luta pela conquista da cidadania passou e passa pela nossa participação nos movimentos democráticos pela Independência do país, contra o crime brutal da escravatura, pela República, contra o Estado Novo, pela paz, contra a ditadura militar, pela Anistia, contra a carestia, pelas Diretas Já, contra o racismo, pela Constituinte, contra a corrupção, pelo “Impeachment” de Collor, contra a privatização do Estado, pela reforma agrária, pela reforma da mídia, pela reforma política, pela reforma da educação, contra o Estatuto da Família, pela autonomia dos movimentos sociais, contra o Estatuto do Nascituro, pelos direitos da classe trabalhadora, pela descriminalização e legalização do aborto, contra a lesbofobia, contra a bifobia, contra a homofobia, contra a transfobia, contra os fundamentalismos, contra a fome, pela laicidade do Estado, pela soberania nacional, pela Petrobras, pelo Pré–Sal, pela escola sem mordaça, pela não redução da maioridade penal, pela manutenção do gênero na educação em todos os níveis e modalidades de ensino, contra o golpe que retirou a presidenta Dilma e fez com que o Brasil entrasse em uma profunda crise política, institucional,  econômica e um projeto ultraliberal e conservador tomasse conta do país.

Hoje lutamos por vacina para todas, todos e todes! 

Pelo auxílio emergencial, pois a fome também mata! 

E desde as grandes mobilizações pelo #ELENÃO, lutamos, resistimos e seguimos gritando: Fora Bolsonaro! 

Sem democracia não existem direitos trabalhistas!

Sem democracia não existem direitos para negros e negras!

Sem democracia não existem direitos humanos!

Sem democracia não existem direitos para as mulheres, não existem direitos LGBTQI+…

Nossos passos vêm de longe…

No Manifesto do Partido Comunista, Marx e Engels, além de afirmarem o papel da família na reprodução da opressão da mulher, indicam a possibilidade e a necessidade de transformar essa instituição. Marx também faz uma análise crítica do conceito liberal de igualdade. Apresenta os limites da igualdade jurídica como instrumento de reversão da subordinação vivida pelas mulheres. Faz a distinção entre emancipação política formal que tem como objetivo a igualdade de direitos sem levar em consideração as desigualdades reais, apontando para o Feminismo Emancipacionista que persegue uma transformação das estruturas econômicas e políticas geradoras das desigualdades.

A contribuição de Alexandra Kollantai (1873-1952) é uma referência importante para nós feministas emancipacionistas, ela abordou os temas do amor e da sexualidade, temas até então bem pouco considerados por pensadores marxistas, dando conseqüência à análise de Marx e Engels em relação à falsa moral burguesa e aos interesses que sustentavam a instituição familiar. Alexandra Kollantai argumentou a favor de uma sexualidade livre das amarras morais e materiais. 

O bolsonarismo é machista, misógino, racista e LGBTfóbico

 A agenda bolsonarista fundamentalista e nefasta, insufla o ódio, flexibiliza o uso de armas, ataca as instituições democráticas, termina com a participação popular, amordaça a liberdade de expressão, dispara fake news e, em meio a este caos social, as lésbicas, bissexuais e mulheres trans sofrem muito mais violações de direitos humanos. 

Vivemos uma conjuntura de avanço do conservadorismo e de perda de direitos sociais e trabalhistas historicamente conquistados, seguido do aumento da violência e do controle sobre a vida e o corpo das mulheres, com o aumento do racismo, da misoginia, aumento do feminicídio, do lesbocídio, além da repressão, criminalização aos movimentos sociais e populares, criminalização do movimento sindical, e da desqualificação e perseguição do campo de esquerda. 

No mundo do trabalho, o estigma e a discriminação influenciam os níveis de eficiência e produção, o bem-estar laboral e o próprio acesso ou permanência em um trabalho decente. Destacando que muitas mulheres LBTs se lançam em trabalhos informais, pois no processo de seleção, já sofrem a discriminação.

De acordo com a pesquisa, divulgada pela Folha de S. Paulo e organizada pela organização de mídia Gênero e Número, financiada pela Fundação Ford, 92,5% de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros entrevistados relataram terem percebido um crescimento na violência no período eleitoral e pós-eleitoral” desde a eleição de 2019, quando debates morais, com conteúdos machistas, racistas e LGBTfóbicos, fizeram parte da pauta conservadora e nefasta do presidente Bolsonaro, sua família e seus aliados.

As mulheres LBTs sofrem crimes de estupro, a muito tempo, mais neste momento de Covid-19, estão convivendo com seus algozes muitas vezes dentro de suas próprias casas. Infelizmente há uma perpetuação histórica dos chamados “estupros corretivos”, sobretudo contra mulheres lésbicas. 

Importante destacar que como resultado da luta do movimento LGBT, em junho (2019) o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou a criminalização da LGBTfobia, sendo caracterizada por todo tipo de repulsa, preconceito, cerceamento de direitos e atos violentos contra pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros ou travestis. Discriminar uma pessoa por sua orientação sexual e/ou identidade de gênero hoje é um crime inafiançável, imprescritível e que pode ser punido com multa ou até cinco anos de prisão, de acordo com a lei 7716/89. 

Todas, todos e todes juntos(as) em unidade, partidos políticos, movimentos sociais e populares, movimento sindical, precisamos construir uma Frente Ampla para derrotar Bolsonaro. 

Portanto neste momento histórico nosso principal desafio é a unidade na luta dando destaque aos movimentos LGBTQI+. Temos o mesmo alvo e queremos reconquistar a democracia que nos foi roubada. 

Lutamos por uma sociedade radicalmente livre, uma sociedade avançada e socialista, onde todas, todos e todes tenham o direito de viver, trabalhar, se divertir, amar e ser feliz.

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