Michelle Bolsonaro admite ter recebido joias depois de depoimento de servidora

Depois de negar conhecimento sobre os presentes sauditas, ex-primeira-dama afirma que as joias estiveram no Alvorada. Entenda o caso.

Jair Bolsonaro e Michelle | Foto: Isac Nóbrega/PR/Divulgação

“Quer dizer que eu tenho tudo isso e não estava sabendo?”, ironizou a ex-primeira-dama, Michelle Bolsonaro, nas redes sociais. Horas antes, a imprensa revelou que o governo Bolsonaro tentou trazer ilegalmente colar e brincos de diamante do Oriente Médio, avaliados em R$16,5 milhões.

Segundo Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia, o pacote de joias era um presente da realeza saudita a Michelle Bolsonaro. Os bens estão retidos pela receita federal no aeroporto internacional de Guarulhos desde outubro de 2021.

Essa foi a primeira declaração da ex-primeira-dama afirmando não ter conhecimento da existência dos presentes. Reiteradamente, Michelle repetiu essa versão. Chegou a dizer para interlocutores mais próximos que, “como mulher traída”, ficou sabendo do caso pela imprensa. “A última a saber”, teria dito.

Nesta terça (25), no entanto, a presidente do PL Mulher, questionada pela imprensa, admitiu que recebeu o segundo pacote, no Palácio do Alvorada. Michelle se referia a uma outra caixa de presentes, essa, com joias masculinas, dada pela família real saudita na mesma viagem, em 2021. (Entenda melhor o caso mais abaixo).

A reação se deu depois de o Estadão publicar que uma funcionária do Gabinete Presencial da República, em depoimento à Polícia Federal, disse que Michelle recebeu em mãos o lote masculino.

“Foi tudo feito pelo trâmite administrativo. Eu não (recebi em mãos). Ela (a caixa joias) estava no Alvorada. Ela é passada pela administração. Ela estava no Alvorada. Eu morava onde? No Alvorada”, disse antes de entrar para uma reunião do PL, no Congresso Nacional.

Os presentes foram dados em outubro de 2021, quando uma comitiva brasileira foi a Arábia Saudita para discutir a venda de ativos da Petrobras e a possível entrada do Brasil na Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).

Em depoimento a Polícia Federal, Marcos Soeiro, ex-assessor de Bento Albuquerque, disse que as joias foram entregues por emissários do governo saudita no hotel em que a comitiva se hospedou, na véspera da volta ao Brasil.

No escândalo revelado pelo Estadão, são três pacotes de joias que estão sendo investigados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal.

Os dois primeiros são um conjunto feminino e outro masculino avaliados em R$ 16,5 milhões e R$ 1 milhão. Esta primeira leva foi entregue na referida viagem a Arábia Saudita, em outubro de 2021.

O conjunto feminino, um colar, brinco e relógio, cravejados de diamantes, é da marca suíça Chopard e foi trazida por Marcos Soeiro, o ex-assessor do Ministério de Minas e Energia, no dia 26 de outubro de 2021, em voo com origem na Arábia Saudita. Na mala de Soeiro também estava uma escultura dourada de um cavalo.

O “conjunto feminino” barrado pela Receita era presente da Arábia Saudita, segundo ex-ministro (Foto: Divulgadação)

Depois de passar pelo raio X, a mala do assessor de Bento Albuquerque foi fiscalizada pelos agentes da Receita e depois apreendida. O governo Bolsonaro, segundo o Estadão, tentou reaver os diamantes por oito vezes.

O conjunto masculino compreende um relógio, uma caneta, duas abotoaduras, um anel e um tipo de rosário. Todos os artigos são da marca suíça Chopard e estão avaliados em cerca de R$1 milhão.

Trazido pessoalmente pelo ex-ministro Bento Albuquerque, as joias masculinas são avaliadas em R$1 milhão (Foto: Repordução)

 Esta remessa, trazida em um estojo pelo próprio ex-ministro de Minas e Energia, não foi retida pela Receita. Segundo Albuquerque à policiais federais, ele  admitiu que “não chegou a comentar [para a Receita] que teria outra caixa na sua bagagem”.

O ex-ministro justificou a manobra dizendo que não havia mais espaço nas malas de seu assessor. Segundo apuração da Agência Spotlight, o assessor, Marcos André Soeiro, pagou R$4.128 para a companhia aérea Qatar Airways por excesso de bagagem.

Na declaração para Receita, a “despesa extraordinária” foi justificada da seguinte forma: “decorrente da necessidade de despachar três malas extras, contendo itens ofertados pelo Reino Saudita ao Estado Brasileiro, cujos comprovantes encontram-se em anexo”.

O estojo masculino entrou no país sem ser declarado e ficou sob a custódia do Ministério de Minas e Energia durante mais de um ano. No dia 29 de novembro, um mês depois de Bolsonaro perder o segundo turno das eleições, as joias foram entregues a Michele Bolsonaro.

O terceiro pacote de joias foi recebido pelo próprio ex-presidente, Jair Bolsonaro, em viagem para o Qatar e a Arábia Saudita, em outubro de 2019. Todos os objetos citados foram entregues por Bolsonaro e seus assessores para a Caixa Econômica Federal. Bolsonaro deu depoimento sobre as joias na Polícia Federal no dia 5 de abril. Durante três horas.