Aluísio de Azevedo – um romancista do seu tempo

Aluísio de Azevedo e Machado de Assis foram contemporâneos, dividiram o mesmo público-leitor, mas entre ambos imperou o silêncio quanto à produção de suas respectivas obras.

Aluísio Azevedo

A princípio, foi caricaturista para jornais como “O Fígaro”, “O Mequetrefe” e “A semana ilustrada”. A partir dos desenhos que preenchiam sua mesa de trabalho, começou a escrever cenas para as personagens e se tornou um dos mais representativos escritores brasileiros. Nascido em 14 de abril de 1857, Aluísio de Azevedo foi romancista, jornalista, cronista, desenhista e pintor do cotidiano maranhense.

Como quase todos os jornais do Rio de Janeiro tinham folhetins, Aluísio de Azevedo passou também a escrevê-los. No começo, pretendia tão somente garantir seu sustento, mas dominado pelo poder da escrita, passou a se preocupar em observar o meio no qual estava inserido e, assim, retratar seus usos e costumes.

O resultado é a emblemática tríade naturalista: “O Mulato” (1881), “Casa de Pensão” (1884) e “O Cortiço” (1890). Não se tratam de romances históricos, no sentido restrito do termo, mas apresentam com precisão e detalhismo a sociedade e seus tipos do século XIX.

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Aluísio de Azevedo e Machado de Assis foram contemporâneos, dividiram o mesmo público-leitor, mas entre ambos imperou o silêncio quanto à produção de suas respectivas obras. O primeiro foi um homem do mundo, que na condição de diplomata serviu na Espanha, Inglaterra, Itália, Japão etc. O segundo, passou parte da vida entre o gabinete no centro do Império (Rio de Janeiro) e a sua casa na Rua do Cosme Velho. Azevedo foi, ainda, adepto das correntes filosóficas, como o Evolucionismo de Charles Darwin (seleção natural), o Determinismo de Hipólito Taine e o Positivismo de Auguste Comte. Machado foi um crítico contundente de tais correntes. Ambos, exímios retratistas de seu tempo e de seu espaço.

Assim como o “Bruxo do Cosme Velho”, Aluísio de Azevedo tem sua obra dividida em dois momentos: romântica e naturalista. Embora o Romantismo se encontrasse em franca decadência, existia um público-leitor composto majoritariamente por mulheres ávidas pelo “The End”. Dessa fase, destaca-se “Uma lágrima de mulher”, de 1880. O ciclo naturalista, cuja tríade citamos anteriormente, caracteriza-se por abordar a realidade cotidiana, principalmente do imigrante português, zoomorfização, animalização das personagens, que emergem das camadas mais desprovidas da sociedade, cujo caráter encontra-se em constante processo de degradação e uma contundente crítica a uma sociedade elitista, conservadora e escravocrata.

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A obra azevediana é composta por três livros de contos, oito peças de teatro e onze romances. Um deles, “O Homem”, de 1887, sucesso de vendas, fez com que seu autor assinasse contrato com a Livraria Garnier, uma das mais importantes do país.

É preciso salientar que as obras naturalistas eram consideradas, pelos livreiros da época, obscenas e não romances experimentais, como denominavam seus escritores. “O Homem” foi taxado, por exemplo, de “erótico” e “obsceno” fato que atraia leitores carentes de representações de sexo. A obra enfatizava os instintos femininos da personagem Magdalena, diagnosticada com histeria e cujo tratamento era o sexo – “Ela precisa é de homem”.

Aluísio de Azevedo, abolicionista convicto, foi um dos nossos mais importantes romancistas que, como poucos, soube “perturbar” os leitores e os críticos ao criar situações ultrajantes e personagens – João Romão, Magdá, Rita Baiana, Pombinha, Cônego Diogo – luxuriosas, patológicas, detestáveis e irritantes.

Inspirado por Émile Zola e Eça de Queiroz, Aluísio de Azevedo desenhou, encenou e escreveu sobre o século XIX, marcado pelo preconceito racial, hipocrisia das elites sociais, vícios e promiscuidade da população de São Luís do Maranhão, caracterizada pelo provincianismo e ideias retrógradas.

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