Carbon Free

Este interessante artigo, de Manuel Gouveia, publicado nesta quinta-feira (25) no Avante!, órgão central do Partido Comunista Português (PCP), mostra, de forma leve e irônica, como a questão do meio-ambiente, vital para a sobrevivência da humanidade, pode ser manipulada em favor de outros interesses. O autor comenta uma manifestação que exigiu o fechamento da refinaria de Sines. A última do país. Vale a leitura.

No dia 18, um grupo de manifestantes dirigiu-se a Sines para exigir que em Portugal fosse encerrada a última refinaria nacional.

Deslocaram-se em automóveis “carbon free” (1), o que de imediato levanta a questão: será que eram automóveis elétricos? Movidos a hidrogênio? Não! Eram automóveis a gasolina mas a multinacional que os explora “compensa” as emissões de carbono: diz que planta árvores no Gabão, ou que apoia a compra de fogões termoelétricos em Burkina Fasso, ou qualquer coisa do gênero. Tudo muito moderno e ainda mais “free”.

Não precisamos de refinaria, reivindica esta malta, porque podemos importar os produtos refinados de outras refinarias estrangeiras, e podemos continuar a andar de automóveis a gasolina, basta comprar o direito a poluir no mercado respectivo. A mesma malta que saúda o encerramento da Refinaria de Matosinhos, da Central Elétrica de Sines e da Central Elétrica do Pego. Que importa que quando a capacidade de produção nacional de eletricidade não é suficiente tenhamos de a importar das Centrais a Carvão, a Gás ou nucleares de outros países? Estamos no pelotão da frente da descarbonização, diz o Ministro do Ambiente, e há quem acredite, claro, e quem aplauda até.

Mas se estivessemos de fato no pelotão de frente da descarbonização os manifestantes teriam ido até à Refinaria em comboios elétricos. E em vez de estarmos a desindustrializar – política desde sempre apoiada pelo neocolonialismo europeu – e de andar a reboque dos diferentes mercados e seus instrumentos especulativos destinados à concentração da riqueza, teríamos uma política nacional ambientalmente sustentável na defesa da floresta, nos transportes coletivos, na produção de energia, no urbanismo, e em tantos outros domínios. Uma política patriótica e de esquerda, diriam os caretas dos comunistas.

1 – O mecanismo permite que uma empresa poluidora adquira créditos de carbono de países que poluem menos e registre como percentual de redução de suas emissões. Uma espécie de licença para poluir. (Nota da Redação).

Fonte: Avante!