Inflação desacelera para os mais pobres, diz Ipea

Em janeiro, houve desaceleração nos preços dos alimentos e alta de preços no consumo de grupos de maior poder aquisitivo, com aumentos de taxas veiculares, combustíveis, TV paga e plano de saúde

Menos inflação nos alimentos favorece os trabalhadores de menor renda

O ano de 2023 começou com menos inflação para trabalhadores com os menores salários, do que foi a aceleração de preços em janeiro de 2022. Segundo levantamento do Indicador Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) de Inflação por Faixa de Renda, a desaceleração nos preços de alimentos (carnes, aves e ovos), roupas (-0,7%) e produtos de higiene (-1,3%) foram os que mais favoreceram as pessoas com menores salários.

Neste período, os mais afetados pelos preços altos foram os grupos de maior poder aquisitivo (renda alta e média-alta). O mês de janeiro afeta mais o poder de compra destes segmentos, devido a taxas típicas deste período, como despesas com emplacamento, seguro e manutenção veicular.

Para as famílias de renda mais alta, o que ajudou a reduzir o impacto foi a queda no preço das passagens aéreas (-0,51%) e dos transportes por aplicativo (-17%).

Os dados, divulgados nesta quarta-feira (14) pelo Ipea, mostram que a menor taxa foi observada entre as famílias de renda muita baixa e baixa (0,47%), enquanto a maior ficou com as famílias de renda média-alta (0,59%) ou 7,05% no acumulado do ano. No acumulado em 12 meses, até janeiro, a menor taxa inflacionária foi do segmento de renda média-baixa (5,53%).

Alimentos e bebidas, transportes e comunicação seguem como os de maior pressão inflacionária para praticamente todas as faixas de renda, diz o Ipea. Apesar da queda de preços das carnes (-0,47%) e de aves e ovos (-1,2%), a alta dos cereais (3,5%), das hortaliças (6,4%), das frutas (3,7%) e dos produtos da cadeia do trigo – farináceos (0,98%) e panificados (0,55%) – explica o impacto deste grupo para a inflação no primeiro mês do ano.

“Na comparação com janeiro do ano passado, as três faixas de renda mais baixas tiveram recuo da inflação, fruto, em grande parte, da melhora no comportamento dos alimentos no domicílio – cuja alta em janeiro deste ano (0,60%) ficou abaixo da registrada no mesmo mês do ano anterior (1,44%). O desempenho mais favorável das roupas e dos artigos de higiene em janeiro deste ano – com quedas de 0,69% e 1,3%, ante variações positivas de 0,78% e 1,4%, respectivamente, em 2022 – completa o cenário de inflação menos acentuada para esse segmento de famílias”, informa o Ipea.

O que ficou mais caro

Quanto aos transportes, em janeiro, os aumentos das tarifas dos ônibus urbano (0,91%) e interestadual (2,1%), além da gasolina (0,8%), foram os principais focos inflacionários. 

Quanto ao grupo comunicação, a pressão decorre dos reajustes dos planos de assinatura de TV (11,8%) e dos combos de TV, telefonia e internet (3,2%). Ainda para as famílias com maior renda, o reajuste de 0,75% nos serviços pessoais e de 0,89% na recreação impactou o grupo despesas pessoais do segmento, que usa esses serviços em maior proporção que as faixas de renda mais baixa.

Segundo o estudo, ainda na comparação com janeiro do ano passado, as três faixas de maior poder aquisitivo apresentaram aceleração inflacionária não apenas por causa da queda mais moderada das passagens aéreas em 2023 (-0,51%), relativamente a 2022 (-18,4%), mas também pelos reajustes de 0,81% da gasolina e de 1,2% dos planos de saúde – em contraste com as deflações de -1,14% e de -0,69%, respectivamente, no ano passado.