Intelectuais apoiam o projeto de transição energética na Colômbia

As mudanças propostas pela esquerda colombiana vão permitir a criação de vida digna para indígenas, camponeses, negros e vítimas tanto do conflito armado, como dos megaprojetos energéticos.

Noam Chomsky e Naomi Klein assinam documento em apoio a projeto do candidato Petro para o setor: “vanguarda”. Imagens: Reprodução

“Vanguarda” da luta climática: com essas palavras, um grupo de 27 intelectuais de renome internacional declarou apoio ao projeto de transição energética apresentado pela fórmula presidencial Gustavo Petro e Francia Márquez, do Pacto Histórico.

No dia 19 de maio, o grupo afirmou, por meio de uma carta, que o projeto da esquerda colombiana chamou a atenção “positivamente”, especialmente diante da dependência global de petróleo e carvão que começa a desescalar.

Entre os intelectuais internacionalmente renomados que assinam a carta, estão o filósofo estadunidense Noam Chomsky, a escritora indiana Vandana Shiva, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos, a professora emérita da Universidade de Brasília Rita Segato e a co-fundadora das Mães da Praça de Maio Linha Fundadora Nora Cortiñas.

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De acordo com os signatários, “a extração de combustíveis fósseis na Colômbia tem sido uma fonte de contaminação (afetando ecossistemas valiosos no segundo país mais biodiverso do mundo), corrupção, erosão cultural e conflitos sócio-ambientais, levando à violência, intimidação e assassinatos de defensores do meio ambiente”.

Eles destacam “a necessidade de superar esta condição, resultado de décadas de investimento em uma economia extrativa, implica também atender ao apelo do momento histórico, decisivo tanto em questões ambientais quanto climáticas, repensando nossa relação com a energia através de uma transição energética distante dos hidrocarbonetos”.

Dentre as medidas que consideram positiva dentro do programa do Pacto Histórico, eles destacam a proibição da exploração de campos de petróleo não convencionais, a suspensão de projetos de fracking e do desenvolvimento de campos de petróleo em águas profundas.

Ainda dentro dos pontos positivos, destacam a ideia de destinar a extração das reservas atuais do país para consumo doméstico “sob critérios técnicos e socioeconômicos que permitam maior eficiência em seu uso e uma maior taxa de retorno energético”.

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O grupo de intelectuais entende que as medidas propostas visam promover uma “transição gradual e justa com salvaguardas suficientes para os setores econômico e trabalhista que atualmente dependem da extração de combustíveis fósseis”. Isso, na visão do grupo, não só teria um impacto na matriz energética do país, mas também na oportunidade de promover a diversificação e a descentralização econômica no país.

Neste sentido ainda, os pensadores destacam que a mudança energética em questão fomentaria outras fontes de ingressos, muitos focados na biodiversidade do país e com a possibilidade de criar “condições de vida digna” para populações indígenas, camponesas, negras e para as vítimas tanto do conflito armado, como dos megaprojetos energéticos.

“Acolhemos esta proposta e os convidamos a apoiar a concepção e implementação de uma política pública de transição sócio-ecológica justa, viável e sólida, que, baseada na redução planejada da dependência dos combustíveis fósseis, se tornará um exemplo para a região e o mundo para promover a construção de um novo paradigma, deixando finalmente os combustíveis fósseis no subsolo.”

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Por fim, eles destacam que o projeto “colocaria o país na vanguarda da luta climática efetiva e ofereceria as condições necessárias para proteger seus valiosos ecossistemas, fundamentais para a preservação da vida no país e no planeta”.

Confira todos os signatários:

Vandana Shiva, International Forum on Globalization and Navdanya Movement, India

Boaventura de Sousa Santos, profesor emérito Centro de Estudios Sociales U. de Coimbrano, Portugal

Naomi Klein, jornalista, escritora e ativista, Canadá

Omar Masera Cerutti, Prêmio Nobel de la Paz 2007 como parte do IPCC, pesquisador do Instituto de Pesquisas en Ecossistemas e Sustentabilidade, UNAMno, México

Rita Segato, professora Emérita de Antropología U. Nacional de Brasília, Brasil

Joan Martínez Alier, economista ecológico, ICTA-Universitat Autònoma de Barcelona, España

Arturo Escobar, Universidad de Carolina do Norte Chapel Hill, Colômbia

Aviva Chomsky, profesor do Depto. de Historia Salem State University Massachusetts, USA

Noam Chomsky, professor Emérito MIT y U. de Arizona, USA

Maristella Svampa, professor de Sociologia da U. Nacional de la Plata, Argentina

Bill McKibben, escritor, ambientalista e co-fundador de 350, USA

Tasneem Essop, diretora Climate Action Network International, Internacional

Kim Stanley Robinson, escritor, ganhador de prêmio Hugo, USA

Nora Cortiñas, Mães da Praça de Mayo – Linha Fundadora, Argentina

Jason Hickel, profesor do Instituto de Ciências Ambientais e Tecnologia da U. Autônoma de Barcelona

Lidy Nacpil, coordenador do Movimento Asia Pacific on Debt and Development, Filipinas

Ashish Kothari, fundador de Kalpaviksh, Índia

Miriam Lang, professor de Ecología Política da U. Andina Simón Bolívar, Equador

Alberto Acosta, ministro de Energía e Minas (2007), presidente da Assembleia Constituinte (2007-2008), Equador

Tzeporah Berman, co-fundadora do Global Gas and Oil Network, Professora adjunta da Universidad de York, USA

Enrique Leff, professor Instituto de Investigaciones Sociales UNAM, México

Verónica Gago, professor Depto. De Ciencias Sociales U. de Buenos Aires, Argentina

Kumi Naidoo, integrante do Africans Rising for Justice, Peace and Dignity, África do Sul

Víctor Toledo, Instituto de Pesquisas em Ecossistemas e Sustentabilidade da UNAM, México

Federico Demaria, professor de Economia Ecológica da Universidad Autónoma de Barcelona, Espanha

Luca Ferrari, co-coordinador del Programa Nacional Estratégico de Energia e Mudança Climática, México

Avi Lewis, jornalista e documentarista, Canadá

* Com informação de El Espectador e Infobae

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