Morre em Portugal, aos 84 anos, o estratégista da Revolução dos Cravos

O tenente-coronel Otelo Saraiva de Carvalho comandou a operação anti-golpe salazarista na madrugada do dia 25 de abril de 1974

(Foto: RFI)

Responsável pelo plano militar que derrubou a ditadura de 41 anos de António Salazar, o tenente-coronel Otelo Saraiva de Carvalho morreu neste domingo (25) em Portugal. A Revolução dos Cravos, como ficou conhecida a operação anti-golpe salazarista, foi realizada madrugada do dia 25 de abril de 1974. O militar chegou a ser candidato a presidente daquele país, mas não se elegeu.

Ele comandou a derrubada da ditadura de Salazar dentro Movimento das Forças Armadas (MFA), uma organização militar de esquerda que há 47 anos derrubou a ditadura do Estado Novo no país. Toda a ação militar foi comandada por Óscar, codinome dele, a partir do posto de comando instalado no Quartel da Pontinha, em Lisboa.

A atuação das Forças Armadas portuguesas contra os movimentos de independência em suas possessões na África seria uma das grandes motivações do chamando “movimento dos capitães”, embrião do MFA, contra a ditadura comandada por Salazar.

Otelo Saraiva foi candidato à Presidência em 1976, quando obteve mais de 16% dos votos, e em 1980, quando teve uma votação irrisória, abaixo de 1,5%. Na década de 1980, seu nome surge associado às Forças Populares 25 de Abril (FP-25), organização armada de extrema esquerda responsável por vários atentados e mortes.1975 foi afastado de todos os cargos, principalmente do comando efetivo do COPCON. Depois foi anistiado pelo parlamento.

Em comunicado, o primeiro-ministro Antônio Costa, do Partido Socialista, lamentou a morte, afirmando que “a capacidade estratégica e operacional de Otelo Saraiva de Carvalho e a sua dedicação e generosidade foram decisivas para o sucesso, sem derramamento de sangue, da Revolução dos Cravos”. Isso, prossegue a nota, o levou a tornar-se, “a justo título, um dos símbolos” do movimento que pôs fim à mais longa ditadura do século XX na Europa.

Trajetória

Foto de Alfredo Cunha, Lusa

Nascido em 1936, em Maputo (então Lourenço Marques), Moçambique, Otelo Saraiva de Carvalho foi alferes e capitão em Angola, entre 1961 a 1963, e entre 1965 a 1967, respetivamente. Foi ainda capitão na Guiné entre 1970 e 1973.

Participou ativamente no movimento de contestação ao Dec. Lei nº 353/73, que visava responder à escassez de capitães dos quadros permanentes, e que veio a funcionar como um verdadeiro catalisador do Movimento dos Capitães e do Movimento das Forças Armadas.

Otelo foi responsável pelo setor operacional da Comissão Coordenadora do MFA, desenhando as operações militares que acabaram com o cerco ao Largo do Carmo, em Lisboa. As operações foram dirigidas a partir do posto de comando clandestino instalado no Quartel da Pontinha.

A 13 de julho de 1975, foi nomeado Comandante do COPCON e Comandante da região militar de Lisboa. Integrou o Conselho da Revolução, criado a 14 de março de 1975. Em maio do mesmo ano, integrou, a par de Costa Gomes e Vasco Gonçalves, o Diretório, uma estrutura política de cúpula durante o IV e V Governos Provisórios.

Foi preso na sequência do golpe contra-revolucionário de 25 de novembro, sendo solto três meses mais tarde.

Eleições presidenciais de 1976, sede do MES. Imagem do arquivo Ephemera.

Candidatou-se às eleições presidenciais de 1976 e 1980. Em 1985 foi preso no âmbito do caso FP-25. Foi libertado cinco anos mais tarde, aguardando julgamento em liberdade provisória. Em 1996, os presos do Caso FP-25 foram amnistiados pela Assembleia da República.

28 de outubro de 1980 – Otelo entrega documentos da sua candidatura presidencial. Foto de Luís Vasconcelos, Lusa.

“Um dos libertadores do nosso país”

Catarina Martins, coordenadora nacional do Bloco, evoca Otelo Saraiva de Carvalho como “um dos obreiros do 25 de Abril, reconhecido estratega do golpe que nos devolveu a Liberdade”.

A dirigente bloquista destaca que Otelo merece “ser lembrado como um dos libertadores do nosso país”.

Com informações de O Globo e O Esquerda.net 

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