Bolsonarismo tenta transformar tiroteio comum em atentado contra Tarcísio

Apoiadores do candidato e campanha de Bolsonaro contrariam a própria versão da polícia para tentar lucrar com a confusão que interrompeu agenda

Comunidade de Paraisópolis na Zona Sul de São Paulo. Foto Rovena Rosa/Agência Brasil

O tiroteio que interrompeu nesta segunda-feira (17), um evento de campanha do candidato ao governo de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos) na favela de Paraisópolis, na capital paulista, está se tornando motivo para desinformação eleitoral para beneficiar o bolsonarista.

A presença de forças policiais militares na agenda acabou se confrontando com criminosos armados na comunidade da Zona Sul. Um suspeito foi morto e um homem está foragido. Este encontro inesperado parece ser o motivo mais plausível para a confusão, segundo o próprio secretário de Segurança Pública de São Paulo, general João Camilo.

Segundo ele, o tiroteio ocorreu a cerca de 100 metros de onde estava Tarcísio, quando um grupo de oito pessoas, duas portando armas longas, entraram em um primeiro confronto com seguranças à paisana. As autoridades ainda afirmaram que não há registro de tiros disparados contra o prédio em que a equipe de Tarcísio estava ou contra o veículo que transportou o candidato. 

Guerra de narrativas

Embora admita que a troca de tiros não foi um atentado com motivação eleitoral com conotação política partidária, mas em reação à presença da polícia, o próprio candidato estimula a guerra de narrativas nas redes sociais ao falar em “questão territorial”, “um ato de intimidação”, “um recado claro do crime organizado de que não somos bem-vindos ali”.

Em entrevista à Folha de S. Paulo, Wallace Rodrigues, fundador da startup Belezinha, diz que Tarcísio não foi convidado para o evento. O coquetel já durava duas horas, sem contratempos, quando aconteceu o tiroteio, longe do local.

Trend Topic

Após postagem do ex-ministro sobre o ocorrido, houve uma série de postagens de bolsonaristas insinuando que o mando do suposto ataque seria da esquerda ou do adversário no segundo turno Fernando Haddad (PT).

Nas redes sociais, apoiadores contrariam versão da polícia e dão como certa a tese de que foi um atentado, enquanto opositores buscaram comparar o episódio com a facada que Jair Bolsonaro (PL) recebeu em 2018, com o termo “fakeada” em destaque nos trend topics

A campanha não perdeu a oportunidade e abriu sua propaganda eleitoral da noite de ontem mencionando o tiroteio. O narrador da inserção afirma que o candidato, afilhado político do presidente, foi “atacado por criminosos”, mas essa tese não tem comprovação pelas forças de segurança do Estado.

O governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), que declarou apoio à eleição de Tarcísio, descartou a hipótese de que os tiros tenham sido um atentado contra o candidato. Ele diz que é possível falar que foi um crime comum e ofereceu reforço policial na segurança dos candidatos.

Uso eleitoral 

Fernando Haddad (PT) afirmou que é “muito preocupante” o uso do tiroteio pela campanha de Bolsonaro. A declaração foi feita durante participação do petista no programa Roda Viva, na TV Cultura. “Policiais afastaram, com alguma reserva, a questão de atentado político. Eu liguei para Tarcísio e ele próprio descartava qualquer motivação política. Acho que é um uso oportunista que o bolsonarismo está fazendo”, declarou.

A coligação de Lula já recorreu à Justiça contra publicações que fizessem associações entre ele ou líderes do Partido dos Trabalhadores (PT) ao PCC, e saiu vitoriosa. Em uma dessas ações, por exemplo, Lula conseguiu a remoção de notícias falsas compartilhadas pelo senador Flávio Bolsonaro e os deputados federais Otoni de Paula (MDB-RJ) e Hélio Lopes (PL-RJ).

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