Morto em câmara de gás, Genivaldo é vítima da banalização da violência

“Quando você tem uma autoridade maior que incentiva determinados tipos de prática, que é a favor de tortura, que diz que em vez de torturar tinha que matar 30 mil pessoas, isso aí dá uma noção de impunidades para os policiais”, disse o coronel da reserva da Polícia Militar de Sergipe Luís Fernando

Sufocado até a morte num camburão de viatura da Polícia Rodoviária Federal (PRF), onde foi despejada grande quantidade de fumaça, Genivaldo de Jesus Santos, 38 anos, é mais uma vítima da banalização da violência no país. Mas se trata de um o caso que promete não ser examinado como algo normal.    

A truculência dos dois policiais em Umbaúba, no litoral sul de Sergipe, está sendo classificada como um assassinato, o que exige punição severa para aqueles que causaram a morte de um cidadão que deveriam proteger.

De acordo com o que se vê pelas cenas explícitas, são muitos os agravantes. Genivaldo não ofereceu resistência após ser abordado na sua moto. Ele obedeceu a ordem de parada, colocou as mãos sobre a cabeça e foi revistado.

Em seguida foi imobilizado e colocado no camburão com as pernas de fora gritando sufocado pela fumaça no interior do veículo. Familiares da vítima ainda avisaram os policiais que ele tinha transtornos mentais.  

Em entrevista ao Portal Vermelho, o coronel da reserva da Polícia Militar de Sergipe Luís Fernando Silveira de Almeida considerou o caso mais um reflexo do clima de banalização da violência que o país está vivendo.

“Quando você tem uma autoridade maior que incentiva determinados tipos de prática, que é a favor de tortura, que diz que em vez torturar tinha que matar 30 mil pessoas, isso aí dá uma noção de impunidades para os policiais”, disse, referindo-se a Bolsonaro.

Coronel da reserva da PM de Sergipe Luís Fernando (Foto: Reprodução)

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Por outro lado, o militar destacou que a PRF, pela forma como foi constituída, é uma das mais sérias e democráticas instituições policiais. “É uma polícia da qual a gente espera o socorro, a ajuda, a proteção na estrada e a diligência. É isso que a gente espera. Por isso mesmo, ela tem a obrigação de repudiar veementemente o que aconteceu Umbaúba”, frisou.

De acordo com ele, houve uma ação de despreparo policial, tortura e morte de uma pessoa. “Não tem justificativa. As imagens falam por si só e o áudio da pessoa gritando dentro do carro. Um absurdo e não pode ser tratado como um caso qualquer, isso aí tem que ser punido exemplarmente”, cobrou.

A representante da União Brasileira de Mulheres (UBM) no Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), Eneida Guimarães dos Santos, diz que os policiais transformaram uma viatura em câmara de gás, aos “moldes do nazismo”. “Assassinaram Genivaldo asfixiado com gás de pimenta. Era um homem preto, de 38 anos, tinha transtornos mentais e o que ele tinha no bolso eram cartelas de remédios. Monstruoso, cruel e desumano”, protestou.

Parlamento

No parlamento, cobrou-se posicionamento do presidente e punição aos policiais. “Bolsonaro já falou alguma coisa sobre a câmara de gás? Afinal, foram agentes da Polícia Rodoviária Federal – ou seja, do Estado brasileiro – que cometeram um homicídio qualificado contra um homem negro e com deficiência. É A BARBÁRIE! Exigimos justiça por Genivaldo!”, protestou no Twitter o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). O presidente limitou-se a dizer que iria buscar informações.

“Genivaldo foi torturado e assassinado dentro de uma viatura, em plena luz do dia, com pessoas assistindo à sua agonia. Uma barbárie. Uma morte em uma câmara de gás improvisada! Execução sumária e com requintes de crueldade. Inaceitável! Minha solidariedade à família”, postou na rede social Jandira Feghali (PCdoB-RJ).

O senador Rogério Carvalho (PT), que é do estado, denunciou o caso no plenário do Senado. “Ação abusiva da PRF, em Umbaúba, que resultou na morte de um homem de 38 anos. As cenas são chocantes e exigimos apuração rigorosa dos acontecimentos”, disse.

OAB

Em nota, assinada pelo presidente da entidade, Danniel Alves da Costa, e pela diretora da Comissão dos Direitos Humanos, Lilian Jordeline Ferreira de Melo, a Ordem dos Advogados do Brasil de Sergipe (OAB-SE), afirmou que irá acompanhar, de forma vigilante, os desdobramentos das investigações sobre o episódio.

“A OAB Sergipe respeita as instituições, mas não compactua com qualquer tipo de violência ou de tortura, razão pela qual se manterá atenta à apuração da responsabilidade pela fatídica morte. Através da nossa Comissão de Direitos Humanos, iremos solicitar, em caráter de urgência, uma reunião com a Corregedoria da Polícia Rodoviária Federal a fim de buscar informações a respeito da apuração. Também estamos nos colocando à disposição dos familiares da vítima para dar toda a assistência necessária, sempre mantendo o respeito aos profissionais policiais e à instituição PRF, no acompanhamento das responsabilidades cabíveis”, diz a nota.

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