Apagões logísticos dificultam vacinação igualitária em todo o país

Gonzalo Vecina insiste que as pessoas evitem aglomerações, mantenham as máscaras em ambientes fechados e lotados e busquem se vacinar e garantir que as crianças em idade escolar se imunizem.

Estádio Orlando Scarpelli, em Florianópolis, registra aglomeração durante evento sertanejo — Foto: Caio Graça/Divulgação

“Ainda não é o momento para tirar as máscaras e manter encontros”. A afirmação é de Gonzalo Vecina Neto ao analisar a cobertura vacinal no País, que, em sua opinião, ainda está longe do ideal, já que a realidade em São Paulo não é a mesma de outros Estados da União.

Professor Gonzalo Vecina Neto – Foto: Reprodução

A vacinação contra o novo coronavírus avança de forma positiva no Brasil, mas o fato é que os números que são registrados no Estado de São Paulo, por exemplo, não são os mesmos de outras regiões do País, que enfrentam problemas logísticos para conseguir imunizar a população. É o que acontece em pelo menos oito Estados, parte deles na região Norte, onde a vacinação está abaixo dos 50%. 

O professor Gonzalo Vecina Neto, médico sanitarista do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP, diz que a questão não são as vacinas, mas a dificuldade em fazer a imunização. A questão da logística não é exclusiva do Brasil, mas de diversos países no planeta. O mundo também enfrenta “apagões” nesse sentido, como o Haiti, que tem apenas 2% de vacinados, apesar de a vacina já ter sido aplicada em 8 bilhões de pessoas no mundo, o que cobre um pouco menos de metade da população da terra.

Professor Esper Kallás – Foto: Reprodução

Recente relatório divulgado pelo professor Esper Kallás, da Faculdade de Medicina da USP, faz um balanço da atual situação das vacinas no mundo. O professor Gonzalo Vecina diz que “tem vacina que não acaba mais”. Existem 8 vacinas aprovadas, 15 para uso emergencial, pelo menos 105 vacinas em testes clínicos e outras 194 em fase de desenvolvimento laboratorial, diz o estudo. Ele explica que o Incor também desenvolve uma vacina contra a covid-19 já em estágio avançado com a produção de imunoglobulina A, que é um modelo diferente e interessante de vacina. 

Além disso, a Pfizer já foi aprovada para uso em crianças acima de 5 anos, enquanto a Coronavac foi aprovada no Chile, China e Colômbia para crianças acima de 3 anos.

Vacinas com prazo de validade maior

A professora Ester Sabino,  pesquisadora do Departamento de Moléstias Infecciosas da Faculdade de Medicina da USP, imunologista que participou do sequenciamento do novo coronavírus no Brasil, complementa que “a busca por vacinas mais baratas e com prazo de validade maior são o alvo  dos cientistas neste momento”. Segundo ela, a necessidade do reforço continua enquanto essa vacina não surge.

Para além do problema logístico, existe uma resistência de parcelas da população à vacina. “A maioria das pessoas que estão adoecendo e morrendo de Sars-Cov são pessoas que não completaram sua vacinação”.

Professora Ester Sabino – Foto: Almir Robson Ferreira/USP Imagens

As dúvidas sobre o futuro das vacinas ainda são muitas. Por isso, os estudos continuam para responder perguntas que estão sem respostas, como a vacinação de grávidas e a validade desses imunizantes. 

“Ainda temos muito que aprender”, diz Vecina. Ele se refere às populações de baixa faixa etária, grávidas e pacientes com comorbidades que ainda precisam ter estudos mais aprofundados. Por outro lado, parece que o prazo de validade da vacina se restringe a seis meses. “Não existe mais vacina de dose única”.

Encontros sem máscara e aglomerações são uma receita simples para a disseminação de vírus, junto com baixas taxas de vacinação. Países avançados como a Alemanha não conseguiram alcançar os 80% de imunizados, enquanto outros países do leste europeu vão de 30% a 50%. Com isso, o vírus continua circulando e evoluindo para variantes mais contagiosas.

O professor Gonzalo Vecina alerta que “ainda não é o momento para tirar as máscaras e manter encontros e aglomerações sem controle. Uma cobertura vacinal alta é de 80% e ainda estamos longe disso. É preciso também vacinar nossas crianças a partir dos cinco anos, que estão indo à escola e trazendo material biológico para casa”, finaliza.

Edição de entrevista à Rádio USP

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