Legado de Salles no Ministério é um “rastro de destruição”

O professor da Universidade Federal do Amazonas, Eron Bezerra, analisa o impacto da gestão bolsonarista no Ministério do Meio Ambiente.

Nesta quarta-feira (14), entrou no ar a entrevista do portal Vermelho com Eron Bezerra, professor de Meteorologia e Climatologia na UFAM e Diretor do Centro Ciências do Ambiente (CCA), sobre o legado da administração de Ricardo Salles no Ministério do Meio Ambiente, que ele considera um “rastro de destruição”.

Após dois anos e meio de gestão com Bolsonaro, o ministro pediu demissão para não correr o risco de ser preso no cargo e desgastar ainda mais o governo. Salles é investigado por suspeita de facilitar trafico de madeira ilegal para os EUA, numa operação denunciada pelos americanos. Para o especialista, sai apenas mais um “peão” do xadrez, mas fica o “rei” que o substitui por peças menos barulhentas e, potencialmente, mais eficazes e perigosas.

Considerado pelos ambientalistas como “antiministro” do meio ambiente, sua gestão foi marcada pelo desmonte de todas as estruturas de controle e fiscalização de infrações ambientais. Embora o Brasil seja signatário de compromissos ambientais internacionais, Bezerra destaca que o ministro agiu na contramão de todos eles. Para Bezerra, a vantagem de Salles é como ele deixa claro que está fazendo, permitindo que se saiba contra o que lutar, enquanto ministros mais discretos acabam deixando a oposição no escuro.

Avalia-se que este seria o motivo da explosão de queimadas e invasões a terras indígenas para mineração. Em sua entrevista, Bezerra rompe com a polarização ao mostrar que é possível pensar a gestão do meio ambiente fora dos parâmetros santuaristas, defendidos por ambientalistas radicais, ou da completa desregulação defendida por produtivistas, empresários do agronegócio ou da mineração que são favoráveis a extração sem controle dos recursos naturais. O ponto de vista sustentabilista é contra o congelamento da natureza, partindo da percepção de que é possível explorar os recursos de forma sustentável para que a população local usufrua dela, desde que devidamente regulada para não ser uma exploração predatória. 

Bezerra denuncia o modo como a concepção santuarista das multas e repressão policial é utilizada por Bolsonaro para dialogar de forma demagógica e populista com a população amazônida para implementar seu projeto produtivista que, em nada, vai beneficiar essas pessoas. Para ele, é preciso encontrar um meio termo sustentabilista nesta política de regulação e controle, que não perpetue os exageros frequentes contra povos ribeirinhos que não estão longe de ter condições de pagar multas de R$ 50 mil, por exemplo. “Nem tanto ao céu nem tanto ao mar. Isso cria um ambiente de antagonismo entre o produtor e os órgãos ambientais, e faz com que aplaudam que Bolsonaro e Salles aproveitem a pandemia para passar a boiada”, diz o professor.

Assista a integra da entrevista na TV Vermelho:

Autor