Vaticano pede perdão e condena passado colonial da igreja nas Américas

Em nota, comando católico repudia Doutrina da Descoberta usada para escravizar indígenas e diz comprometer-se a promover esforços destinados à “reconciliação e à cura”

Papa Francisco durante sua viagem apostólica ao Canadá, em julho de 2022. Foto: Vatican Media

O Vaticano condenou, nesta quinta-feira (30), o passado colonial da Igreja Católica no continente americano, repudiando a Doutrina da Descoberta e os documentos papais do século 15 que autorizavam a escravização de indígenas no período.

Além disso, o comando da instituição rechaçou as campanhas de assimilação cultural realizadas pela igreja quando teve início a exploração das Américas pelos europeus em 1492. Trata-se de mais uma medida que reflete a visão tida como mais progressista do Papa Francisco.

A Santa Sé revoga as “bulas” papais – documentos oficiais assinados por um papa – que deram origem à “Doutrina da Descoberta” que autorizava as potências europeias a colonizar países, terras e povos não cristãos. Tais documentos permitiam que o rei de Portugal conquistasse sarracenos e pagãos para reduzi-los à escravidão por tempo indeterminado e davam ao Reino de Castela o direito de conquistar as Américas e reclamar para si os territórios descobertos, assim como enviar assim como enviar homens para evangelizar.

A nota emitida pelo Vaticano destaca que “nos nossos dias, um renovado diálogo com os povos indígenas, especialmente com os que professam a fé católica, ajudou a Igreja a compreender melhor os seus valores e culturas. Com a ajuda deles, a Igreja adquiriu uma maior consciência dos seus sofrimentos, passados e presentes, devido à expropriação das suas terras, que consideram um dom sagrado de Deus e dos seus antepassados, e às políticas de assimilação forçada promovidas pelas autoridades governamentais da época, que visavam eliminar as suas culturas indígenas”. 

Leia também: Como o papa Francisco virou o maior líder progressista do mundo

Diz, ainda, que “como sublinhou o Papa Francisco, os seus sofrimentos constituem um forte apelo para se abandonar a mentalidade colonizadora e caminhar lado a lado com eles, no respeito mútuo e no diálogo, reconhecendo os direitos e os valores culturais de todos os indivíduos e povos. A este respeito, a Igreja compromete-se a acompanhar os povos indígenas e a promover esforços destinados a favorecer a reconciliação e a cura”. 

O comunicado também aponta que “é justo reconhecer estes erros, consciencializar-se dos efeitos terríveis das políticas de assimilação e do sofrimento vivido pelas populações indígenas, e pedir perdão. Além disso, o Papa Francisco exortou: ‘Nunca mais a comunidade cristã poderá deixar-se contagiar pela ideia de que uma cultura seja superior às outras, ou que seja legítimo recorrer a meios de coação dos outros’”. 

No ano passado, o papa também pediu desculpas aos indígenas do Canadá pelos abusos impostos aos seus antepassados pela “colonização ideológica” promovida pela Igreja Católica e pela “mentalidade colonialista” que guiava suas ações naquele período. 

O sistema escolar indígena do Canadá submeteu centenas de milhares de crianças a abusos físicos e sexuais desde o século XIX até 1996, em um esforço para isolá-las da influência de seus lares e cultura.

(PL)

Autor