“O Brasil perdeu alguns anos com o Governo Bolsonaro”, diz Welber Barral

Conselheiro e sócio-fundador da BMJ Consultores Associados diz que país não recuperou o nível de investimentos de 2019 por conta do cenário político. Para o especialista em setor externo, que foi secretário de Comércio Exterior durante o Governo Lula, ambiente interno deteriorado também está agravando a queda na produção industrial.

O clima de incerteza política no Brasil está afastando do país os investidores. A opinião é do Conselheiro e sócio-fundador da BMJ Consultores Associados Welber Barral, que foi secretário de Comércio Exterior durante o Governo Lula. “O Brasil tem um problema estrutural, é um país de baixa poupança, precisa do investimento estrangeiro. Por conta do cenário político, o país não retomou o nível de investimento de 2019”, afirma o especialista em setor externo, que atribui a falta de investimentos à má condução da economia pelo governo atual.

“Bolsonaro não foi eleito sobre uma base parlamentar sólida e seu governo é formado por pessoas sem experiência de gestão pública. O Brasil acabou perdendo alguns anos”, considera Barral, que não vê um horizonte favorável na gestão econômica. “Das 20 prioridades que Paulo Guedes estabeleceu para a economia, só passou a autonomia do Banco Central. E estamos chegando ao final do governo”, recorda.

Os investimentos diretos estrangeiros na economia brasileira somaram US$ 36,245 bilhões nos oito primeiros meses de 2021. Em igual período de 2019, antes da pandemia, houve a entrada de US$ 43,881 bilhões no Brasil. O ex-secretário de Comércio Exterior explica que, embora a queda acentuada na atividade econômica do país no início da pandemia tenha se seguido de uma relativamente rápida recuperação por conta do auxílio emergencial, o ambiente político impede uma retomada consistente da economia e afugente os investidores.

“Os 5% de alta do PIB (Produto Interno Bruto) que o país deve ter esse ano são, na verdade, somente uma recuperação da queda do ano passado. E, para 2022, sem investimentos, a expectativa não é das melhores, está em até 1%”, afirma. Enquanto isso, a produção industrial divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou em agosto a terceira queda consecutiva, acumulando uma retração de 2,3% no período, segundo a Pesquisa Industrial Mensal (PMI).

Barral considera que, no atual ambiente de incertezas, a indústria brasileira, que já enfrenta muitos problemas estruturais, tributários e de logística, não terá fôlego para se recuperar. “Começou a haver falta de matéria-prima, como aço e plástico; a inflação subiu; e era esperada uma recuperação do varejo, que iria ajudar a manter a produção industrial, mas não aconteceu. Com a crise imobiliária e de energia na China, o crescimento europeu e a recuperação dos Estados Unidos acima do esperado e fazendo o preço do frete industrial disparar, o Brasil não consegue manter o crescimento que se esperava”, acrescenta.