A força do documentário “Quando Falta o Ar” na disputa ao Oscar 2023

O filme revela o trato humanitário dos profissionais da saúde pública que enfrentam a tragédia da pandemia no Brasil. Dia 21, a Academia define os 15 semifinalistas na disputa ao Oscar 2023.

Documentário Quando falta o ar. Foto: Divulgação.

Uma homenagem às quase 700 mil vítimas da Covid-19 que perderam a vida no Brasil, o documentário brasileiro Quando Falta o Ar, das irmãs Ana (cineasta e atriz) e Helena Petta (médica infectologista) está entre os pré-selecionados para concorrer a estatueta mais cobiçada da sétima arte, o Oscar, na categoria melhor documentário.

Na próxima quarta-feira (21), a academia define os quinze semifinalistas, em dez categorias, que estarão na disputa ao Oscar. Os cinco finalistas serão conhecidos em 8 de fevereiro de 2023. Dia 27 de março é a grande cerimônia em que revela os grandes vencedores do ano.

Em entrevista à Folha de S.Paulo, as irmãs contaram como se deram as filmagens do documentário sobre o serviço prestado pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em plena pandemia, em diversos estados do país. “A realidade era mais forte do que qualquer ficção que a gente pudesse inventar”, falou Helena.

Em campanha por uma vaga no Oscar, ela está em Los Angeles. De lá, a médica revelou como teve a ideia do documentário. “Havia uma urgência em 2020, eu tinha muitos colegas próximos na linha de frente, e resolvemos filmar. Mas queríamos algo diferente do jornalismo porque as pessoas já tinham visto de tudo”, contou.

A equipe de filmagem, formada por apenas cinco pessoas, percorreu cinco estados brasileiros entre outubro de 2020 e janeiro de 2021, tomando todos os cuidados recomendados e necessários de maneira “neurótica”. Eles se testavam frequentemente, desinfetavam os equipamentos diariamente e se mantinham juntos e isolados fora das filmagens.

“Quando falta o ar”

O documentário é focado nos heróis que combateram o drama da pandemia no Brasil, grupo composto majoritariamente por mulheres. Para Ana, a força do filme está na sua capacidade de revelar a humanidade dos trabalhadores da saúde pública, no enfrentamento de uma das maiores tragédias ocorrida nos últimos tempos.

“Como disse Albert Camus, em tempos de grandes tragédias, há mais coisas a se admirar nos seres humanos do que desprezar. E acho que encontramos isso”, disse Ana Petta. Emendando que tiveram “a felicidade de encontrar mulheres de grande inspiração que conseguiam, no meio de uma situação limite, encontrar um lugar de humanidade e delicadeza”.

À reportagem da Folha, as duas contaram que o intuito não era priorizar somente as mulheres, mas isso ocorreu naturalmente. “Não ficamos fugindo dos homens, filmamos quem encontramos e, em todos os níveis, as mulheres lideravam, desde chefia, limpeza, enfermagem”, ponderou Ana.

Para ela, a questão é profunda e reflexiva. “Não é bom, todo mundo deveria cuidar de todos.”

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O documentário mostra diferentes profissionais da saúde pública no país, além de médicos, enfermeiros, agentes comunitários, também comparecem na película, o trabalho das equipes de lavanderia e limpeza dos hospitais, coveiros e até funcionários que removeram os corpos nas residências.

Desde setembro desde ano, Helena está em Harvard, em Massachusetts, como pesquisadora convidada do Centro David Rockefeller para Estudos Latino-Americanos. Ela conta que desde 2019, a Escola de Saúde Pública da universidade utiliza episódios da série na sala de aula.

Segundo o jornal, Helena trabalhou cinco anos numa Unidade Básica de Saúde (UBS) antes de se especializar no estudo de novas narrativas no audiovisual sobre o universo da saúde e da medicina, tema de seu doutorado na Universidade de São Paulo (USP).

Enquanto isso, Ana, a irmã cineasta e atriz, graduada em Artes Cênicas pela USP, está protagonizando, em São Paulo, a terceira temporada da série Unidade Básica. Ela e sua irmã criaram o primeiro seriado médico de ficção brasileiro, exibido pelo canal pago Universal. A terceira temporada da série será inspirada em casos da pandemia e na relação entre profissionais da saúde e pacientes da comunidade.

#SUSnoOscar

A campanha #SUSnoOscar acontece pelas redes sociais, com a participação de destacados e renomados artistas, intelectuais, políticos, cientistas e diversos outros profissionais. O documentário já ganhou este ano, o mais importante prêmio da América Latina na 27º edição do Festival Internacional de Documentários. Com exibições especiais, o documentário deverá estar em cartaz ao grande público no Brasil no começo de 2023.

A força do documentário Quando Falta o Ar está em seu reconhecimento de uma das maiores conquistas sociais da nossa sociedade: o SUS. É um registro histórico e humanista, a certeza que a defesa do sistema público e gratuito de saúde no Brasil deve ser uma constante. A luta por sua qualidade, pela valorização dos profissionais da área, o cuidado à vida de todas e todos os brasileiros, por si só, faz jus à sociedade que luta, que cuida, que resiste. É este o melhor reconhecimento. E neste sentido, o filme já ganhou o grande prêmio!

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