Bolsonaro espalha fake news na ONU e envergonha Brasil
Foram 12 minutos de mentiras, contradições e retrocessos na Assembleia Geral das Nações Unidas
Publicado 21/09/2021 13:42 | Editado 21/09/2021 21:12
Jair Bolsonaro protagonizou nesta terça-feira (21) um dos capítulos mais vergonhosos para o Brasil na história das ONU (Organização das Nações Unidas). Ao discursar nesta terça-feira (21) na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York (EUA), o presidente espalhou fake news diante de quase duas centenas de chefes de Estado. Foram 12 minutos de mentiras, contradições e retrocessos.
Entre outros pontos, Bolsonaro defendeu o tratamento precoce contra a Covid-19 (cuja ineficácia é comprovada), criticou o passaporte sanitário e disse que o Brasil estava “à beira do socialismo” antes de assumir o governo. “O Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição e seus militares, valoriza a família e deve lealdade a seu povo. Isso é muito, é uma sólida base, se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo”, tergiversou.
Fugindo do tom moderado adotado na carta em que sinalizou um recuo após os atos golpistas de 7 de Setembro, ele citou dados errados de desmatamento, que cresce em seu governo, e fez alegações infundadas sobre o enfrentamento da pandemia. Prometendo mostrar um país diferente “daquilo publicado em jornais ou visto em televisões”, tentou ludibriar a opinião pública ao dizer que seu governo não registra “casos de corrupção” – o que investigações, inclusive de CPIs, mostram ser inverdade.
Em seu estilo predatório, criticou países ricos por questões ambientais, defendeu o agronegócio brasileiro e afirmou que o país recuperou a credibilidade externa, apesar do momento de fuga recorde de investimentos. Ao tratar da pandemia, voltou a defender o “tratamento precoce” contra a Covid-19, o uso de medicamentos com ineficácia comprovada contra o novo coronavírus.
Apesar de tentar mostrar otimismo com dados econômicos na primeira parte de sua fala, Bolsonaro voltou a usar críticas ao combate à pandemia, contrariando orientações científicas. “Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina.”
Ele voltou a dizer que brasileiros foram “obrigados” a ficar em casa por decisão de governadores e, por isso, perderam renda. Mas tentou trazer para si o mérito de ter implantado o auxílio emergencial, aprovado pelo Congresso por iniciativa da oposição. Também se pôs contra o passaporte de vacinação. “Apoiamos a vacinação”, mentiu Bolsonaro. “Contudo o nosso governo tem se posicionado contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada à vacina.”
Ele afirmou, ainda, que nenhum país no mundo possui uma legislação ambiental tão completa quanto a do Brasil e que o Código Florestal em vigor deve servir de exemplo para outras nações – o que nada tem a ver com seu governo. Sua fala apresentou uma série de dados incorretos ao falar do desmatamento na Amazônia.
Ele declarou, por exemplo, que houve redução de 32% no desmatamento na Amazônia em relação ao ano passado. Dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD) do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), no entanto, mostram que em agosto o desmatamento atingiu 1.606 km² da Amazônia – área equivalente a cinco vezes o tamanho do município de Belo Horizonte (MG) e o maior índice para o mês em dez anos.
Os números do discurso de Bolsonaro são questionados pela comparação feita. Segundo a série histórica do sistema Deter do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), os dois primeiros anos do presidente no Planalto registraram os dois piores ciclos de desmatamento na Amazônia.
Bolsonaro afirmou que uma área equivalente a Alemanha e França juntas é destinada às reservas indígenas, onde, segundo ele, mais de 600 mil indígenas vivem em liberdade e “cada vez mais desejam usar suas terras para a agricultura e outras atividades”. Omitiu, porém, que os povos indígenas então entre os segmentos mais críticos à sua gestão.
Ao concluir, ele encerrou falando das manifestações do último 7 de setembro, marcada por posicionamentos antidemocráticos. “No último 7 de setembro, data de nossa Independência, milhões de brasileiros, de forma pacífica e patriótica, foram às ruas, na maior manifestação de nossa história, mostrar que não abrem mão da democracia, das liberdades individuais e de apoio ao nosso governo”. Os atos, na realidade, ampliaram o isolamento de Bolsonaro e reacenderam o debate sobre o impeachment.
Antes do discurso, Bolsonaro se destacou por mais um vexame: ele é um dos únicos líderes mundiais que ainda não tomou vacina. Enquanto isso, o Brasil se aproxima da marca de 600 mil mortes por Covid-19, e o relatório de uma CPI sobre o tema deve responsabilizar Bolsonaro diretamente pelo genocídio.
Com informações do O Globo