Ex-diretor da PRF mente em primeiro depoimento à CPMI

Silvinei distorceu dados sobre a atuação da PRF nas operações no Nordeste em meio ao 2º turno. Foram pelo menos 3 vezes mais autuações do que o alegado

Foto: Roque de Sá/Agência Senado

O ex-diretor-geral da Polícia Rodoviária Federal (PRF), Silvinei Vasques, mentiu sobre dados da atuação da PRF nas eleições de 2022 em depoimento para a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do 8 de Janeiro, nesta terça (20). Ele foi o primeiro depoente da CPI e negou qualquer interferência no 2º turno das eleições majoritárias em 2022. Silvinei Vasques foi nomeado diretor-geral da PRF em abril de 2021, indicado pelo filho do então presidente Jair Bolsonaro, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).

Como testemunha, o servidor foi convocado pela comissão para esclarecer a atuação da PRF nas eleições de 2022, quando operações realizadas pelos agentes tentaram impedir a população do nordeste de votar.

Além disso, Silvinei teve que responder pela incapacidade da PRF em desmobilizar os bloqueios de caminhoneiros nas estradas brasileiras após a confirmação da vitória eleitoral de Lula.

Silvinei distorce dados da própria PRF

No depoimento à CPI, o ex-diretor-geral mentiu sobre a quantidade de blitz realizadas pela PRF no segundo turno das eleições. “Nós tivemos 694 pontos de fiscalização no dia 30 de outubro e o nordeste junto com o norte foram os locais onde a polícia menos realizou fiscalização. Onde mais se fiscalizou foi no Sudeste, Sul e Centro-Oeste”, afirmou Silvinei Vasques na sua fala inicial.

“Nos estados do Nordeste estão lotados o maior efetivo da instituição [PRF] e lá está a maior malha viária de rodovias federais. O maior número de acidentes e a maior frota de ônibus no Brasil”, justificou a presença dos agentes, negando que a corporação tenha tentado atrapalhar eleitores.

No entanto, um relatório do Ministério da Justiça entregue à Controladoria Geral da União (CGU) diz que a PRF fiscalizou no Nordeste, onde Lula era franco favorito, 2.185 ônibus nos dias 28 e 30 de outubro. Portanto, às vésperas e no próprio dia do 2º turno. Em contrapartida, o Sudeste teve 571 ônibus averiguados no mesmo período.

Em outra momento, Silvinei Vasques alegou que se apresentou espontaneamente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ainda no dia 30 de outubro, para prestar esclarecimentos ao presidente da Corte ministro Alexandre de Moraes.

Intimação do TSE no 2º turno

A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) desmentiu o depoente. “Não é verdade que vossa excelência se apresentou espontaneamente no TSE ao ser questionado nas ações do segundo turno, em uma operação objetivamente direcionada a abstenção do voto no nordeste”.

Na verdade, Silvinei foi intimado por Moraes depois que a PRF descumpriu ordem judicial do ministro de suspender a operação da polícia e desobstruir as rodovias na região Nordeste.

Membro titular da comissão, Feghali denunciou as ações deliberadas da PRF para prejudicar a chapa do presidente Lula nas eleições de 2022. “Houve uma deliberada ação na eleição de não permitir que o eleitor chegasse as urnas no Nordeste. Houve depois uma deliberada ação de não desbloqueio das estradas para provocar um caos no país para uma possível chamada GLO ou chamado poder moderador das Forças Armadas”, disse a deputada

Feghali ainda questionou o comportamento do ex-diretor-geral diante dos fatos que desencadearam o 8 de janeiro. “É comportamento de um diretor de uma estrutura de Estado impedir o voto?”

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