Bolsonaro se ausenta da COP26 por constrangimento de “engolir sapo”

De acordo com Glauco Arbix, a estratégia utilizada foi a de não aumentar o mau humor internacional contra o Brasil, uma vez que o país está marginalizado e na periferia do mundo, sendo obrigado a assinar acordos que nem imaginava.

O professor de Sociologia da USP, Glauco Arbix comentou o fato de o presidente Jair Bolsonaro não ter marcado presença na COP26, realizada em Glasgow, perdendo, com isso, a oportunidade de participar da reunião mundial sobre meio ambiente e demarcar um papel do Brasil no combate à mudança climática.

“Talvez porque não tenha muito o que falar e queira também fugir das perguntas incômodas de jornalistas, dos governantes, dos presidentes que estavam lá”, argumenta ele. Joe Biden, Angela Merkel e Emmanuel Macron estavam lá.

Para Arbix, o Brasil “vive hoje uma situação absolutamente constrangedora, com desmatamentos, com o avanço da mineração de madeireiros sobre as nossas florestas; não há fiscalização, os órgãos de controle e fiscalização foram desmobilizados pelo atual governo. A situação não é boa nem para o Brasil, nem para o mundo”.

A estratégia adotada pelos representantes brasileiros presentes ao encontro, como o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, diz Arbix, foi a de não aumentar o mau humor internacional contra o Brasil, uma vez que o país está marginalizado e se encontra atualmente na periferia do mundo. “Um lugar que nós não merecemos, exatamente por conta de uma atuação errática do governo, não somente na área ambiental, mas também aqui, por conta da pandemia e da economia”.

Com tudo isso, na COP26, o Brasil foi obrigado a sustentar e aderir aos acordos para zerar o desmatamento e reduzir em 30% as emissões de metano até 2030, “um objetivo que nunca foi do Brasil”, mas que foi obrigado a assinar.  “O Brasil engoliu a seco, engoliu um sapão, do ponto de vista do governo”.

De todo modo, se o Brasil o cumprisse, com metas e metodologia, seria um alvo bastante interessante. “Uma pena que não é, é apenas um registro a mais no papel e uma promessa que certamente não será cumprida, se não continuarmos do que jeito que está”.

Ediç˜ão de entrevista à Rádio USP

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