Por que Minas Gerais é o estado com mais trabalho análogo à escravidão

Operações do Ministério do Trabalho resgataram 777 pessoas em Minas no ano de 2021, além de outras 1.070 em 2022

Foi das terras mineiras – “altaneiras”, “formosas” e “encantadas” – que Manoel Araújo e José Duduca de Morais tiraram a inspiração para Oh! Minas Gerais. “Quem te conhece / Não esquece jamais”, dizem os versos mais conhecidos da música, uma espécie de hino informal do estado.

Mas, para inúmeros empresários criminosos do campo, essas terras têm servido exclusivamente para extrair lucros milionários à base de um crime – o trabalho análogo à escravidão. Segundo o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), faz 13 anos que Minas Gerais lidera o ranking de região trabalhadores resgatados por estarem nessas condições desumanas.

As operações no estado resgataram 777 pessoas em 2021 e outras 1.070 em 2022. Em uma única ação no ano passado, em João Pinheiro, 285 foram trabalhadores resgatados, sendo 273 cortadores de cana numa fazenda arrendada pela usina WD Agroindustrial. Foi a maior operação do gênero em dez anos. Nas contas do MTE, de cada cinco registros de trabalhadores submetidos a essa situação no Brasil, dois estão em Minas.

O tema do trabalho em regime análogo ao de escravidão está em evidência desde que, em 24 de fevereiro, uma ação federal descobriu 207 brasileiros nessas situações em Bento Gonçalves, na serra gaúcha. O caso ganhou visibilidades porque eles trabalhavam na colheita de uva para empresas que atendiam às vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton.

Na opinião de Maurício Krepsky, coordenador do GMóvel (Grupo Especial de Fiscalização Móvel) do MTE, a situação de Minas é mais complexa do que a do Rio Grande do Sul. O estado concentra muitas plantações de café e cana-de-açúcar, bem como carvoarias. “São setores que empregam muita mão de obra”, explicou Krepsky à Folha de S.Paulo.

A liderança mineira também se deve à amplitude do trabalho de inspeção. Houve 117 operações no território apenas em 2022, o equivalente a 25,4% das ações do Ministério do Trabalho. Além disso, Minas é o terceiro estado com mais fiscais do trabalho (156), pouco abaixo do São Paulo (180) e Rio de Janeiro (172). “Quanto mais denúncias são fiscalizadas, mais casos podem ser encontrados”, conclui Krepsky.

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