Abandonada por bolsonaristas, Zambelli pode responder por seis crimes

Na Câmara Federal, PT e Rede protocolaram uma representação para cassar o mandato da deputada

(Foto: Reprodução)

Vinte e quatro horas depois de perseguir e ameaçar com uma pistola o jornalista Luan Araújo, nos Jardins, em São Paulo, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) ainda não sabe a quantos processos terá de responder. Mas já é possível concluir que o episódio deste sábado (29) foi desastroso não apenas para a parlamentar – mas também para o bolsonarismo, que será testado nas urnas neste domingo (30).

O presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), espécie de guru de Zambelli, afirmou a aliados que o comportamento criminoso de sua seguidora, a um dia de uma eleição tão importante, é “inacreditável”.  Para seus correligionários, o caso veio na pior hora possível.

Segundo a Folha de S.Paulo, “apesar das demonstrações públicas de solidariedade, o entorno” bolsonarista “ficou enfurecido” com Zambelli. “Não bastasse o possível dano na véspera da eleição, é o terceiro episódio com armas em uma semana, após o ataque de Roberto Jefferson com fuzil e granadas à Polícia Federal e a ordem da equipe de Tarcísio de Freitas (Republicanos) para um câmera apagar imagens de um tiroteio”.

Zambelli cometeu ao menos seis crimes e infrações. Um desses crimes, o racismo, foi a base para uma denúncia que o Grupo Prerrogativas já protocolou contra a deputada, em função de uma declaração que ela concedeu após a confusão. “Me empurraram no chão, um homem negro. Eles usaram um negro para vir em cima de mim”, diz Zambelli na gravação. O jornalista que ela perseguiu é negro e estava desarmado. As imagens deixam claro que ela não foi empurrada.

“Viemos aqui denunciar ela por racismo, porque ela coloca isso como elemento estruturante, da necessidade de ela se sentir ameaçada”, afirmou a advogada Sheila Carvalho, do Prerrogativas, ao registrar boletim de ocorrência. O grupo é formado por advogados e juristas que atuam em defesa dos direitos humanos.

No boletim de ocorrência, o Prerrogativas também acusam Zambelli de agressão e porte ilegal de armas. “Esse jovem sofreu na tarde de hoje na Paulista, região onde estava ocorrendo manifestação pró-Lula. É importante que as autoridades policiais investiguem pelos seus atos e que a Justiça Eleitoral aja pela suspensão do mandato”, agregou Sheila.

Embora seja apoiador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ativista do Coletivo Democracia Corinthiana, Luan estava na região para um compromisso pessoal. Ele avistou Zambelli num restaurante e a provocou com palavras de apoio a Lula. A deputada, que inicialmente ignorou os comentários, passou a intimidar o jornalista e apontou uma pistola na direção dele. Um de seus seguranças foi preso por ter disparado um tiro enquanto corria atrás de Luan. Resolução do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) proíbe o porte de arma na véspera do pleito.

O TSE, por sinal, é outro órgão a investigar o caso. Conforme relatório produzido pelo setor de inteligência e combate à desinformação do tribunal, há indícios de dois crimes eleitorais na ação de Zambelli: “porte ilegal de armas em período próximo à votação” e “tentativa de tumultuar o processo eleitoral”. A jornalistas, após a perseguição a Luan, a deputada admitiu que não segue e não seguirá a resolução do TSE.

Zambelli é acusada, ainda, de abuso de poder e quebra de decoro parlamentar. Na Câmara Federal, PT e Rede protocolaram uma representação para cassar o mandato da deputada. “Os ataques e a ameaça armada contra um eleitor durante a véspera das eleições violam diretamente o interesse público, a vontade popular e a Constituição Federal”, aponta a representação.

Os seguranças de Zambelli serão igualmente investigados. A Polícia Civil apura se houve crimes de porte ilegal de arma, ameaça, lesão corporal e disparo de arma de fogo.

Autor