Lula no G7: E a roda da história continuou girando…

Mais: Queda de Bakhmut provoca reação confusa da Otan / Turquia: 3º colocado anuncia apoio a Erdogan / PC da Grécia conquista 7,23% dos votos nacionais.

O final de semana definitivamente foi de más notícias para os atlantistas (EUA – União Europeia – Otan). A reunião do G7, realizada de sexta-feira (19) a domingo (21), em Hiroshima (Japão) tinha como um dos seus objetivos principais fraturar o Brics (grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), enquadrando Brasil e Índia na moldura de uma versão maniqueísta sobre o conflito na Ucrânia, buscando atraí-los ainda para a narrativa sobre a “coerção econômica” que a China estaria exercendo contra países da América Latina e África. O resultado foi um rotundo fracasso, mesmo com o G7 usando a tática para lá de questionável, em termos diplomáticos, de anunciar a presença não combinada anteriormente do presidente ucraniano, Vladimir Zelensky. Lula desempenhou um papel notável, ao mesmo tempo habilidoso e firme. “A solução (para os atuais dilemas internacionais) não está na formação de blocos antagônicos ou de respostas que contemplem apenas um pequeno número de países“, disse Lula para os líderes do diminuto clube do G7, que, aferrados a um anacrônico ambiente internacional no qual ditavam soberanamente as leis, tiveram que escutar do presidente brasileiro a cobrança por “mudanças profundas nas instituições” de governança internacional, que expressem os novos tempos de transição para uma ordem multipolar. O metalúrgico do ABC não se deixou intimidar diante dos “donos do mundo” e sua postura em Hiroshima contribuiu para que a roda da história seguisse girando, apesar das mãos poderosas que tentam travar-lhe o movimento.

O malabarismo desajeitado da mídia para tentar desqualificar Lula no G7

Lula foi tão bem em defender a postura soberana do Brasil, principalmente diante do conflito na Ucrânia, que a mídia está com dificuldades em encaixar seu discurso sobre uma suposta atuação desequilibrada do presidente brasileiro. Vendo as edições dos jornalões sobre o G7, qualquer leitura atenta revela uma contradição absurda que eles não conseguem resolver a contento com os subterfúgios usuais. Tomemos como exemplo a edição da Folha de S. Paulo desta terça-feira (23). Diz a manchete da editoria mundo: “Lula volta do G7 percebido como menos neutro em relação à Guerra da Ucrânia”. Daí, o leitor, preocupado, vai procurar, no texto, a explicação sobre a “perda de neutralidade” de Lula. Depois de ler atentamento o texto e a opinião da maioria dos “especialistas” ouvidos pela Folha, você chega à cômica conclusão de que Lula perdeu a neutralidade diante do conflito na Ucrânia por se recusar a defender apenas a versão de um dos lados! Ou seja, deixou de ser neutro porque defendeu em primeiro lugar a paz e se aferrou… a ser neutro. Repete-se com monótona regularidade esta técnica da mídia hegemônica (que já apontamos aqui na Súmula) de selecionar “especialistas convenientes” que apenas vão corroborar a opinião prévia do próprio jornal, reservando às vezes uma cota mínima de discordância para forjar um ar de imparcialidade. Desta vez, a cota mínima de discordância foi representada pelo professor Vinicius Rodrigues Vieira, da Faap, que lembrou um aspecto importante, mostrando que a discussão não é sobre “neutralidade” e sim sobre independência ou alinhamento automático: “o Ocidente tem uma predisposição a ver as coisas de um modo excessivamente binário e de desconfiar de qualquer um que não adere automaticamente a suas propostas”. Indubitavelmente, Lula e mais do que Lula, o Brasil sai da reunião do G7 mais forte e respeitado. No dia 3 de maio, o Itamaraty anunciou que a partir de outubro o país voltaria a exigir o visto de entrada de viajantes do Japão e de outros três países para os quais Jair Bolsonaro havia extinguido a exigência de visto sem a devida reciprocidade, ou seja, para os viajantes brasileiros continuava obrigatória a exigência de visto para entrar nestes países. Pois o que anunciou agora no G7 um sorridente premiê japonês, Fumio Kishida, anfitrião da reunião do G7? Que o Japão irá isentar os brasileiros de visto de entrada. Existe um adágio antigo que nossa colonizada mídia tupiniquim ignora: “para ser respeitado, deve-se primeiro dar-se ao respeito”.

