As frustrações de Joe Biden em seu primeiro ano de mandato

Para muitos analistas, os democratas podem sair derrotados das eleições deste ano e o governo Biden se tornar um “pato manco” depois do fracasso eleitoral de seu partido

Presidente dos EUA, Joe Biden I Foto: IC

Um ano atrás, quando Joe Biden tomou posse como novo presidente dos EUA, muitos estadunidenses e aliados, até os países “competidores” ou “rivais” sob olhos dos políticos estadunidenses como a China e a Rússia, esperavam que sua gestão pudesse corrigir os problemas que seu antecessor, Donald Trump, deixou para os EUA e para o mundo. 

No entanto, muitos deles descobriram que o governo Biden é igualmente decepcionante.   

Biden não é uma liderança jovem e enérgica, tem uma imagem velha e lenta, e, aparentemente, sua experiência política o ajudou muito a superar desafios, mas, apesar de querer corrigir alguns erros em campos como o combate à pandemia da Covid-19, o problema sistêmico da democracia estadunidense – a interminável disputa entre partidos – o impediu de fazer mudanças significativas. Uma reforma política efetiva que corrija este problema sistêmico é quase uma “missão impossível”, segundo especialistas.

No campo das relações internacionais, Biden realizou algumas mudanças como o retorno ao Acordo de Paris e, em alguma medida, fortaleceu os laços com aliados dos EUA. No entanto, a brusca saída do Afeganistão danificou seriamente a imagem e credibilidade dos EUA, especialmente entre países que contavam com a sua proteção, conforme apontam análises. Segundo elas, as tensões dos Estados Unidos com a China e a Rússia se tornam ainda mais intensas com as questões da Ucrânia e de Taiwan.

Para que se cure a doença dos EUA, não é suficiente que se troque presidentes, é necessário uma profunda reforma política. Para muitos analistas, os democratas podem sair derrotados das eleições deste ano e o governo Biden se tornar um “pato manco” depois do fracasso eleitoral de seu partido, o que tornaria as relações entre China e EUA ainda mais incertas e complicadas. 

Problema sistêmico

Nos assuntos domésticos, Biden tem algumas conquistas, como a aprovação do pacote de 1,9 trilhão de dólares para os danos causados pela pandemia e um pacote bipartidário destinado a infraestrutura de 1,2 trilhão de dólares. Novos desafios, no entanto, fazem sombra sobre estes feitos. Talvez o mais significante deles seja o combate à pandemia de covid-19, que mostra sinais de que ainda estará presente no cotidiano estadunidense por algum tempo, como reporta a ABC News. 

O primeiro ano de Biden tem aprovação de 48,9%, segundo a Gallup, ficando atrás de outros presidentes dos EUA, mas pontuando melhor que Trump.

A principal razão para este desempenho é a crise generalizada que os EUA enfrentam. Ainda que Biden queira fazer algo, os Republicanos o deixarão de mão atadas, é o que explica à Global Times Li Haidong, professor no Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Relações Internacionais da China.

Foto: Michael Nagle/Xinhua

Além disso, a economia estadunidense é frágil para as ambições de Biden. O empobrecimento da classe média e os insuperáveis problemas de desigualdade social não são questões que Biden conseguiria superar.

Os estadunidenses se sentem pior em relação à pandemia e à economia do que no início do mandato de Biden, o que tem sido prejudicial para seu índice de aprovação. Não apenas culpam as políticas implementadas por ele, como cobram uma maior atenção ao risco de inflação, segundo reportagem da CBS News.

Inflação é como “matar a sede com veneno” e toda a economia estadunidense está se apoiando na flexibilização da política monetária durante a pandemia, o que pode ocasionar em um novo problema, segundo analistas. 

Na gestão da pandemia, “o controle e a prevenção epidêmica tem sido politizada nos EUA”, disse Diao Damin, professor da Renmin University of China. Segundo ele, tanto Trump como Biden se debateram em problemas similares durante seus mandatos, sendo “a lógica de prevenção epidêmica ainda guiada por questões políticas em detrimento das recomendações científicas”.

