Brasil é o país mais letal para ambientalista e líderes comunitários

Conflitos por direitos à terra e à floresta são o principal motivo de assassinatos de defensores no Brasil. A Amazônia é a principal fronteira da luta

Dom Phillips e Bruno Pereira (Imagem: Reprodução)

Dados da ONG Global Witness revelam que, na última década, foram mortos 1.733 defensores do meio ambiente e líderes comunitários no mundo. O Brasil é responsável por 20% desse total ou 342 ataques letais a ativistas. Uma a cada três vítimas era indígena ou afrodescendente.

“O Brasil tem sido o país mais letal para os defensores da terra e do meio ambiente. No geral, é o país com o maior número documentado de assassinatos desde 2012, com 342 no total. Cerca de um terço dos mortos eram indígenas ou afrodescendentes, e mais de 85% dos assassinatos aconteceram na Amazônia”, diz o relatório da ONG.

De acordo com a organização, conflitos por direitos à terra e à floresta são o principal motivo de assassinatos de defensores no Brasil, e a floresta amazônica é a principal fronteira da luta pelos direitos indígenas e ambientais.

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“Os povos indígenas têm um papel importante como guardiões da floresta amazônica, evitando as emissões provenientes do desmatamento e da degradação florestal e ajudando a conter a crise climática”, prossegue a entidade.

Global Witness considerou que a Amazônia se tornou um cenário de crescente violência e impunidade. Para a entidade, com os poderosos interesses do agronegócio exportador no centro da economia brasileira, a Amazônia é o cenário de uma batalha por terras e recursos que se intensificou após a eleição de Bolsonaro em 2018.

“Desde que Bolsonaro chegou ao poder, ele encorajou a extração ilegal de madeira e o garimpo, enfraqueceu a proteção dos direitos indígenas, atacou grupos de conservação e desmantelou e reduziu os orçamentos e recursos dos órgãos de proteção ambiental e indígena. Isso permitiu que quadrilhas e organizações criminosas invadissem impunemente áreas indígenas e de conservação”, destacou.

A organização considerou que o governo Bolsonaro foi capturado por interesses criminosos. De acordo com o levantamento, ao mesmo tempo que deu carta branca para extração ilegal de recursos, o Estado fracassou em proteger os defensores da terra e do meio ambiente.

Bruno e Dom

No documento, é citado o caso do assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira no Vale do Javari, no Amazonas. Para a ONG, trata-se de um território sem lei na Amazônia brasileira, são indicativos do ataque aos povos indígenas e àqueles que tentam protegê-los.

“Pereira havia trabalhado anteriormente na Funai. Ele foi removido de seu cargo como representante da fundação junto a tribos isoladas logo após a chegada de Bolsonaro ao poder, em algo que foi visto como uma ação com motivações políticas. Seu afastamento, no final de 2019, ocorreu logo depois que sua equipe ajudou a desativar um dos maiores garimpos da região amazônica”, diz a organização.

Os dados revelam ainda que mais de três quartos dos ataques registrados ocorreram na América Latina. No Brasil, Peru e Venezuela, 78% dos ataques ocorreram na Amazônia.

FERNANDO DOS SANTOS ARAÚJO CAMINHA PELO LOCAL ONDE A POLÍCIA EXECUTOU SEU NAMORADO E SEUS AMIGOS NO MASSACRE DE PAU D’ARCO, EM 2017, E ONDE ELE MESMO SERIA MORTO EM JANEIRO DE 2021. SPENSER HEAPS

Caso

O relatório aponta também o caso do trabalhador rural sem-terra Fernando Araújo, membro do Movimento Sem Terra que foi morto na sua casa na fazenda Santa Lúcia, em Pau d’Arco, no estado do Pará em janeiro de 2021.  

De acordo com a ONG, o Pará é uma das regiões mais perigosas para os defensores dos direitos humanos no Brasil. Fernando foi testemunha e sobrevivente do maior massacre de trabalhadores rurais no Brasil desde 1996, o massacre de Pau d’Arco, em 2017, que resultou na morte de dez trabalhadores rurais pela polícia na fazenda Santa Lúcia.

“Ele foi uma testemunha-chave no processo criminal que se seguiu. Até agora, ninguém foi acusado ou preso pelo assassinato de Fernando”, lembrou.

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