Lula começa maratona de reuniões bilaterais com Austrália

Após isolamento de Bolsonaro, Lula é convidado para cúpulas com países ricos e garante reuniões de peso no G7 em Hiroshima.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, se reuniu com o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese Foto: Ricardo Stuckert/Presidência da Republica

Antes mesmo do início da cúpula do G7, o encontro de países como Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido, o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, já participou de uma primeira reunião bilateral, dentre as nove que terá nos próximos dias em Hiroshima (Japão). O tema da reunião com o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, foi o meio ambiente, a regulação do trabalho por aplicativos e ampliação de relações.

Lula oscilou na aceitação do convite para participar da reunião do G7. Além do risco de contribuir para legitimar uma cúpula em favor da guerra, o presidente brasileiro só atravessaria para o outro lado do mundo se garantisse uma agenda relevante de reuniões bilaterais. Não foi difícil confirmar a passagem para Hiroshima.

Além de participar dos painéis do evento multilateral, o chefe do Executivo do Brasil terá nove reuniões bilaterais e um encontro com empresários, fora reuniões que surgem durante o evento. 

A agenda intensa em tão pouco tempo contrasta com a participação do presidente anterior, Jair Bolsonaro, nas poucas cúpulas internacionais para as quais era convidado. Bolsonaro era frequentemente visto sozinho nesses eventos, por falta de uma agenda de reuniões organizada pelo Itamaraty. O constrangimento se refletiu no isolamento do país nos debates internacionais.

Encontros de peso

Foram confirmadas as reuniões bilaterais com o presidente da França, Emmanuel Macron, e com o presidente do Vietnã, Vo Van Thuong. O chanceler da Alemanha, Olaf Scholz, é outro nome da lista.

Já estavam confirmadas oficialmente três encontros bilaterais: com o presidente da Indonésia, Joko Widodo, e com os primeiros-ministros da Índia, Narendra Modi, e do Japão, o anfitrião Fumio Kishida.

Além desses, empresários representantes de grupos econômicos estrangeiros também se reunirão com Lula.

Austrália

Lula reafirmou a proteção do meio ambiente como prioridade de sua gestão, em reunião com o primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, no final de tarde desta sexta-feira (19). Brasil e Austrália participam como países convidados do G7.

“O presidente também deixou claro que uma de suas prioridades é reforçar a proteção do meio ambiente e da biodiversidade. E mencionou os investimentos australianos na produção de hidrogênio verde no estado do Ceará que, segundo ele, complementam a matriz energética brasileira, que ‘já é bastante limpa’”, diz nota do Ministério das Relações Exteriores.

O comunicado do Itamaraty confirma que Lula e Albanese debateram a regulamentação do mercado de trabalho após a chegada dos aplicativos. A Austrália tem sido pioneira em regular o impacto das novas tecnologias, como fez com as plataformas digitais e discute a uberização.

“O presidente brasileiro lembrou ao premiê australiano que, como ambos são políticos de origem trabalhista, é importante pensar em como promover novas relações entre capital e trabalho, inclusive para evitar a precarização gerada pelas novas tecnologias e fortalecer os sindicatos, ‘a exemplo do que aconteceu na reforma trabalhista da Espanha’”, acrescenta o Itamaraty.

De acordo com a nota, Albanese destacou a importância da eleição de Lula em 2022, sobretudo na defesa do meio ambiente, enquanto o presidente brasileiro defendeu que sua volta ao Palácio do Planalto significa a ressurgência do Brasil nas relações internacionais.

Nas redes sociais, Lula destacou que desde 2018 não havia uma reunião entre os líderes brasileiro e australiano. “Em Hiroshima, na primeira reunião bilateral de uma série de encontros que teremos no Japão. Conversei pela 1º vez com o primeiro-ministro da Austrália. Desde 2018 não havia encontro entre nossos países”, publicou o presidente.

“Falamos sobre a ampliação das relações Brasil – Austrália, a Copa do Mundo de Futebol Feminino e recebi o convite para visitar a Austrália. Vamos trabalhar para cada vez mais aproximarmos nossos países”, acrescentou.

O primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese, por sua vez, afirmou que encontrar o presidente Lula, foi “maravilhoso”. “Foi maravilhoso encontrar o presidente Lula pela primeira vez. E parabenizá-los pessoalmente pela presidência brasileira do G20 em 2024″, escreveu o premiê em suas redes sociais.

Encontro a sós

Um dos possíveis encontros não agendados seria com o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. O ucraniano pretende manter um encontro a sós com o presidente brasileiro, durante a reunião em Hiroshima. 

O correspondente da CNN na Inglaterra, Américo Martins, revelou que Zelensky enviou ao Itamaraty um pedido de encontro, que não foi oficialmente confirmado.

A reunião dos países do G7 tem como convidados tanto o presidente do Brasil como o da Índia, Narendra Modi, a quem Zelensky também quer convencer a apoiá-lo no conflito contra a Rússia. São dois países que evitam se posicionar contra a Rússia, negam envio de armas para a Ucrânia e preferem discutir o fim da guerra.

A expectativa é que os presidentes do Brasil e da Índia sofram fortes pressões dos países do G7 para um maior alinhamento contra a Rússia.O tratamento dado a Zelensky em Hiroshima, como um astro de rock, é visto como parte da estratégia de pressão sobre os dois países.

Agenda

De acordo com a nova agenda agora estão marcadas as seguintes reuniões bilaterais:

Na sexta-feira:

Primeiro-ministro da Austrália, Anthony Albanese

No sábado:

Primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida

Presidente da Indonésia, Joko Widodo

Primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi

Presidente da França, Emmanuel Macron

Chanceler da Alemanha, Olaf Scholz

No domingo:

Primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau

Secretário-geral da ONU, António Guterres

Presidente do Vietnã, Vo Van Thuong.

Na segunda-feira pela manhã, está prevista uma coletiva de imprensa, antes do retorno de Lula ao Brasil.

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