Implosão do Titan e cobertura da mídia contrastam com naufrágios no Mediterrâneo

Mais de 441 corpos de migrantes foram “pescados” em 2023 no Mediterrâneo, deixados para afogar por governos europeus e abandonados no silêncio pela mídia.

Imagens: OceanGate e Marinha Italiana

Na quinta-feira (22) foi confirmada pela guarda costeira dos Estados Unidos que foram encontrados destroços do submersível Titan, da empresa OceanGate, que realizava expedição até o naufrágio do Titanic, a uma profundidade de 3.800 metros.

A investigação das autoridades aponta para a implosão do Titan devido a pressão externa exercida pela coluna de água.

Estavam no submersível o bilionário britânico Hamish Harding, o bilionário pasquitanês Shahzada Dawood e seu filho Suleman Dawood, juntos ao explorador francês e um dos maiores especialistas no caso do Titanic, Paul-Henry Nargeolet, e o diretor-executivo da OceanGate, Stockton Rush, piloto na ocasião.

Os passageiros pagaram US$ 250 mil (R$ 1,2 milhão) para embarcar na expedição.

A trágica situação que vitimou bilionários tem servido nos últimos dias, com fortes discussões nas redes sociais, para questionar os limites de explorações como esta e a ganância capitalista em dispender tal quantia para um “mergulho” tão ambicioso quanto irresponsável.

Diversos alertas sobre a questão da segurança do submersível já haviam sido feitos, até mesmo porque fabricantes de determinados componentes não garantiam a resistência dos materiais na profundidade desejada para alcançar o navio naufragado.

O caso também expôs como a cobertura da grande imprensa trata como prioridade os ricos. É lamentável o caso ocorrido com a OceanGate, no entanto apenas no primeiro trimestre desse ano mais de 441 migrantes morreram no Mediterrâneo tentando chegar à Europa, de acordo com a ONU.

A Organização Internacional para as Migrações (OIM), que faz parte do Sistema das Nações Unidas, ainda aponta que mais de 20 mil mortes foram registradas na rota do Mediterrâneo Central desde 2014.

Uma verdadeira banalização da morte.

Estes casos não tiveram a mesma atenção dada ao Titan para auxiliar muitos migrantes desesperados à deriva. Ou mesmo da mídia tradicional para denunciar esta verdadeira calamidade que todos os meses ceifa centenas de pessoas que não possuem os mesmos recursos dos ocupantes do submersível.

Na noite de sexta (23) informações dão conta que um barco está à deriva no Mediterrâneo com 50 pessoas, segundo a organização Alarm Phone, que presta apoio de forma independente a pessoas que atravessam o Mediterrâneo para a UE.

No dia 14 de junho um naufrágio na costa da Grécia matou 82 pessoas. Mas nesse e outros casos, como não são bilionários, a cobertura é ínfima e os nomes não se sabe. Não houve homenagens, pois não eram ‘exploradores’, ao contrário, eram famélicos.

A insistência da realidade em esfregar na cara de todos a hipocrisia que nos corrompe pede, novamente, uma reflexão sobre o que queremos para o futuro. Para isso é necessário que todas as pontas pensem de forma conjunta sejam super-ricos, responsáveis por grandes agências jornalísticas e toda a sociedade, sobre o que é preciso fazer para que bilionários e muito menos migrantes continuem naufragando.

*Com informações de agências. Edição Vermelho, Murilo da Silva.

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