Ratinho Jr. indica homem para Secretaria da Mulher e Igualdade Racial no Paraná

Após forte pressão dos movimentos populares e feministas, o governador voltou atrás e indicou uma deputada bolsonarista para o cargo

Antes de Leandre Dal Ponte, Rogério Carboni havia sido cotado para assumir como secretário interino da Mulher e Igualdade Racial | Foto Reprodução / Instagram

O governador do Paraná, Ratinho Jr. anunciou, nesta segunda-feira (16), o nome da deputada federal Leandre Dal Ponte (PSD-PR) para o comando da Secretaria da Mulher e Igualdade Racial. O anúncio ocorre quatro dias depois do chefe do Executivo colocar Rogério Carboni, um homem branco, para assumir interinamente a pasta, situação que gerou embaraço e foi amplamente criticada.

Como se não bastasse a indicação polêmica de Carboni para pasta de Mulheres, no último dia 12 de janeiro, Ratinho Jr. deu ainda um cargo comissionado ao ex-deputado Fernando Francischini (União Brasil) como um dos coordenadores da Secretaria da Mulher e Igualdade Racial.

Francischini foi condenado e teve o mandato de deputado estadual cassado por ter divulgado fakenews sobre as urnas, em 2018, quando era cabo eleitoral do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Apesar da nomeação de Leandre, Francischini continuará com o cargo.

Ao ter conhecimento do caso, Elza Campos, ex-presidente nacional da União Brasileira de Mulheres (UBM), membro do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Curitiba (PR), integrante da Frente Feminista e atual secretária de mulheres do PCdoB no estado, disse ao Portal Vermelho que as mulheres paranaenses “foram surpreendidas” com a escolha de um homem para assumir a pasta.

“Ele designou interinamente um homem branco para a secretaria estadual da Mulher e Igualdade Racial. Isso criou um movimento de revolta no estado e até no país. Os movimentos feministas, de mulheres, movimentos negros, se revoltaram com a tal indicação mesmo sendo interina. Tanto é que nós fizemos uma moção, que já tem 50 assinaturas, para publicar nacionalmente nas redes sociais.”

Mais surpresas

Neste domingo (15), antes da indicação do nome ser publicado, Elza disse que elas foram novamente surpreendidas “com uma mensagem da convidada para assumir essa secretaria, Leandre Dal Ponte, que é do PSD e votou nas propostas do Bolsonaro”.

Segundo a ex-presidenta da UBM, apesar da afirmação do nome da deputada para assumir a pasta, “nós não vimos ainda na rede oficial da deputada federal Leandre que ela tenha aceitado assumir essa secretaria” e salientou que elas, integrantes do “movimento social e feminista”, estarão “vigilantes para que realmente seja indicada uma mulher.”

“Uma mulher que tenha compromisso com as políticas públicas e faça essa transversalidade porque nós entendemos que não é possível continuar com os índices de violência, com a desigualdade que existe no mundo do trabalho, na vida, no cotidiano; e o feminicídio que no Paraná também é muito alto.”, disse.

Elza Campos também falou do posicionamento que o movimento espera da nova secretaria. Segundo ela, a pasta precisa ter “orçamento próprio, estrutura, e um olhar transversal de gênero, classe e raça nessas políticas públicas”. De acordo com Elza, é necessário ter uma secretaria que fale nas demais secretarias e órgãos do Estado, e seja respeitada como uma secretaria que tenha esse papel de exercer, de realizar as políticas públicas.

“Há muito tempo estamos lutando e defendemos o fortalecimento do conselho estadual do direito da Mulher e dos conselhos municipais. Que essa secretaria tenha a capilaridade, transversalidade, e que possa articular com todas as demais políticas públicas”, enfatizou.

Elza afirma que “esse espaço é fundamental. Nós temos uma sub-representação nos espaços de poder. E estamos denunciando a invisibilização histórica imposta pelo capitalismo, pelo patriarcado, pelo coronelismo e pelo processo de escravização histórica das mulheres. E ficamos realmente revoltadas, estarrecidas, com a indicação de um homem branco.”

Leia, abaixo, a íntegra da moção.

MOÇÃO DE REPÚDIO AO GOVERNO DO ESTADO DO PARANÁ

As organizações abaixo assinadas, vem a público manifestar repúdio inconteste ao Governador do Estado do Paraná – Ratinho Junior pela forma como tratou a politica para as Mulheres e Igualdade Racial no Estado do Paraná, primeiro nomeando um homem e branco para Secretaria Estadual de Mulheres e Igualdade Racial do Estado, e em seguida colocando como chefe nessa Secretaria Fernando Francischini, cassado por fake news, inimigo dos direitos humanos. Dos 5 (cinco) nomeados para essa importante pasta, somente uma mulher.

Após indignação e pressão do movimento social e feminista do Paraná e de todo o país, na data de hoje (16/01), o governador do Estado publicou nos jornais a indicação de Laeandre Dal Ponte como Secretária.

As conquistas das mulheres até os nossos dias,  são resultado de históricas lutas, muitas delas marcadas por suor e sangue. A conquista de espaços  revela momentos fundamentais na luta das mulheres trabalhadoras, negras, indigenas, LBTs, com deficiência, na batalha contra as desigualdades entre os gêneros, seja na luta por seus direitos e políticas públicas, as mulheres denunciam a invisibilização imposta pelo patriarcado, colonialismo e capitalismo.

