Governo japonês recua diante de oposição local às Olimpíadas
Nova pesquisa mostra que quase 60 por cento dos japoneses desejam o cancelamento dos já atrasados Jogos de Tóquio. Os jogos estão programados para começar em 23 de julho e continuar até 8 de agosto.
Publicado 10/05/2021 20:13
As autoridades estão perplexas, e o evento esportivo que deveria ser um momento de alegria e confraternização começa a se tornar o bode na sala. Um incômodo profundo com o qual ninguém sabe o que fazer, desde que já foi adiado um ano, com enormes custos para um país em que bem menos de 3% da população foi vacinada, a menor taxa entre os países ricos. Para piorar, as Olimpíadas já comprometeram recursos e esforços da maioria dos outros países do mundo.
O primeiro-ministro Yoshihide Suga disse nesta segunda-feira que nunca “colocou as Olimpíadas em primeiro lugar”, já que uma pesquisa de opinião mostrou que quase 60% dos japoneses querem que as Olimpíadas sejam canceladas menos de três meses antes do início. A taxa de aprovação pública de Suga está em 40%, perto dos mínimos históricos registrados no início deste ano.
Impacto econômico
Oficiais olímpicos internacionais, planejadores de Tóquio e o próprio Suga insistiram que o evento de US$ 15,4 bilhões será realizado de maneira “segura e protegida”. O impacto econômico do cancelamento, no entanto, é visto como mínimo e sem grande efeito, por especialistas. Esta é uma economia com PIB de seis trilhões de dólares. Espectadores estrangeiros foram banidos e os planejadores publicaram um elaborado manual de regras no mês passado com o objetivo de prevenir infecções por coronavírus.
O comitê organizador, no entanto, será afetado. As vendas de ingressos são a terceira maior fonte de receita, quase US$ 800 milhões que terão que ser reembolsados, eles vão perder uma grande parte disso em reembolsos. A decisão sobre a presença de torcedores, ainda indefinida, afeta a capacidade do público se preparar com transporte e hospedagem. Por isso, as decisões têm que ser tomadas com antecedência.
O peso financeiro da venda de ingressos perdidos recai sobre o Japão. No geral, o Japão está gastando oficialmente US$ 15,4 bilhões para organizar as Olimpíadas. Várias auditorias governamentais afirmam que o custo real pode ser o dobro. Tudo, exceto US$ 6,7 bilhões, é dinheiro público.
O Japão estendeu o estado de emergência em Tóquio até o final de maio e está lutando para conter um aumento nos casos de covid-19, levantando mais questões sobre se os Jogos devem ocorrer.
Rejeição pública
Mas uma pesquisa de opinião pública, conduzida entre 7 e 9 de maio pelo jornal Yomiuri Shimbun, mostrou que 59% queriam o cancelamento dos Jogos, em comparação com apenas 39% que disseram que deveriam prosseguir. Não houve opção de adiar o evento, que já teve um ano de atraso.
Outra pesquisa conduzida durante o fim de semana pelo TBS News descobriu que 65% queriam os Jogos cancelados ou adiados novamente, com 37% votando para descartar o evento e 28% pedindo outro adiamento.
Mais de 300.000 pessoas assinaram uma petição para cancelar os Jogos em cerca de cinco dias desde o seu lançamento.
Cerca de 100 manifestantes “anti-olímpicos” marcharam ao redor do Estádio Nacional de Tóquio no domingo para mostrar sua oposição ao evento, enquanto um evento-teste acontecia lá dentro.
Os manifestantes expressaram sua raiva contra os organizadores de Tóquio e o COI por levarem adiante os jogos, mesmo com o aumento dos casos de covid-19.
Questionado em uma reunião do comitê parlamentar se os Jogos iriam continuar mesmo se os casos de coronavírus continuassem a aumentar, Suga respondeu: “Nunca coloquei as Olimpíadas em primeiro lugar”.
“Minha prioridade tem sido proteger a vida e a saúde da população japonesa. Devemos primeiro prevenir a propagação do vírus ”, acrescentou.
Ele repetiu que o COI tem a palavra final sobre o destino dos Jogos e que o papel do governo é tomar medidas para que o evento seja realizado com segurança.
O oficial olímpico John Coates disse no sábado que embora o sentimento japonês sobre os Jogos “fosse uma preocupação”, ele não podia prever nenhum cenário em que o evento esportiva não ocorresse.
Pandemia no Japão
Com 126 milhões de habitantes, o país asiático é o 37o. (dentre 222 países) com maior número de doentes, 640.000 casos. É o décimo (de 14) entre os países com mais de cem milhões de habitantes. Também é o 40o. país com maior quantidade de mortes, 10.876 casos.
Em termos proporcionais, no entanto, o Japão é o 139o. país com mais casos por milhão de habitantes e o 131o. com mais óbitos por milhão. Estes últimos índices explicam a falta de preocupação do governo com a vacinação e medidas restritivas. O Japão não teve nenhum período de lockdown, embora essa hipótese se apresente conforme os hospitais de algumas cidades começam a lotar.
A farmacêutica norte-americana Pfizer Inc e a parceira alemã BioNTech SE disseram na quinta-feira que doariam doses de sua nova vacina contra o coronavírus para ajudar a inocular atletas e outros membros das delegações olímpicas. Isto tem sido visto como um privilégio que pessoas idosas no país não tiveram.
Com informações de Agências Internacionais