Carestia e fome impedem avanço de Bolsonaro em pesquisa, diz Quaest

“Eleitor percebeu que as medidas econômicas foram feitas com propósito eleitoral, o que retira a gratidão sobre a ação”, afirma Felipe Nunes

Num país com elevada inflação de alimentos e mais de 33 milhões de pessoas passando fome, o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem poucas chances de se reeleger. A opinião é do cientista político Felipe Nunes, diretor da Quaest Consultoria, que apresentou nesta quarta-feira (31) mais uma pesquisa sobre a disputa presidencial no Brasil.

O levantamento mostra que, mesmo com o início da campanha e os primeiros pagamentos do Auxílio Brasil a R$ 600, Bolsonaro não consegue avançar na preferência do eleitorado. Ele aparece com 32% das intenções de voto e está atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que tem 44%. Tanto Lula quanto Bolsonaro oscilaram um pouco para baixo, dentro da margem de erro.

O ex-ministro Ciro Gomes (PDT) tem 8%, e a senadora Simone Tebet (MDB), 3%. Já Vera Lúcia (PSTU) e Felipe D’Ávila (Novo) registraram 1%. Os demais candidatos não pontuaram.

 “O começo da campanha eleitoral não foi capaz de diminuir a diferença entre Lula e Bolsonaro, que mantém-se estável em 12 pontos”, aponta Felipe. “Essa estabilidade nos segmentos revela algo muito importante: mesmo depois de 15 dias desde a última rodada da pesquisa, ainda não observamos de forma significativa o efeito do pacote de bondades do governo. No eleitorado de renda baixa, Lula vence Bolsonaro por 52% a 25%.”

A PEC do Desespero – que inclui uma série de medidas eleitoreiras lançadas por Bolsonaro em caráter temporário – já está em plena vigência. Mais de 20 milhões de famílias passaram a receber o auxílio de R$ 600, que só dura até dezembro. Caminhoneiros e taxistas ganharam vouchers. Além disso, o vale-gás foi reajustado, também temporariamente, em 50%.

Mas os brasileiros desconfiaram – e com razão – das reais intenções de Bolsonaro. “O eleitor percebeu que as medidas econômicas foram feitas com propósito eleitoral, o que retira a gratidão sobre a ação”, afirma o diretor da Quaest. “Isso se deu, em especial, quando as pessoas ‘descobriram’ que o novo valor do Auxílio tinha data para terminar e voltar ao seu valor original. Colocar uma data de fim reforçou a ideia de que não era por altruísmo, mas por interesse próprio do governo.”

Por fim, existe a carestia. A inflação dos alimentos segue muito acima da inflação geral, o que castiga especialmente os mais pobres. Segundo Felipe Nunes, esse fator é “o que mais importa para o eleitor de baixa renda”. A pesquisa mostra que 82% dos eleitores sentiram positivamente os efeitos da redução no preço da gasolina, enquanto 41% se beneficiaram da deflação das tarifas de energia. Porém, com relação aos alimentos, apenas 18% dizem ter sentido uma queda nos preços.

Num eventual segundo turno, Lula venceria Bolsonaro por 51% a 37%. “Acredito que os eleitores de Lula vão comemorar a estabilidade da diferença entre os dois candidatos. Os eleitores de Bolsonaro se organizarão ainda mais para tentar mostrar força no 7 de setembro”, prevê Felipe.

Contratada pela Genial Investimentos, a pesquisa Quaest ouviu 2 mil pessoas, de 25 a 28 de agosto, em 120 municípios, de todas as regiões do País. A margem de erro é de dois pontos percentuais.

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