Com direita à frente, campo de esquerda busca unidade no RS

Cenário gaúcho ainda incerto levou Lula a fazer apelo pela união em sua passagem por Porto Alegre

Lideranças se reúnem com Lula em visita a Porto Alegre. Foto: Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

Há poucos dias, quando esteve em Porto Alegre, o ex-presidente Lula fez um apelo à união da esquerda e dos setores progressistas para as eleições deste ano. O recado não dizia respeito apenas à formação de um palanque unificado para a disputa presidencial, mas também ao fortalecimento de uma candidatura do campo popular capaz de enfrentar, no Rio Grande do Sul, um cenário marcado pela direita na dianteira das pesquisas e a esquerda num quadro ainda indefinido. 

No estado, a pesquisa mais recente, divulgada no final de maio, feita pela Real Time Big Data e encomendada pela TV Record, mostrava o ex-ministro bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL), com 23% das intenções de voto. Os pré-candidatos Edegar Pretto (PT) e o atual governador Ranolfo Vieira Jr. (PSDB) com 7%, seguidos por Beto Albuquerque (PSB), Pedro Ruas (PSOL) e Luiz Carlos Heinze (PP), com 6% cada. Mais atrás, vinha Vieira da Cunha (PDT), com 3%, Gabriel Souza (MDB), com 2%, e Roberto Argenta (PSC), com 1%.

A este cenário soma-se a possibilidade de o ex-governador Eduardo Leite (PSDB), que havia renunciado para disputar a presidência da República, voltar à corrida pelo Piratini. Nessa semana, líderes tradicionais do MDB gaúcho sinalizaram com a possibilidade de fechar aliança com Leite em troca do apoio deste à candidatura de Simone Tebet (MDB) ao Planalto, com Gabriel Souza como vice do tucano. 

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Há quem diga que os gaúchos não costumam reeleger governadores, mas a inclusão de Leite foi testada recentemente pelo instituto Paraná Pesquisas, também no final de maio, com vantagem para o tucano. Em um dos cenários, ele fica com pouco mais de 27%, deixando Onyx com 19%. Beto Albuquerque tinha 9,5%, seguido de Heinze, 6,9%. Edegar Pretto e Pedro Ruas ficavam, respectivamente, com 4% e 3,8%. 

Para Juliano Roso, presidente do PCdoB-RS, o alerta de Lula foi correto. “É uma necessidade do estado termos um palanque mais amplo, à altura da pré-candidatura presidencial de Lula, que unifique os sete partidos que hoje estão na aliança — PT, PCdoB, PSB, PV, PSOL, Rede e Solidariedade. O ideal, inclusive, seria termos mais, trazendo partidos como, por exemplo, o PDT, que tem uma candidatura presidencial legítima, de Ciro Gomes, mas que poderia também estar conosco nessa aliança aqui no Rio Grande do Sul para que nós pudéssemos ter mais possibilidades de derrotarmos as candidaturas mais identificadas com o Bolsonaro — Onyx e Heinze  — e também a candidatura que representa outro projeto atrasado, neoliberal, a de Eduardo Leite”.

Como forma de buscar o rearranjo da esquerda gaúcha para outubro, o PCdoB propôs uma reunião com partidos desse campo, na próxima quarta-feira (15).

Juliano Roso, presidente do PCdoB no RS

Na avaliação do deputado federal Paulo Pimenta, presidente estadual do PT, “é difícil a esquerda entrar nesse processo com três nomes. Hoje, estão colocados Pedro Ruas, Beto Albuquerque e Edegar Pretto,  além de Vieira da Cunha e Manuela d’Ávila (PCdoB), que ainda é um nome que tem de ser considerado para compor essa chapa majoritária”. Em postagem recente nas redes sociais, Manuela declarou que não seria candidata ao Senado. A comunista aparecia, em levantamento da Paraná Pesquisa, tecnicamente empatada (20,5%) com o vice-presidente Hamilton Mourão (22%) e Ana Amélia, do PSD (20,4%).

