Fascismo Não

O bolsonarismo tirou sua máscara neoliberal, tirou sua máscara moral-religiosa, tirou sua máscara de tiozão perverso e burro da internet, revelando o cerne totalitário, terrorista, de capatazes das elites coloniais-escravocratas, nacionais e internacionais,

Hordas bolsonaristas invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto. Foto Marcelo Camargo ABr

Sou médico psiquiatra, no exercício de carreira docente superior em instituição pública, vivi a experiência corrosiva da Ditadura Militar e votei pela 1ª vez para Presidente da República junto com o 1º voto de meu filho mais velho. Estive na resistência democrática e ajudei a criar pelo menos dois pilares das políticas sociais que, aos trancos e barrancos, qualifica o Brasil de hoje: o SUS e a Atenção Psicossocial Territorial, respectivamente baseados em universalidade, descentralização, integralidade e humanização, no respeito aos saberes populares e à diversidade das subjetividades.

Os horrores incendiários do dia 08/01/23, em Brasília, produzido por caravanas de fanáticos subsidiados, destruindo patrimônio público fortemente simbólico como as casas dos três poderes centrais da república democrática brasileira, assustam-me e, sobretudo, revoltam-me. Em agonia penso em meus três netos e minha neta embotados em criatividade e dignidade pela turba fascista em mais um laboratório de terror, se tiverem sucesso, caso a reação seja a da covardia.

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O bolsonarismo tirou sua máscara neoliberal, tirou sua máscara moral-religiosa, tirou sua máscara de tiozão perverso e burro da internet, revelando o cerne totalitário, terrorista, de capatazes das elites coloniais-escravocratas, nacionais e internacionais, em nome de uma distopia terrível. Médicos, Professores, Liberais, Operadores do Direito, Artistas e Gestores Públicos que se iludiram com o bolsonarismo não podem mais se esconder por trás de ideais liberticidas e continuarem a apoiar a causa, pois a omissão será na verdade, que fique claro, adesão ao fascismo.

Em nome da tortuosa, mas rica, história brasileira; em nome de minha história pessoal, às vezes mais cautelosa que o necessário; em nome das gerações que pagarão o ônus mais duro da derrocada, sobretudo aqueles que, por mais de uma vintena de modos, são os mais vulneráveis; e em nome dos meus netos, eu digo não ao Fascismo que se desmascara agora, em Brasília, ao destruir símbolos fulcrais da república democrática brasileira, sonhos de modernidade e justiça. Quando a Praça dos Três Poderes foi concebida, imaginava-se a arquitetura filtrando a luz do planalto central e expressando a transparência política em metáforas de vidro, hoje estilhaçados.  Não podem vencer.

Publicado originalmente no jornal O Povo

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