Mãe não morre nunca

Com que palavras Drummond expressaria as perdas, ausências e partidas nesse Finados de 2021?

Montagem por Cezar Xavier

O poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade foi o grande homenageado do Festival Internacional de Itabira – sua terra natal – realizado entre os dias 27 e 31 do último mês. Drummond escreveu sobre a vida, a morte, encontros e partidas. No seu poema “Para Sempre”, o poeta questiona: Por que Deus permite que as mães vão-se embora?

Fosse eu Rei do Mundo,

baixava uma lei:

Mãe não morre nunca,

Mãe ficará sempre

Junto de seu filho

E ele, velho embora, será pequenino

Feito grão de milho.

Carlos Drummond de Andrade nasceu no dia 31 de outubro de 1902 e morreu no Rio de Janeiro, aos 85 anos, vítima de um infarto. A sua morte aconteceu 12 dias após o falecimento da sua filha, Maria Julieta Drummond de Andrade, acometida por um câncer.

No poema “Ausência”, Drummond escreveu:

Por muito tempo achei que a ausência é falta.

E lastimava, ignorante, a falta.

Hoje não a lastimo.

Não há falta na ausência.

A ausência é um estar em mim.

E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,

que rio e danço e invento exclamações alegres,

porque a ausência, essa ausência assimilada,

ninguém a rouba mais de mim.

Nascido em Minas e um apaixonado pelo Rio de Janeiro, para aonde se mudara em 1934, Drummond escreveu a história da sua vida na capital fluminense.

O reconhecimento veio anos mais tarde, com a instalação de uma estátua em sua homenagem na praia de Copacabana, local onde costumava passar horas contemplando o mar.

No poema “Canção Final”, Drummond registrou:

Oh! se te amei, e quanto!

Mas não foi tanto assim.

Até os deuses claudicam

em rugas de aritmética.

Meço o passado com régua

de exagerar as distâncias.

Tudo tão triste, e o mais triste

é não ter tristeza alguma.

É não venerar os códigos

de acasalar e sofrer.

É viver tempo de sobra

sem que me sobre miragem.

Agora vou-me. Ou me vão?

Ou é vão ir ou não ir?

Oh! se te amei, e quanto,

quer dizer, nem tanto assim.

Hoje, neste Dia de Finados, o país vive um luto coletivo. O número de mortos pela pandemia já alcança quase 610 mil brasileiros. Muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas, se não fosse a condução errática e criminosa do governo Federal.

Os meus sentimentos a todos que perderam amigos e parentes para a pandemia.

No poema “No Meio do Caminho”, Drummond escreveu:

No meio do caminho tinha uma pedra

tinha uma pedra no meio do caminho

tinha uma pedra

no meio do caminho tinha uma pedra.

Nunca me esquecerei desse acontecimento

na vida de minhas retinas tão fatigadas.

Nunca me esquecerei que no meio do caminho

tinha uma pedra.

tinha uma pedra no meio do caminho

no meio do caminho tinha uma pedra.

Que nas eleições de 2022, o Brasil possa tirar todas as suas pedras do caminho para seguir em frente.

Anderson Pereira é jornalista

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