Ciro Nogueira diz que Bolsonaro vai abandonar ataques às urnas

Bolsonaro está sem saída, segundo um principais coordenadores político do presidente

Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

O discurso antidemocrático de Bolsonaro contra as urnas eletrônicas não encontra respaldo no núcleo duro da sua campanha. Em entrevista ao Valor nesta terça-feira (11), o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, um dos principais coordenadores político dele, disse que a desconfiança nas urnas eletrônicas “está superada”.

Mesmo declarando não ter lido o relatório das Forças Armadas no qual se concluiu que não houve fraude no primeiro turno, o ministro disse que o presidente vai abandonar essa causa. Porém, Bolsonaro proibiu a divulgação do relatório e ainda pediu aos seus apoiadores que permaneçam nos locais de votação até apuração dos boletins.

O presidente negacionista irritou até militares do alto comando ao sugerir que as Forças se esforçassem mais, porque as informações não batiam com o que ele próprio soube a respeito do assunto. O trabalho envolveu amostra de ao menos 385 boletins de urna e um projeto-piloto com uso da biometria para testar 58 aparelhos.

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Contudo, pesa contra Bolsonaro o pedido feito pelo Tribunal de Constas da União (TCU) ao Ministério da Defesa para que seja fornecida uma cópia do relatório da auditoria com prazo de 15 dias para a entrega. Ou seja, o carimbo dos militares legitimando a segurança do processo eleitoral, fato que todos já conheciam, pode vir antes do segundo turno.

“Eu acho que ele superou essa história de urna, estamos virando essa página. A população agora está confiando mais no sistema. E eu acho que o papel do Exército foi muito importante para dar a credibilidade para as pessoas que não acreditavam”, disse o ministro.

(Foto: Reprodução TV Brasil)

Por diversas vezes, Bolsonaro acusou, sem provas, a existência de fraudes nas urnas eletrônicas. Confira algumas falas dele a respeito:

Supostas provas (março/2020)

“Pelas provas que tenho em minhas mãos, que vou mostrar brevemente [até hoje o presidente não apresentou o material], eu fui eleito no primeiro turno, mas, no meu entender, teve fraude. E nós temos não apenas palavra, temos comprovado, brevemente quero mostrar, porque precisamos aprovar no Brasil um sistema seguro de apuração de votos. Caso contrário, passível de manipulação e de fraudes (…).

“Vão querer que eu prove” (novembro/2020)

“A minha eleição em 2018 só entendo que fui eleito porque tive muito, mas muito voto. Tinha reclamações que o cara queria votar no 17 e não conseguia. Vão querer que eu prove. É sempre assim. O cara botava um pingo de cola na tecla 7, um tipo de adulteração.”.

Eleição com urna (julho/2021)

“Eu entrego a faixa para qualquer um, se eu disputar a eleição, né? Se eu disputar, eu entrego a faixa para qualquer um. Uma eleição limpa”.

Sala secreta (julho de 2021)

​”Eu não estou acusando servidores do TSE. Eu não posso admitir que meia dúzia de pessoas tenham a chave criptográfica de tudo, e essa meia dúzia pessoas, de forma secreta, conte os votos numa sala lá do TSE. Isso não é admissível”.

Reunião com embaixadores (julho/2022)

“Segundo o TSE, os hackers ficaram por oito meses dentro do computador do TSE, com código-fonte, senhas —muito à vontade dentro do TSE. E [a Polícia Federal] diz, ao longo do inquérito, que eles poderiam alterar nome de candidatos, tirar voto de um e mandar para o outro”.

“Nem um sistema informatizado pode dar garantia de 100% de segurança. As Forças Armadas, das quais sou comandante supremo: ninguém mais do que nós quer estabilidade em nosso país.”

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