Viagem de Putin ao Irã mostra avanço de aliança oriental

Enquanto EUA e UE alimentam o conflito na Ucrânia, visando enfraquecer Putin, as alianças geopolíticas no Oriente se consolidam envolvendo países afetados por sanções ocidentais.

O líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, no centro, aperta a mão do presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Teerã, com o presidente iraniano Ebrahim Raisi à direita, num gesto simbólico de aperto de mãos após a pandemia [Folheto: Gabinete do líder supremo iraniano]

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, visita Teerã nesta terça-feira (19) para conversar com o líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, e com o líder turco Tayyip Erdogan, na primeira viagem do líder do Kremlin fora do território russo desde a invasão da Ucrânia por Moscou, em 24 de fevereiro. A viagem demonstra para o Ocidente os planos de Moscou de estreitar laços estratégicos com Irã, China e Índia diante das sanções ocidentais.

O encontro com Erdogan também chama a atenção pela Turquia ser um país-membro da aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Em Teerã, eles discutirão um acordo que visa permitir a retomada das exportações de grãos da Ucrânia no Mar Negro, bem como a paz na Síria. A proposta é apoiada pela ONU.

Alinhamento oriental

Yuri Ushakov, assessor de política externa de Putin, ressaltou a repórteres em Moscou o “diálogo de confiança” entre Putin e Khamenei sobre as questões mais importantes da agenda bilateral e internacional. “Na maioria das questões, nossas posições são próximas ou idênticas”, disse.

Assim como vários outros países no mundo (Cuba, Venezuela, Coreia do Norte), o Irã também sofre consequências de sanções econômicas ocidentais devido a desacordo com os Estados Unidos sobre o programa nuclear. Os líderes iranianos estão preocupados diante do bloco que EUA têm apoiado entre Israel e países do Golfo Pérsico, e precisam fortalecer suas relações estratégicas.

Khamenei disse a Putin, que, se ele não tivesse começado a guerra na Ucrânia, a OTAN teria feito isso eventualmente. “A OTAN não conheceria limites se o caminho estivesse aberto e, se não fosse interrompido na Ucrânia, começaria a mesma guerra usando a Crimeia como desculpa.”

“Em termos de segurança internacional, aumentaremos nossa cooperação”, disse Putin, acrescentando que os dois países desempenham um papel importante na garantia da segurança da Síria. Os dois líderes também discutiram as relações bilaterais e a remoção gradual do dólar americano do comércio bilateral.

Influência russa

Quanto mais avança o conflito na Ucrânia, com suas consequências geopolíticias, mais a Rússia amplia sua influência em países da Ásia Central e nos Bálcãs ocidentais. O comércio de petróleo e gás aproxima-a da Albânia, Bósnia e Herzegovina, Montenegro, Kosovo, Macedónia do Norte e Sérvia.

Milorad Dodik, o atual membro sérvio da presidência da Bósnia e Herzegovina, apoiou a criação das duas repúblicas autodeclaradas na Ucrânia, alinhando-se com Putin. Alemanha e Reino anunciaam sanções contra Dodik, como congelar € 120 milhões (£ 101 milhões) em projetos de infraestrutura na região sérvia da Bósnia e proibição de viagens do líder sérvio.

Recente cúpula entre os líderes dos Balcãs Ocidentais e a União Europeia nem teve a participação de funcionários da UE na conferência de imprensa. A explicação para o impasse é que outra prioridade sempre tem precedência – a Ucrânia. Com isso, a UE alimenta ressentimentos com esses países, que remontam à guerra dos balcãs, nos anos 1990.

A atitude da UE não passa despercebida pela Rússia, que já obtém êxitos na Sérvia, onde uma minoria da população apóia a adesão ao bloco europeu e sua aliança militar. O tempo que o processo de adesão à UE está levando está alimentando atitudes anti-europeias e deixando mais espaço para a Rússia e a China aumentarem sua influência.

Enquanto isso, a Albânia, membro da Otan, disse recentemente que a falta de compromissos de adesão à UE para os Balcãs Ocidentais era uma questão de segurança regional e solicitou que a Otan criasse operações de manutenção da paz para combater a influência russa. Também anunciou que estabelecerá uma base naval da Otan ao longo de sua costa adriática.

Com informações de agências internacionais