Militares precisam ser afastados da organização eleitoral, dizem parlamentares

“Bolsonaro assumiu em 2019 e no mesmo ano colocou a ABIN, órgão de Estado, e ministros palacianos para disseminarem mentiras sobre as urnas eletrônicas, através das quais foi eleito”, lembrou Orlando Silva

(Foto: José Cruz/Agência Brasil)

Por meio de ofício do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin, a Justiça Eleitoral deu uma resposta final aos questionamentos feitos pelo Ministério da Defesa a respeito do processo eleitoral. O documento foi contundente no sentido de ressaltar “a jornada de transparência e diálogo” com os militares.

Assim sendo, apresentou esclarecimentos e apontou as medidas que já são adotadas, a fim assegurar eleições íntegras, seguras e transparentes. Basicamente esclareceu três pontos: não há “sala escura” de apuração de votos; os militares erraram o cálculo de erro amostral; e as urnas que elegem os representantes estaduais são as mesmas que elegem o presidente.

“Não há, pois, com o devido respeito, ‘sala escura’ de apuração. Os votos digitados na urna eletrônica são votos automaticamente computados e podem ser contabilizados em qualquer lugar, inclusive, em todos os pontos do Brasil”, diz trecho do documento do TSE.

De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo nesta terça-feira (10), inquérito da Polícia Federal mostra que o general Luiz Eduardo Ramos e a Abin (Agência Brasileira de Inteligência), ligada ao Gabinete de Segurança Institucional chefiado pelo general Augusto Heleno, atuaram na busca de informações contra as urnas eletrônicas desde 2019.

No parlamento, a decisão foi bem recebida e reforça o entendimento de que os militares deveriam se afastar do processo de organização das eleições “Bolsonaro assumiu em 2019 e no mesmo ano colocou a Abin, órgão de Estado, e ministros palacianos para disseminarem mentiras sobre as urnas eletrônicas, através das quais foi eleito. É a obsessão de um vagabundo, que não dedicou um dia a trabalhar pelo país, só contra!”, lembrou o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP).

A deputada Gleisi Hoffmann (PR), presidente nacional do PT, diz que Bolsonaro sabe que não ganha no voto. “Por isso atiça novamente comandantes militares contra TSE e urnas eletrônicas. Cria tumulto para tentar deslegitimar as eleições e a democracia. Não é papel das Forças Armadas tutelar eleições. O TSE deve se dar ao respeito e ser firme sobre isso”, cobrou a parlamentar.

“O governo usou estrutura pública, envolvendo a Abin e generais ligados ao GSI para buscar informações para subsidiar ofensivas golpistas contra o TSE e questionar as urnas eletrônicas! O TSE já contestou os questionamentos dos militares. A sanha golpista de Bolsonaro não vai passar!”, protestou a deputada Fernanda Melchionna (PSOL-RS).

“A melhor contribuição das Forças Armadas para as eleições é afastar-se delas e deixar o TSE trabalhar em paz. Nesse desgoverno, o pessoal de farda só escancarou trapalhadas e incompetência”, afirmou o deputado Nilto Tatto (PT-SP).

Na opinião da senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), as sugestões equivocadas trazidas pelos militares e a rejeição pelo TSE revelam o risco da militarização de atos que devem ficar a cargo de civis. “Veja o estrago de um general no comando da Saúde durante a pandemia. As Forças Armadas têm papel constitucional claro que não é o de comandar eleições”, explicou.

Autor