Aberto inquérito no STF contra governador Ibaneis e Anderson Torres

Objetivo é apurar conduta do governador, do ex-secretário e seu vice, além do ex-comandante da PM-DF, durante atos golpistas em Brasília

Ibaneis, Torres e Bolsonaro juntos em evento. Ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, com o fim do governo, Torres tornou-se secretário de Segurança Pública da Ibaneis no DF. Foto: Reprodução

A pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, abriu inquérito contra o governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), e seu ex-secretário de Segurança Pública Anderson Torres. O objetivo é apurar a conduta de ambos durante os atos golpistas na Praça dos Três Poderes, em Brasília, no último domingo (8).

Ibaneis Rocha foi afastado de suas funções ainda na madrugada de segunda (9), horas depois do atos violentos e deve depor hoje na PF. Torres, por sua vez, é alvo de ordem de prisão expedida pelo ministro. O ex-secretário encontra-se fora do país, nos Estados Unidos. Segundo sua defesa, ele deve se entregar nos próximos dias. O ministro da Justiça, Flávio Dino, afirmou que ele vai se entregar, possivelmente na manhã deste sábado (14), ou em caso contrário o governo vai pedir a extradição.

A medida foi assinada na noite de ontem (12). Na quinta (12), a PGR pediu a abertura de outro inquérito, para identificar os mentores intelectuais dos ataques. 

Também serão alvos da investigação Fernando de Sousa Oliveira, ex-secretário interino de Segurança Pública do DF, e Fábio Augusto Vieira, ex-comandante da Polícia Militar do Distrito Federal, que já se encontra preso.

Na decisão de abrir o novo inquérito, o ministro apontou indícios de que teria havido, no mínimo, omissão e conivência do mandatário distrital e de seus auxiliares em facilitar os crimes violentos cometidos em Brasília, quando as sedes dos Três Poderes da República foram amplamente depredadas.

Sobre o fato de que governadores têm foro privilegiado no Superior Tribunal de Justiça (STJ), e não no Supremo, Moraes argumentou que os indícios apontam possível ação de Ibaneis junto com outras pessoas que devem ser investigadas no Supremo. Além do mais, houve crimes praticados na sede do STF, o que atrai a competência do tribunal, escreveu ele.

Provas e indícios

Moraes destacou áudio de Fernando Oliveira, que comandava a SSP-DF no dia dos atentados, orientando apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro sobre como se daria a escolta policial deles até o centro de Brasília, onde os radicais invadiram os prédios públicos.

Outro indício foi o fato de o titular da SSP-DF na ocasião, Anderson Torres, ter exonerado toda a cúpula de segurança do DF e depois ter viajado para os Estados Unidos, dias antes do ataques. Moraes também ressaltou notícia de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) teria alertado as autoridades distritais ainda no sábado anterior aos ataques sobre o risco de atos violentos, e ainda assim nada foi feito para impedir o vandalismo.

“Mesmo ciente do iminente risco e tendo o dever de adotar providências para evitar os fatos do dia 8, dada a pública e notória chegada de dezenas ou centenas de ônibus a Brasília conduzindo manifestantes que declaradamente afrontariam os Poderes da República objetivando a ruptura do Estado de Direito, a imprensa noticiou que o governador Ibaneis Rocha, na véspera dos fatos, dia 7 de janeiro de 2023, havia liberado manifestações na Esplanada dos Ministérios”, escreveu Moraes.

Ele acrescentou que a omissão das autoridades distritais é “estarrecedora” diante de uma verdadeira “tragédia anunciada”, uma vez que manifestações pregando a tomada do poder já ocorria há semanas em frente a unidades militares. 

Agentes da PF estiveram na residência de Torres e recolheram documentos e um computador, quando descobriram a minuta de um decreto golpista que previa, além da instituição do estado de defesa, a criação de uma comissão controlada porJair Bolsonaro para apurar a “legalidade do processo eleitoral” vencido por Lula.

Ao comentar a existência de uma possível organização criminosa, o ministro rechaçou “a ignóbil política de apaziguamento” e afirmou que ninguém deverá ficar impune.

“Absolutamente todos serão responsabilizados civil, política e criminalmente pelos atos atentatórios à democracia, ao Estado de Direito e às Instituições, inclusive pela dolosa conivência  por ação ou omissão  motivada pela ideologia, dinheiro, fraqueza, covardia, ignorância, má-fé ou mau-caratismo”, acrescentou.