Mortes por covid-19 de pessoas vacinadas são raras, diz especialista

Médicos defendem eficácia de todas as vacinas disponíveis e a necessidade de acelerar a imunização para que pessoas como o ator Tarcísio Meira fiquem menos expostas ao vírus e suas variantes.

As chances de recuperação da covid para quem tomou as duas doses da vacina são maiores até mesmo para pessoas muito idosas. Fotos: Andréa Rêgo Barros/PCR

Deflagrou-se nova onda de desinformação nas redes sociais com a morte do ator Tarcísio Meira, na última quinta-feira (12), por complicações da covid-19. Como ele já estava completamente vacinado pela Coronavac, desde abril, a eficácia da vacinação para controlar a pandemia voltou a ser questionada.

No entanto, pesquisas e especialistas de todo o mundo são taxativos na defesa da imunização em massa. Segundo eles, nenhuma vacina tem 100% de garantias, ainda que as taxas sejam próximas disso. A maior prova disso são as pesquisas que mostram a queda de contágios, internações e óbitos conforme a vacinação avança. As pesquisas também observam que os poucos casos de óbitos entre imunizados é de pessoas muito idosas e/ou com comorbidades que agravam as consequências da covid.

Mas é preciso insistir que a vacinação é mais eficiente quanto mais coletiva. Quanto maior a população vacinada, menos chance do vírus circular e contagiar pessoas como o ator de 85 anos. Como o Brasil teve uma vacinação tardia, lenta e tumultuada, tendo alcançado apenas 20% da população em seis meses, as pessoas continuam muito expostas ao vírus, enquanto as variantes têm mais tempo para evoluírem ainda mais contagiosas.

“Nenhuma vacina disponível no Brasil, a da Pfizer, a Janssen, AstraZeneca ou a CoronaVac asseguram 100% de proteção. As pessoas continuam precisando de cuidados, como uso de máscara e distanciamento social. Mas a efetividade das vacinas é indiscutível. Basta ver que nos países com vacinação avançada, como Israel e Inglaterra, mesmo com aumento de casos por causa da variante Delta, o número de internações e mortes são proporcionalmente muito menores, resultado direto da imunização”, diz a médica Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

Um estudo recente da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade Estadual Paulista (Unesp) avaliou o efeito das vacinas contra o novo coronavírus na população brasileira e concluiu que 91,49% das pessoas que morreram pela infecção, entre maio e julho deste ano, não tinham tomado vacina ou não estavam totalmente vacinadas com as duas doses ou dose única, no caso do imunizante da Janssen.

A mesma pesquisa demonstrou que 84,9% das pessoas imunizadas que morreram no país tinham algum fator de risco para a covid-19 e 87,6% tinham 70 anos ou mais. A incidência de agravamento de quadros em pessoas idosas, mesmo que vacinadas, tem uma explicação biológica. A imunossenescência é o processo de envelhecimento e desregulação da função imunológica no organismos de idosos, o que contribui para o aumento da suscetibilidade a infecções por vírus e bactérias, além do desenvolvimento de doenças como o câncer e a redução da resposta vacinal imunológica.

“Nos idosos a partir dos 60 anos, há o que a gente chama de imunossenescência. O nosso organismo, fisiologicamente, perde a capacidade, ante a exposição de um antígeno, seja a doença ou a vacina, de gerar resposta imunológica adequada”, explica a médica Lorena de Castro Diniz, coordenadora do Departamento Científico de Imunização da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (Asbai). “Além da imunossenescência, é muito raro um idoso acima dos 60 anos não ter uma comorbidade, como cardiopatia ou diabetes. Então, com esses dois aspectos, aumentam as chances de evoluir gravemente frente ao vírus da covid”, acrescenta.

Mesmo com maior suscetibilidade à eficácia das vacinas, a imunização de idosos é crucial para protegê-los. Lorena Diniz faz uma analogia com a guerra para explicar como as vacinas colaboram nessa estratégia. “Se a gente estiver numa guerra, com homens treinados, a chance de a gente ganhar é muito maior do que chamar pessoas da reserva que não foram treinadas para vencer o combate”. 