“Por exemplo, a situação epidêmica continua fora de controle. Com os objetivos de atender à vontade pública e servir a demandas políticas, ao invés de priorizar vidas e a saúde pública, Biden decidiu reabrir as fronteiras dos EUA em setembro de 2021, o que causou um grande aumento nos casos”, explica Diao.

Paralelamente ao combate à pandemia e à recuperação econômica, Biden falha em “curar” ou reunir uma sociedade estadunidense dividida, dizem especialistas. Tanto democratas quanto republicanos se beneficiam ao se apoiar em uma conjuntura dividida e polarizada, enxergando nela uma oportunidade para maximizar seus interesses políticos.

Relações exteriores

A abrupta retirada das tropas estadunidenses do Afeganistão é símbolo da diplomacia falida de Biden, disseram analistas, enquanto os EUA se mostram relutantes em manter sua presença militar nos países por eles ocupados, ao mesmo tempo que não querem ser responsabilizados pelos problemas que criaram nestes países.

Os EUA reforçaram seu sistema de alianças para conter a Rússia e a China. No entanto, o acordo Aukus de submarinos nucleares, firmado entre estadunidenses, australianos e britânicos tem sido motivo de preocupação internacional, uma vez que pode motivar uma corrida nuclear na região, deixando o mundo menos seguro e causando insegurança ainda maior, disseram especialistas. A tensões na Ucrânia causadas pela Otan, liderada pelos EUA, provam que o slogan de Joe Biden “A América está de volta” é “de volta tornando as coisas mais complicadas”.

Em relação às relações China-EUA, estudiosos chineses disseram no fórum do Instituto de Estudos Internacionais da China (CIIS), realizado na quarta feira (19), que ” de acordo com as atividades diplomáticas empreendidas pelo governo Biden em 2021, o novo governo basicamente herdou a política do governo Trump em relação à China. Mas, ao mesmo tempo, China e Estados Unidos estão buscando novos paradigmas de respeito mútuo e trocas baseadas na igualdade”.

Foto: IC

Comunicações intergovernamentais e trocas entre os povos foram restauradas e os laços entre os EUA e a China se recuperaram um pouco, em comparação às relações entre os dois países durante o governo Trump, conforme afirma o site da CIIS.

No entanto, a maior parte dos grandes problemas ainda não encontraram solução, como as sanções injustas contra empresas chinesas e o uso de Taiwan para conter a China, disseram especialistas. Eles asseguraram que depois do encontro entre China e Estados Unidos em Anchorage no Alasca, acontecido no ano passado, a China ganhou maior confiança em moldar um futuro de relações bilaterais a partir de uma atitude mais incisiva.

Depois das eleições

Nas eleições de 2022, os democratas serão influenciados pela performance de Joe Biden. Além disso, há o chamado “efeito pêndulo” nas “midterm elections“, o que significa que, geralmente, o partido pertencente ao presidente recém eleito perde espaço nestas eleições, diz Diao.

Há uma boa chance destas eleições serem extremamente negativas para os democratas, o que joga pressão sobre Biden em seus dois últimos anos de mandato, explica.

Jin Canrong, reitor associado da Escola de Estudos Internacionais da Renmin University of China, diz que se tornar um “pato manco” não é boa notícia para o governo Biden e para as relações China-EUA, pois levaria o presidente estadunidense a tomar uma postura mais agressiva nas relações exteriores e abandonar o pragmatismo com “competidores” internacionais.

Outros especialistas, no entanto, indicam que seria prioridade para Joe Biden deixar um legado diplomático para o resto de seu mandato na questão climática e no combate à pandemia e que, para isso, precisaria da cooperação com a China. O futuro dos laços entre China e Estados Unidos seriam, portanto, complicados e incertos.

Fonte: Global Times