Ficamos estarrecidas ao presenciar a nomeação pelo governador do Estado do Paraná  Ratinho Junior, mesmo que interinamente, para ocupar a Secretaria de Mulheres e Igualdade Racial um homem e branco, desrespeitando a luta histórica do movimento feminista e de mulheres e do movimento negro/negra, demonstrando o quanto afronta mais da metade da população pararanense. Nós mulheres somos metade da humanidade, estamos sub representadas em todos os espaços de poder, com a anuência de representantes do poder que deveriam dar o exemplo.  

Ratinho Junior criou a nova Secretaria de Mulheres e Igualdade Racial para o seu segundo mandato, mas na primeira medida desconsidera totalmente as mulheres de seu Estado.

Entendemos que a Secretaria Estadual de Políticas para as Mulheres, deva ter como uma das medidas fundamentais o olhar transversal de gênero, classe e raça nas políticas públicas, com orçamento e estrutura próprias. O fortalecimento do Conselho Estadual dos  Direitos da Mulher, como instrumento fundamental de controle da execução dessas políticas públicas de gênero, com a adoção de um fundo público.

O movimento social, feminista e de mulheres, continuará firme e vigilante para que essa Secretaria  cumpra seu papel para o desenvolvimento das politicas públicas que visem eliminar as desigualdades de gênero, raça, etnia,  e que oportunize às mulheres, condição de autonomia e liberdade.

Assinam:

1 – Frente Feminista de Curitiba e Região Metropolitana
2 – União Brasileira de Mulheres – UBM Seção – PR
3 – Coletivo Cassia
4 – Marcha Mundial das Mulheres – PR
5 – Mandata Preta – Vereadora Giorgia Prates
6 – Federação de Mulheres do Paraná
7 – Vereadora Maria Leticia (PV) – Procuradora da Mulher da CMC
8 – União Nacional de Lésbicas Gays Bissexuais Travestis e Transexuais – UNALGBT⁩
9 – Rede Nacional de Mulheres Negras no Combate à Violência (RNMN)
10 – Liga Brasileira de Lésbicas – LBL
11 – Ayomidê Yalodê Coletiva de Mulheres Negras e LBTs
12 –  Associação Rock Camp Curitiba
13 – Coletivo Luzia
14 – Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Reprodutivos – RFS – Regional – PR
15 –  Rede Mulheres Negras – PR – RMN-PR
16 – Movimento Nacional População de Rua-MNPR
17 – Centro Popular da Mulher – CPM/UBM-Goias
18 – Kurandeiras Saberes Ancestrais:  Juventudes Vivas
19 –  Rede Nacional de Lésbicas Bissexuais Negras Feministas Candaces
20 –  FENAPAR
21 – SindSaúde-PR
22 – Movimento Nacional População de Rua-MNPR
23- Rede Nacional de Promoção e Controle Social da Saúde Cultura e dos direitos das Lésbicas e Mulheres Bissexuais Negras – Sapatà
24 – Juventude Manifesta PR
25 – Rede Nacional Feminista de Saúde Direitos Sexuais Direitos Reprodutivos – RJ
26 – Movimento Negro Unificado
27 – Centro Popular da Mulher – CPM/UBM Goias
28 – Coletivo Advogadas do Brasil
29 – Coletivo Filhas da Mãe -DF Coordenadoria Especial da Mulher de Paraty
30 – UBM do DF
31 – UBM do Rio de Janeiro
32 – União de Mulheres de Vitória da Conquista – UMVC/UBM
33 – AMEAS – Associação de Mulheres Empreendedoras Acontecendo em Saquarema
34 – Conselho Estadual de Direitos da Mulher  Tio de Janeiro  –  CEDIM-RJ
35 – Federação de Mulheres Fluminenses – FMF
36 – AMAZOESTERJ e Expansões
37 – UBM do Amapá
38 – UBM do Pará
39 – Fórum Popular de Mulheres-PR
40 – União Brasileira de Mulheres do Amapá
41 – Fórum Nacional de Mulheres Negras BA
42 – União de Mulheres de Vitória da Conquista – UMVC/UBM
43 –  Associação de Travestis, Transexuais e Transgênero de Goiás –  ASTRAL GOIÁS
44 – UNEGRO SAMAVI
45 – UBM SAMAVI
46 – Secretaria da Mulher do PCdoB  – PR
47 – Secretaria de Mulheres do PT -PR
48 – PSOL – Curitiba
49 – Instituto de Mulheres Negras de Vera Cruz- IVELCRUZ
50 – Secretaria de Mulheres do PCdoB de Vera Cruz – BA
51 – SismmacAssociação
52 – SINDIJUS-PR
53 – Sismmac
54 – Secretaria da Mulher do PCdoB – SAMAVI
55 – Ação da Mulher Trabalhista PDT-PR
56 – Secretaria de Mulheres do PV -PR
57 – Secretaria de Mulheres do PSB -PR
58 – Sinditest-PR
59 – Associação Brasileira de Psicologia Social – ABRAPSO Paraná
60 – Sindicato dos Professores e Servidores Municipais de Almirante Tamandaré – SINPROSMAT
61 – Secretaria Nacional de  Mulheres da UNEGRO
62 – Movimento É Tempo de Diálogo
63 –  Igualdade e Diversidade – Sindicato dos bancários e financiarios de Curitiba e Região
64 –  Coletivo LGBTI+ Paranavaí
65 – Associação Rede Unida
66 –  Realidade Street – Núcleo Cultural Urbano
67 – Sindicato dos Docentes da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)
68 – Associação dos professores da Unioeste de Francisco Beltrão – subseção Adunioeste – ADUFBE
69 – Coletivo Filhas da Mãe -DF
70 – Parada LGBTI+ Apucarana -PR
71 – Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais)
72 – Instituto  Mulher Paranaense
73 – Movimento do PDT AXÉ PR

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