Lula diz que governos paralelos marcam administração de Bolsonaro

Ex-presidente fala sobre o atual governo, sobre Alckmin, combustíveis e Dallagnol em entrevista a rádio de Belo Horizonte

Reprodução

Aloísio Morais

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) disse hoje que a administração do presidente Jair Bolsonaro (PL) é marcada por governos paralelos. Ele se referiu indiretamente ao mais recente escândalo do governo, em que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, estaria privilegiando prefeitos indicados por pastores evangélicos para a distribuição de verbas, obedecendo ordens do presidente.

“Faremos um governo legítimo, não paralelo. Bolsonaro não governa o Brasil. Ele não discute com governador, nem com sindicato. A vacinação é paralela. Agora descobrimos a educação paralela, que é dirigida com fim específico para setores da igreja. Isso demonstra que esse homem não está preparado”, afirmou Lula.

A declaração foi feita na manhã de hoje durante entrevista ao programa “Café com Política” da Rádio Super (91,7 FM), de Belo Horizonte. Em parceria com o jornal O Tempo, a entrevista teve transmissão ao vivo no Facebook e YouTube e no portal do jornal.

Já falando como candidato à presidência da República, Lula adiantou o que deverá fazer nos primeiros dias de volta ao Palácio do Planalto, caso seja eleito: “A primeira coisa que vou fazer é estabelecer plano de trabalho, mais importante do que o que está aí, não perder um dia sequer nos quatro anos de trabalho. Vou a Minas Gerais antes e depois. Se eu ganhar, o clima em Brasília será mais leve”, destacou Lula. 

O ex-presidente observou que a ex-presidente Dilma Rousseff, vítima de impeachment no golpe de 2016, não aceitaria participar de um eventual governo dele. E estendeu a questão a outros antigos integrantes do seu governo, como José Dirceu e José Genoino.

“Nenhum deles aceitaria participar, porque eles sabem da importância que eu tenho de fazer um governo ousado para 2023/2026”, afirmou o ex-presidente. Ao ser questionado sobre o convite de Dilma para integrar a Casa Civil no antigo governo dela para tentar livrá-lo da operação Lava-Jato, Lula disse que recusou pois, em “um mesmo palácio, não caberiam dois presidentes”

“Quando fui convidado pela Dilma, eu disse que em um palácio não cabem dois presidentes. A situação estava muito difícil, o Jacques Wagner e o Rebelo falavam pra eu aceitar, mas eu entendo que não devia participar. Tentei convencer, não queria por conta disso. Em um palácio não cabem dois presidentes, não cabem dois reis. Tenho clareza disso”, disse.

Alckmin

O ex-presidente também falou sobre a aliança com o ex-governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, que se filiou ontem ao PSB: “Uma possível aliança minha com o Alckmin seria uma chapa muito forte, uma chapa para vencer a eleição, uma chapa para mudar esse país”, afirmou Lula. 

“Contradição não é fazer chapa com Alckmin, mas seria se eu fizesse com o PT porque seria soma zero. Lula com PT seriam dois PTs que não acrescentaria nada na expectativa eleitoral. Eu já tive o Zé de Alencar de vice, pessoa que não conhecia, não queria participar da festa de 50 anos dele, mas lá fui convencido. E depois vi que foi a pessoa mais incrível que já conheci, pela ética, a competência, capacidade de persuasão, de entendimento da vida política”, comentou Lula.

“Nós temos que ter os olhos abertos para enxergar e humildade para entender que o Alckmin é hoje aquele que melhor reflete e interpreta o sentimento de esperança do povo brasileiro. Aliás, ele representa a própria democracia, porque ele é fruto da democracia, não chegaria lá, do berço humilde que sempre foi, se não fosse o processo democrático. E por ter conhecido as vicissitudes, é que na realidade interpreta esse sentimento da alma nacional”, destacou Lula.

Combustíveis

Ao abordar a questão dos derivados do petróleo, Lula culpou a política de preços adotada pela Petrobrás pelas altas nos preços dos combustíveis. “O Brasil hoje não consegue refinar toda a gasolina que precisamos porque o governo parou. Destruiu a BR e por isso tem gasolina importada dos Estados Unidos. Importando em dólar e precificando em dólar para nós”, afirmou.

