Bolsonaro é denunciado à PGR por favorecer empresas em negócios com a Índia
O presidente telefonou ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em favor das empresas privadas EMS e Apsen, interessadas em receber insumos para aumentar a produção de cloroquina e de hidroxicloroquina usados no chamado “tratamento precoce” de Covid-19
Publicado 10/06/2021 17:36 | Editado 10/06/2021 18:35
Integrante da CPI da Covid, o senador Rogério Carvalho (PT-SE) ingressou nesta quinta-feira (10) com ação na Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciando Bolsonaro pela prática do “tráfico de influência em transação comercial internacional”. Em abril de 2020, o presidente telefonou ao primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, em favor das empresas privadas EMS e Apsen, interessadas em receber insumos para aumentar a produção de cloroquina e de hidroxicloroquina usados no chamado “tratamento precoce” de Covid-19.
A denúncia do senador é respaldada por documentos obtidos pela CPI que se tornaram públicos pelo O Globo. Há uma transcrição da conversa entre Bolsonaro e o primeiro-ministro, na qual o presidente brasileiro pede ao premiê indiano agilidade na liberação das encomendas feitas pelas empresas.
“Entrarei diretamente no assunto. Embora não haja, por ora, divulgação oficial, temos tido resultados animadores no uso de hidroxicloroquina para o tratamento de pacientes com a COVID-19. Gostaria, por isso, em nome do governo brasileiro, de fazer um apelo ao amigo Narendra Modi para que obtenhamos a liberação de importações de sulfato de hidroxicloroquina feitas por empresas brasileiras”, disse Bolsonaro, segundo transcrição feita pelo Itamaraty.
Para o senador, o documento mostra “o presidente da República interferindo na relação com outro país para favorecer especificamente algumas empresas privadas”. Além disso, “prova o empenho do presidente em usar cloroquina de forma generalizada, como medida de controle sanitário, o que é absolutamente não recomendável porque não tem eficácia comprovada”.
“O Globo apresentou provas graves de que ele agiu com tráfico de influência para favorecer empresas, enganar o Brasil com a cloroquina, ignorar a vacina e promover imunidade de rebanho, com contaminação dos brasileiros ao vírus (…) O governo deixa suas digitais na aquisição da matéria-prima para produção da hidroxicloroquina e da cloroquina no Brasil”, diz Rogério.
Carvalho afirmou que “o governo não foi só negacionista, mas trabalhou para produzir a expansão da pandemia e o principal instrumento foi a cloroquina” para garantir a imunidade de rebanho por contágio. “E a gente vê agora quase 500 mil mortos, em função principalmente de medidas desprovidas de amparo científico”, concluiu.
Corrupção
No domingo (6), em entrevista a TVT, o vice-presidente da CPI, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), diz que os fatos envolvendo o presidente são ainda mais graves. No seu entendimento, Bolsonaro agiu nas transações com a Índia motivado “por dinheiro”. “Esse negócio que a hidroxicloroquina era isso, era aquilo, negativo! Era dinheiro. Vou ser mais claro: corrupção, passando a mão, esquema! Advocacia administrativa. Nós temos provas disso na CPI”, afirmou.
Randolfe não tem dúvidas sore a prática de crime. “As provas são claras: o governo praticou advocacia administrativa, em outras palavras: lobby! Isso é crime de acordo com o Artigo 321 do CP (Código Penal).
Ele diz que enquanto foram ignorados os 81 e-mails da Pfizer oferecendo vacina, o governo negociava remédios sem eficácia para a população.