Motorista de APP ameaça, com estilete, advogado que apoia Lula

Caso aconteceu em Campo Grande (MS). Mário Fonseca registrou boletim de ocorrência e a PM busca imagens de câmeras de segurança para comprovar as tentativas de agressão

O advogado e membro da direção nacional da Associação dos Advogados e Advogadas pela Democracia, Justiça e Cidadania (ADJC), Mário Fonseca | Foto: reprodução vídeo TV Globo/Manaus

No último sábado (8), o advogado e dirigente do PCdoB, Mário César Fonseca da Silva, de 48 anos, foi ameaçado pelo motorista, Marcelo Bento de Jesus, do aplicativo InDrive, durante uma corrida na cidade de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. Mário embarcou em sua casa, região do Santa Emília, e seguia para uma reunião no Sindmassa (Sindicato Intermunicipal dos Empregados Vinculados nas Indústrias de Fabricação de Massa Alimentícias).

Segundo o advogado, o motorista “implicou desde o início com o uso da máscara”. “A pandemia ainda existe e minha mãe de 77 anos mora comigo”, disse. Mário relatou que, enquanto conversavam, o motorista afirmou ter pegado Covid quatro vezes e que tratou com cloroquina. Afirmou não ter se vacinado e que [a Covid] “não era tudo isso” e que apenas tentavam “desestabilizar o presidente”. Desde o início Mário sentiu um tom de intimidação. Na ocasião, ele também usava uma camiseta do Lula.

Ao Portal Vermelho, Mário relatou que durante o trajeto o motorista percebeu que entrou um parafuso no pneu do carro, “bem superficial”, e que ele inclusive desceu para ajudar a procurar. Nesse momento, Mário viu que Marcelo portava um estilete, usado até então para tirar o parafuso do pneu. Após o ocorrido seguiram a viagem onde o motorista continuou a indagar sobre política, perguntando aonde o advogado ia e, ao ouvir a resposta, disse: “esse sindicato aí apoia o Lula, sindicato é tudo Lula”.

Mário relata que em momento algum ofendeu ou retrucou as conversas, até por ter sentido um “clima meio hostil desde o começo”. Ele inclusive usava o celular, falando por áudio no WhatsApp, para tentar desviar do assunto, que era retomado pelo motorista em seguida. Passados uns vinte minutos da corrida, Marcelo passou seu número de CPF para que o advogado lhe fizesse um Pix.

O passageiro então enviou o valor de 22 reais, total da corrida, e mostrou o comprovante. Ao visualizar, o motorista falou, “22 de Bolsonaro” ao qual Mário respondeu, em tom de brincadeira, “se fosse 13 seria mais barato”. Ele relata que entendeu como uma brincadeira e disse ao motorista ter notado que ele apoiava o presidente e que respeitava sua opinião.

Nesse momento, segundo o advogado, Marcelo se exaltou e soltou um palavrão, proferido de diversas outras palavras, e seguiu dizendo: “vocês de sindicato são tudo vagabundo, você que defende bandido é vagabundo e bandido também”. Mário rebateu dizendo que “tudo bem, é a sua opinião”. Segundo o advogado, “ele se ofendeu pelo fato de eu não ficar caindo na provocação dele”.

O motorista então parou o carro e gritou: “você desce do meu carro” ao que Mário alegou que já havia pagado a corrida. “Ele desceu do carro, deu a volta, abriu a minha porta e falou ‘sai do meu carro agora’ e com o estilete na mão partiu para cima de mim e eu consegui me esquivar”, lembra. O advogado conta que saiu correndo, gritando por socorro e foi acolhido por moradores da região. O motorista não foi mais visto.

Mário conta que durante o episódio o motorista chegou a perguntar se ele estava filmando ou gravando a situação. Após o acontecido, o advogado foi até a delegacia e registrou um boletim de ocorrência. Também entrou em contato com a empresa responsável e a polícia irá analisar imagens de câmeras próximas ao local do fato. O caso foi registrado como ameaça na Depac (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário).

Ele também gravou um vídeo detalhando o ocorrido. Veja abaixo.

Mário disse ao Portal Vermelho, que se dirigiu as suas atividades no Sindicato, onde relatou o acontecido, mas que “estava muito tenso”. “A gente se sente degradado, com a vida da gente banalizada.”, disse.

Ele relatou que fez a “denúncia ao aplicativo e já fui informado de que o agressor se encontra bloqueado no InDrive”. Em suas redes sociais, Mário agradeceu as mensagens de apoio, sobretudo à família que o acolheu e fez um desabafo. “Vivi um momento horroroso. A violência bolsonarista chegou até mim, desta vez pior que a diariamente feita nas redes, mas, felizmente, sem desfecho mais grave. O fato de não cair na provocação irritou o bolsonarista, que agiu com grave ameaça à minha pessoa, conforme relato no vídeo. Fiz a denúncia ao aplicativo, que me prometeu tomar as devidas providências e me subsidiar na ocorrência que registrarei perante a autoridade policial logo mais. Sigamos firmes na luta, com amplitude e serenidade, tomando os devidos cuidados, mas sem deixar que o medo nos roube a coragem necessária para enfrentar e derrotar o fascismo. Venceremos! Abraços fraternais!”

Mário é membro da direção nacional da Associação dos Advogados e Advogadas pela Democracia, Justiça e Cidadania (ADJC) e da diretoria nacional da Confederação Nacional das Associações de Moradores (Conam).

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