“O Brasil que é autossuficiente, não tem que exportar óleo cru para importar refinado para não ter que pagar em dólar. Além disso, tem etanol, tem diesel e o Brasil pode, efetivamente, fazer a discussão de invocação de combustível para o Brasil. Pode-se usar mais etanol, mais biodiesel. Não temos que pagar preço em dólar. Se ganharmos, vamos abrasileirar os preços de combustíveis”, disse o ex-presidente.

E completou: “O presidente falou que daria murro na mesa. Quem dá murro na mesa é ignorante e não tem argumento. Reúne a Petrobras e o Conselho Nacional Energético e discute as coisas. Desde a luz energética até a gasolina. Acho que ele nem sabe que existe o Conselho, o país está desgovernado. Coitado do motorista, do caminhoneiro, que paga um frete que mal dá para pagar o gasto do pneu, pedágio. Diesel a preço de ouro e no fim do mês não leva nada pra casa”, ressaltou.

Dallagnol

Lula falou também sobre o ex-procurador da Operação Lava Jato que foi condenado a pagar R$ 75 mil de indenização ao ex-presidente por causa do caso conhecido como PowerPoint quando explicou que pediu um valor bem maior.

“O Conselho Nacional do Ministério Público precisa cuidar porque o Deltan Dallagnol não presta serviço para a população brasileira. Na história do powerpoint, eu pedia R$ 1 milhão, e os ministros foram condescendentes e falaram que ele não ganha tanto assim”, disse.

Lula adiantou que pretende abrir novos processos contra outras pessoas e instituições que “falaram mentiras” em torno do nome dele: “Ainda vou abrir outros processos, mas não vou discutir isso em processo eleitoral. As pessoas que mentiram, que fizeram acordo com pessoas em cada jornal e em cada revista para tentar me destruir com mentiras, precisam ser punidas”, disse.

Disputa

Ao se referir ao presidente Jair Bolsonaro, o ex-presidente disse que disputa uma eleição contra quem não gosta da educação, dos negros, das mulheres. Para o petista, o atual presidente só gosta de passear de moto com apoiadores, nas motociatas. 

“Estamos disputando com quem, segundo a imprensa, conta oito mentiras por dia, não gosta de educação, não gosta de negro, dos problemas das mulheres. A única coisa que gosta é de fazer motociata. É um cidadão que nunca visitou parentes de alguém que morreu por conta da Covid”, afirmou Lula.

Falando como candidato, Lula chegou a colocar em dúvida se Bolsonaro conseguirá votos suficientes para disputar o segundo turno das eleições deste ano. “Se o Bolsonaro chegar lá, vamos disputar, se for com outro, vamos disputar com outro. Sempre respeitando a opinião do povo, quando fechar a urna, quem ganhou, tem que governar”, disse o petista.

Ao ser perguntado sobre a polarização na política brasileira, Lula disse não ver problema nisso: “Essa palavra polarização não sei quem foi o gênio que inventou ela como coisa problemática. A polarização existe em qualquer país quando há disputa entre duas pessoas”, ressaltou 

“A polarização entre Atlético e Cruzeiro é muito forte, mesmo com o América crescendo, mas a polarização histórica é entre Atlético e Cruzeiro, Flamengo e Vasco, PT e PSDB, que foi a polarização histórica em 1994, 1998 com FHC, 2002 com Serra, 2006 com Alckmin, 2010, 2016. Acontece que o PSDB teve problemas e ficou um partido fragilizado, muito diferente daquele que conhecemos. É uma polarização política digna, não tinha ódio, não tinha mentiras”, completou o ex-presidente. 

O ex-presidente também falou da relação dele com o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), com quem deve se aliar durante a campanha eleitoral. “O Kalil precisa de mim (para disputar o governo de Minas), eu preciso do Kalil e se nós dois nos juntarmos, faremos uma chapa muito forte em Minas Gerais”, disse.