Sob comando de Bolsonaro, prisões da PF em ações anticorrupção caíram 90%

Dado obtido pela comparação dos anos de 2019 e 2022 é mais uma demonstração de que preocupação do ex-presidente Jair Bolsonaro com tema nunca passou de retórica

Foto: José Cruz/Agência Brasil

Apesar de se valer do discurso anticorrupção para mobilizar sua base, a realidade vem mostrando há tempos que essa nunca foi uma pauta levada a sério por Jair Bolsonaro (PL). Para além do longo histórico de casos envolvendo o ex-presidente, familiares, membros do governo e apoiadores próximos, sua gestão nessa área também foi desastrosa, o que pode ser constatado na queda de 90% das prisões em operações da Polícia Federal de combate à corrupção registrada na comparação entre o primeiro e o último ano de seu governo. 

Os dados foram publicados pela jornalista Juliana Dal Piva, do UOL, tendo como base informações da própria PF fornecidas à organização não-governamental Transparência Internacional – Brasil. 

Segundo a reportagem, em 2019, primeiro ano do governo Bolsonaro, houve 421 prisões via PF envolvendo esse tipo de crime; já em 2022, quando encerrou o mandato, foram apenas 42. Em 2020 e 2021 os números também seguiram em queda, com a realização de 340 e 144 prisões, respectivamente. 

Também no último ano do governo, houve redução no número de operações realizadas pela PF de combate à corrupção — foram 142. Em 2019, houve 172, 249 em 2020 e 182 em 2021. “Outro ponto importante com relação às operações é o fato de que a gestão da Polícia Federal, durante o governo Bolsonaro, deixou 5.423 inquéritos policiais”, diz a reportagem. 

Leia também: Combate à corrupção sofreu “desmanche sem precedentes” sob Bolsonaro

Ao portal, Guilherme France, gerente de pesquisa da Transparência Internacional – Brasil, destacou: “Ao longo de quatro anos, o ex-presidente Bolsonaro interferiu sistematicamente em órgãos de investigação e persecução criminal. Só na PF foram quatro trocas de direção, além de inúmeros delegados em posição de chefia substituídos. Isso pode ter sido feito para garantir a sua proteção e da sua família contra investigações ou para perseguir adversários políticos. Independente da motivação, que já é grave por conta própria, o que esses dados mostram é que houve uma queda no combate à corrupção, contrariando de forma indiscutível toda sua narrativa de campanha e governo”. 

Em janeiro, a entidade também apontou que ações e omissões do governo Bolsonaro promoveram um “desmanche acelerado” no combate à corrupção. Segundo o ranking de 180 países feitos pela Transparência nesse quesito, o Brasil ocupava a vexatória 94ª posição. Um dos motivos apontados foi o uso do mandato, por parte de Bolsonaro, para proteger a si e familiares de investigações sobre denúncias de corrupção “fartamente comprovadas”. 

“Muito mais do que frear processos específicos, ele [Bolsonaro] neutralizou o sistema de freios e contrapesos da democracia brasileira, desmontando os três pilares que o sustentam: jurídico, político e social. Com isto, sua blindagem foi muito além da delinquência passada. Ele garantiu impunidade para cometer novos e muito mais graves crimes”, apontou documento da ONG na ocasião. 

Leia também: Conheça 17 escândalos de corrupção do governo Bolsonaro

Com informações do UOL e agências

(PL)

Autor