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A unificação dos partidos, diz Márcio Souza, presidente do PV-RS, “nos traria a possibilidade histórica de fazermos em torno 25% a 30% no mínimo no primeiro turno, nos colocando em condições de talvez eliminar, inclusive, o bolsonarismo do segundo turno, o que seria uma vitória fantástica no Rio Grande do Sul. Mas, para que a esquerda esteja nessa condição de ir ao segundo turno, é preciso a unidade que, neste momento, ainda é difícil de construir”. Mas, salientou, “acredito que essa unidade ainda é possível de ser realizada”. 

Deputado Paulo Pimenta, presidente do PT-RS

A deputada estadual Luciana Genro, presidenta do PSol-RS, também aponta dificuldades a serem enfrentadas para viabilizar tal coalizão e coloca: “No plano estadual, a gente não tem um Bolsonaro — uma tragédia nacional cuja reeleição significaria uma mudança no regime político do país. Mas, temos o Onyx e o Heinze que são tragédias também gaúchas porque são pró-Bolsonaro, porém, não existe essa possibilidade de uma mudança do regime político pela via estadual, o que não nos exime da tarefa de fazer de tudo para  evitar que o Heinze ou o Onyx vença as eleições ou que tenhamos um segundo turno sem uma alternativa de esquerda”. 

Direita no RS

O desafio do campo de esquerda no estado não é pequeno. O Rio Grande do Sul é um dos principais focos do bolsonarismo no país, sustentado, em boa medida, pelo agronegócio. “O bolsonarismo fez, aqui no estado, praticamente dois em cada três votos para presidente da República na eleição anterior. Isso traz um problema adicional por conta, sobretudo, da característica que o Rio Grande do Sul tem, principalmente no interior, de ser muito vinculado ao agronegócio, que reproduz essa lógica”, explica Márcio Souza, do PV. No entanto, ele lembrou que essa diferença vem diminuindo. Levantamento do Paraná Pesquisas aponta que Bolsonaro tem 40%, contra 34% de Lula entre os gaúchos.

Paulo Pimenta pontua que o cenário eleitoral do Rio Grande do Sul está em aberto. “A direita tem as candidaturas do Onyx e do Luiz Carlos Heinze colocadas, mas ainda existe uma indefinição em torno de Eduardo Leite. Ele renunciou, mas está sendo especulado que pode recolocar seu nome. E nesse momento tem o nome do MDB que representa o bloco do governo. Portanto, essa questão do Leite é ainda uma variável que tem de ser analisada”. 

Marcio Souza, presidente do PV-RS

De acordo com Juliano Roso, do PCdoB, “o cenário é difícil e complexo para o campo de esquerda, porque as candidaturas da direita fascista e da direita neoliberal estão bem posicionadas e nós corremos o risco de ficar fora de um segundo turno, o que é muito ruim. Primeiro para o povo gaúcho, de ter apenas essas duas opções. E segundo, é ruim para o nosso projeto político eleitoral nacional e estadual”. 

No entanto, ele espera que a situação atual possa mudar. “Temos quadros altamente qualificados se posicionando para disputar, temos o nosso pré-candidato Edegar Pretto, o Beto Albuquerque, o Pedro Ruas; nós sempre temos o nome da Manuela d’Ávila que é muito lembrado pela sua força e liderança não só nas pesquisas, mas no campo de esquerda do Rio Grande do Sul. Entendemos que esses nomes, todos eles, têm condições de estarem numa chapa majoritária que envolve três posições aqui no Rio Grande do Sul — governador, vice-governador e senador. E é uma necessidade que nós tenhamos uma postura madura, de alto nível e que possamos conversar sobre isso no Rio Grande do Sul”. No que  depender do PCdoB, salientou, “temos toda a disposição de contribuir, colaborar e ajudar na construção dessa unidade”. 

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Mesmo reconhecendo as dificuldades atuais, Luciana Genro diz que “seguimos na expectativa de que a gente possa levar ao segundo turno uma alternativa de esquerda anti-neoliberal”. 

Paulo Pimenta, por sua vez, conclui: “estamos fazendo um grande esforço cotidiano no sentido de buscar a construção de uma unidade do campo popular, tanto para garantir um palanque unitário do Lula no estado como, também, para poder ter uma chapa competitiva que impeça, por exemplo, um segundo turno entre Eduardo Leite e Onyx. Todo esforço hoje é no sentido de que essa unidade se viabilize e que a gente possa ter uma candidatura unitária”.