Brasil só atinge 37% da capacidade da vacinação contra a Covid-19

Nas regiões Norte e Centro-Oeste, a maioria dos estados vacinou menos de 10% da população

A sabotagem do governo Jair Bolsonaro       à pandemia compromete o ritmo da vacinação contra a Covid-19 no Brasil. O novo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, diz que a meta é imunizar ao menos 1 milhão de pessoas por dia. Em abril, o País chegou a uma média diária superior a 740 mil doses aplicadas. Mas esse patamar corresponde a apenas 37% da capacidade diária do Plano Nacional de Imunização (PNI) – que é de 2 milhões de doses diárias.

Na campanha nacional, mais de 80% das doses usadas têm sido da Coronavac, do Instituto Butantan e da chinesa Sinovac – o restante é da Oxford/AstraZeneca, cuja produção no Brasil fica a cargo da Fiocruz. Porém, com a negligência bolsonarista – que desperdiçou as oportunidades de adquirir vacinas já no ano passado –, faltam imunizantes em diversos estados e municípios.

É o caso da Bahia, que já aplicou a primeira dose em 13,83% da sua população – o segundo melhor desempenho no País e acima da média nacional, de 12,59%. “Vacina aqui acaba antes da hora”, conta Fábio Villas-Boas, secretário estadual da Saúde. “Só não estamos vacinando mais porque não temos mais vacinas.”

Há um mês, a Secretaria de Saúde da Bahia decidiu repassar novas doses da vacina apenas aos municípios que já tivessem utilizado 70% do estoque anterior. Quinze dias depois, a porcentagem obrigatória subiu para 85%. “Foi uma confusão e vários municípios reclamaram – mas todos se adequaram”, conta Villas-Boas.

Para melhorar a eficiência na administração das doses, municípios que antes tinham utilizado de 50% a 60% das vacinas entregues investiram na contratação de novos aplicadores e funcionários responsáveis pela inserção dos dados no sistema eletrônico de controle. O ritmo acelerou e, no início de abril, a Bahia já era o estado com maior proporção de imunizados no País. Desde então, as remessas se esgotam antes da entrega seguinte.

Nas regiões Norte e Centro-Oeste, a maioria dos estados vacinou menos de 10% da população. Segundo a Secretaria de Saúde do Mato Grosso, o estado – que tem, proporcionalmente, “menos idosos” que a média nacional – recebeu doses conforme “o número de habitantes que integram os grupos de risco contemplados pelo PNI”. Mas há reclamações: “O governo de Mato Grosso espera que o quantitativo que abrange os públicos mais jovens seja maior”.

O descompasso na vacinação está diretamente ligado à falta de diretriz nacional. “Nada é normal nesse negócio da Covid – tanto que estão mudando até as faixas prioritárias”, diz Ana Maria Malik, professora da FGV-SP e coordenadora do GV-Saúde. “O que dá para afirmar é que o Brasil tem um conhecimento técnico importante sobre vacinação que outros países não têm – mas não está usando.”

Com informações do Estadão