Lula: combate à desigualdade tem tanta prioridade quanto crise climática

Em reunião do Novo Pacto Financeiro Global, presidente defendeu maior dedicação dos países ricos e organismos internacionais para superar iniquidades e crise ambiental

Foto: Ricardo Stuckert/PR

O combate à desigualdade foi, ao lado da preservação ambiental, tema central do discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta sexta-feira (23) no fórum Novo Pacto Financeiro Global, organizado pelo governo francês em Paris, com a presença de chefes de Estado de diversos países. 

Após falar sobre a importância da Amazônia no combate à crise climática, Lula destacou: “Eu não vim aqui para falar somente da Amazônia. Eu vim aqui para falar que, junto com a questão climática, nós temos que colocar a questão da desigualdade mundial. Não é possível que numa reunião entre presidentes de países importantes, a palavra desigualdade não apareça. A desigualdade salarial, a desigualdade de raça, a desigualdade de gênero, a desigualdade na educação, a desigualdade na saúde”. 

O presidente continuou dizendo: “somos um mundo cada vez mais desigual, e cada vez mais a riqueza está concentrada na mão de menos gente, e a pobreza concentrada na mão de mais gente. Se nós não discutirmos essa questão da desigualdade, e se a gente não colocar isso com tanta prioridade quanto a questão climática, a gente pode ter um clima muito bom e o povo continuar morrendo de fome em vários países do mundo”. 

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No caso do Brasil, Lula lembrou que o país havia saído do mapa da fome da ONU, após seus primeiros governos e os de Dilma Rousseff, quando 36 milhões de pessoas deixaram a miséria absoluta e 40 milhões passaram a ter poder de compra de classe média. 

Treze anos depois, lamentou, “eu volto à Presidência da República do Brasil e outra vez, 33 milhões de pessoas estão passando fome. Quando deixamos a Presidência, o Brasil era a sexta economia do mundo. Hoje o Brasil é a 12ª economia do mundo. Ou seja, o país andou para trás, como muitos outros países andaram para trás. Depende do governo que é eleito, depende do governo que tenha preocupação com a questão social”. 

Na sequência, pontuou a necessidade de reconstrução nacional: “Tudo o que nós fizemos entre 2003 e 2016, nós vamos ter de refazer para o país voltar a crescer”. 

Pobres no orçamento

O presidente destacou ainda que “os pobres nunca foram problema”. O pobre, disse, “sempre será solução quando você o coloca dentro do orçamento do país. Mas se você esquece o pobre, e você coloca todos os outros no orçamento, nunca vai sobrar dinheiro para cuidar das pessoas mais miseráveis, porque elas não têm sindicato, elas não têm partido, elas não fazem passeata, não fazem movimento, e moram longe da sede do governo, moram muitas vezes na periferia. Então essa gente sempre estará abandonada. E a desigualdade só tem aumentado”. 

Lula também defendeu a necessidade de os países mais ricos irem além do aporte pontual de recursos e fazerem investimentos estruturantes, capazes de mudar a situação de pobreza de nações subdesenvolvidas. “Precisamos parar de, a nível internacional, fazer proselitismo com recurso. ‘Ah, eu vou ajudar essa coisinha aqui, eu vou ajudar essa coisinha ali’, quando na verdade nós precisamos dar um salto de qualidade. E fazer investimento em coisas estruturantes, que mudam a vida dos países”. 

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É por isso, completou, “que estou otimista com a criação do Banco dos Brics. É por isso que estou otimista com a possibilidade de criar o Banco do Sul. É por isso que estou otimista de a gente discutir moeda de comércio”.

O presidente brasileiro também criticou o protecionismo dos países ricos e seu impacto no aumento da miséria: “Quem é que não se lembra da discussão do G-20 em Londres, quando a gente discutia para evitar o protecionismo, quando a gente discutia que os países ricos teriam de fazer investimento nos países em desenvolvimento e nos países pobres? O que aconteceu? Os países ricos voltaram a fazer protecionismo. E estamos vendo a pobreza crescer em todos os continentes”.