Onda de “panelaços” reforça protestos contra Macron

Os sindicatos convocaram para o início de junho outra rodada de protestos contra a reforma da aposentadoria. “Não são panelas que farão a França avançar”, diz o governo

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Desde que a reforma da previdência foi promulgada, o presidente Emmanuel Macron não pode mais dar um passo na França sem ser saudado por panelas. E para o azar dele, não são as famosas panelas com os pratos clássicos de chefs estrelados, como Auguste Escoffier e Paul Bocuse.

Em 25 de abril, em visita aos profissionais da saúde de um centro universitário, em Loir-et-Cher, a 170 km de Paris, Macron foi recebido por cerca de 200 panelas de manifestantes que protestavam contra a aprovação da lei que aumentou o tempo de aposentadoria.

No dia anterior, a ministra da cultura da França, Rima Abdul Malak, em ocasião da 34ª cerimônia Les Molières, a maior premiação de teatro do país, foi interpelada por duas comediantes que fizeram duras críticas ao governo por sancionar a nova lei.

“Senhora Ministra, não somos cachorros, nem cadelas, e não vamos voltar para a casinha. Aos meus irmãos e irmãs de luta, que a luta continue. E viva as cassolades [panelaço]”, disseram, no palco, com microfone em mãos, as artistas Toufan Manoutcheri et Lucie Astier.

Dentro do Teatro de Paris, o público aplaudiu com veemência a manifestação das atrizes. Do lado de fora, milhares de manifestantes carregavam panelas e colheres de pau para também protestar contra a reforma da previdência.

Para conseguir a aprovação, o executivo francês recorreu a um dispositivo constitucional que evitou a analisa da matéria pelo legislativo. O artigo 49.3 da Constituição permitiu a aprovação da lei sem que Macron sofresse a previsível derrota acachapante no parlamento.

Os panelaços começaram quando o presidente, em 17 de abril, fez um pronunciamento à nação, em cadeia nacional de televisão, para justificar a reforma e tentar acalmar os protestos que, naquele momento, passaram a ser duramente reprimidos. Mais de 300 franceses foram detidos pela polícia no auge das manifestações.

Naquele dia, o pronunciamento foi recebido por uma série de panelaços nas ruas das cidades francesas. Desde Paris, Marselha, Nantes, as maiores, até vilarejos no interior do país foram registrados os “concertos de panelas”.

Quase dois meses depois, os movimentos sociais e sindicatos do país continuam mobilizados. Em inúmeras prefeituras por todo o país é possível encontrar manifestantes que seguem batendo panelas para denunciar o atropelo democrático promovido por Macron e a burguesia francesa. Irritado, o presidente declarou que “não são panelas que farão a França avançar”.

Os sindicatos convocaram para o início de junho outra rodada de protestos contra a reforma da aposentadoria.

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