Queda de Bakhmut provoca reação confusa da Otan

Outra péssima notícia para os atlantistas foi a queda de Bakhmut, que os russos chamam de Artyomovstk, anunciada oficialmente pelo Ministério de Defesa russo neste sábado (20). Alguns analistas militares apontam que esta foi, até agora, a maior e mais sangrenta batalha do século XXI. Em dezembro de 2022, em discurso em Washington, o presidente ucraniano garantiu aos congressistas estadunidenses que “a luta por Bakhmut mudará a trajetória de nossa guerra por independência e liberdade“. No final de março, quando as forças russas já haviam conquistado 4/5 da cidade, especulou-se que Zelensky poderia autorizar a saída das tropas ucranianas restantes pelos caminhos de fuga que ainda estavam abertos, mas Zelensky descartou tal possibilidade em entrevista à agência Associated Press (AP) divulgada no dia 29/03. Segundo Zelensky, se suas tropas entregassem a cidade de Bakhmut, seu governo ficaria sob pressão doméstica e internacional para buscar a paz com a Rússia. “Nossa sociedade vai se sentir cansada”, afirmou. Consumada a queda, a Otan, segundo feliz expressão do site MPR21, “entrincheirou-se no negacionismo”, incentivando as autoridades ucranianas a continuar dizendo que ainda existe combate na cidade ou mesmo que os ucranianos estão avançando “nos flancos”. Uma ou outra declaração admite que a situação “é dramática” enquanto ressalta que a cidade não tem “importância estratégica”, o que se for verdade só prova o desprezo do regime de Kiev pela vida dos seus soldados, que teriam se sacrificado inutilmente. Aliás, este pouco caso com a vida dos soldados é uma característica dos comandantes fascistas. É só lembrar o destino do 6º exército alemão em Stalingrado, quando a recusa de Hitler em atender os seguidos apelos do general Paulus para que autorizasse uma tentativa de romper o cerco e fugir causou milhares de mortes desnecessárias. Como propõem a China e o Brasil, é cada vez mais urgente um cessar-fogo e negociações de paz sem pré-condições para deter a guerra.

Turquia: 3º colocado anuncia apoio a Erdogan

O nacionalista Sinan Ogan, terceiro colocado nas eleições da Turquia, declarou apoio ao atual presidente do país, Recep Tayyip Erdogan, que disputa a reeleição contra Kemal Kilicdaroglu. Ogan conquistou 5,2% dos votos e seu apoio estava sendo cobiçado pelos dois candidatos que passaram ao segundo turno. No primeiro turno Erdogan conquistou 49,6%, contra 44,8% do adversário e a coalizão governista que apoiou a sua candidatura obteve 322 assentos e, portanto, a maioria absoluta no parlamento turco que tem 600 cadeiras. O segundo turno será disputado neste próximo domingo (28).

Partido Comunista da Grécia conquista 7,23% dos votos nacionais

A eleição nacional na Grécia do último domingo registrou o crescimento de influência dos comunistas, que ficaram em quarto lugar com 7,23% dos votos, elegendo 26 deputados. Em 2019 o Partido Comunista da Grécia havia alcançado 5,3% e ocupado 15 cadeiras no parlamento. Em documento divulgado nesta terça-feira o KKE (sigla do Partido em grego) diz que o crescimento eleitoral é uma notícia positiva em meio a uma correlação de forças negativa e afirma que o resultado pode alimentar “a partir de hoje uma nova dinâmica no caminho do contra-ataque, no caminho da luta de classes de massas, da reorganização do movimento operário, da promoção da aliança social anticapitalista e antimonopolista e da atração ao movimento de forma massiva de mais mulheres e jovens”.  A eleição foi vencida pelo direitista Partido Nova Democracia, que alcançou 40,79% dos votos, seguido pelo Syriza (esquerda), com 20,7% e pelo Pasok (Partido Socialista da Grécia, centro-esquerda), com 11,46%.

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