Para ganhar essa guerra, no entanto, a cobertura vacinal na maior parte da população é fundamental. “A vacina em si é somente um produto. A estratégia mesmo é a vacinação. Vacina sem vacinação não adianta nada. Não adianta apenas você se vacinar, as outras pessoas também precisam disso para gerar proteção coletiva”, ressalta Isabella Ballalai.

A médica lembra, por exemplo, o caso do vírus do sarampo. A doença que foi considerada erradicada no Brasil em 2016, com direito a certificação pela Organização Mundial da Saúde (OMS), voltou a atingir a população em 2019, revertendo esse status. O motivo foi a vacinação abaixo do esperado. 

Fake news

As alegações antivacinais chegam ao ponto de afirmar que a taxa de mortalidade entre pessoas vacinadas com covid-19 é mais alta em comparação com a população não vacinada.

As pesquisas conduzidas pelos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA e Israel com imunizantes da Pfizer e Moderna mostram, no entanto, que adultos totalmente vacinados com 65 anos ou mais têm 94% menos probabilidade de serem hospitalizados com covid-19 do que não vacinados da mesma idade – e 64% menos probabilidade se eles receberam apenas uma dose da vacina de mRNA.

Vários estados dos EUA relataram casos de infecção por covid-19 entre pessoas totalmente vacinadas, também conhecidas como infecções revolucionárias de vacinas. Com isso, um usuário de rede social fez uma comparação inadequada ao mostrar dados oficiais de abril de que “7.157 americanos totalmente vacinados contraíram covid-19, 88 morreram”.

Mas especialistas em saúde pública dizem que calcular uma taxa de mortalidade a partir desses números e compará-la com a da população em geral é enganoso, pois os dados não refletem o total de casos de covid-19 positivos entre indivíduos vacinados. “Não sabemos disso porque não estamos testando todos (os vacinados)”, explicou Lisa Miller, epidemiologista e professora clínica da Escola de Saúde Pública do Colorado.

Sem um número verdadeiro de casos assintomáticos e leves, este instantâneo é desviado para casos graves de covid-19, disse Kristin Nelson, professora assistente de epidemiologia na Escola de Saúde Pública Rollins da Emory University.

Pessoas infectadas vacinadas com sintomas graves têm maior probabilidade de procurar atendimento médico, serem hospitalizadas ou morrerem. Esses são os casos notados e investigados pelas secretarias estaduais de saúde que mais tarde chegam ao CDC, disseram Nelson e Miller.

É importante observar que o CDC disse que 11 das 88 mortes entre as pessoas infectadas com COVID-19 e totalmente vacinadas eram “assintomáticas ou não relacionadas ao covid-19”.

O número de infecções revolucionárias de vacinas também é bastante pequeno em comparação com os mais de 100 milhões de adultos norte-americanos que foram totalmente vacinados em 30 de abril.

A razão mais óbvia para evitar comparar as taxas de mortalidade vacinada e não vacinada são os tipos de pessoas em cada grupo.

Cada estado priorizou as pessoas em maior risco, portanto, o grupo de pessoas vacinadas está fortemente inclinado para aqueles cuja idade e histórico médico os tornam propensos a casos graves de covid-19 e morte por causa disso. Portanto, quando os casos de ruptura esperados ocorrem, não é surpreendente que ocorram algumas mortes.

Vejamos a idade, por exemplo. 37% das pessoas vacinadas até abril nos EUA estavam na faixa etária acima de 65 anos, embora as pessoas com essa idade sejam apenas 16% da população total. Portanto, os vacinados são um grupo de pessoas predispostas a casos mais graves.

Portanto, qualquer comparação entre os vacinados e não vacinados é fortemente distorcida pelo fato de que o grupo vacinado tem uma proporção muito maior de adultos mais velhos que estão em maior risco, assim como os casos de óbitos.

Com entrevistas da Agência Brasil e do USA Today

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