Marcha das Margaridas 2023 será pela reconstrução do Brasil e do bem viver

Pauta com reivindicações entregue ao governo reuniu a maior quantidade de ministras e ministros já registrada na história da Marcha, que acontece em agosto, em Brasília

Marcha das Margaridas 2019 | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Nos dias 15 e 16 de agosto, Brasília será palco da sétima edição da Marcha das Margaridas, um movimento de grande relevância que reúne trabalhadoras rurais do campo e da floresta de todo o Brasil. Organizada pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), com o apoio de outras entidades sindicais, a marcha deste ano tem como objetivo central a luta pela “Reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver”. Essa mobilização é uma resposta às adversidades enfrentadas pelas mulheres que enraízam suas existências nos territórios rurais.

A Marcha das Margaridas congrega uma ampla diversidade de mulheres, incluindo camponesas, quilombolas, indígenas, cirandeiras, quebradeiras de coco, pescadoras, marisqueiras, ribeirinhas e extrativistas. Essas mulheres desempenham um papel fundamental na produção de alimentos saudáveis e na preservação dos biomas e dos saberes ancestrais. No entanto, muitas vezes são colocadas à margem e invisibilizadas. Neste ano, a expectativa é que 150 mil mulheres estejam presentes na marcha, unidas em busca da reconstrução do Brasil e por um modo de vida sustentável e harmonioso, o Bem Viver.

Na última quarta-feira (21), o Governo Federal reuniu 13 integrantes do primeiro escalão federal, sendo a maior quantidade de ministras e ministros já registrada na história da Marcha das Margaridas, para receber a pauta de reivindicações das mulheres camponesas, entregue por Mazé Morais, secretária de mulheres da Contag e coordenadora geral da Marcha das Margaridas 2023.

A pauta entregue pela coordenadora é orientada por 13 eixos, entre os quais destacam-se o fortalecimento das trabalhadoras rurais; o protagonismo (e visibilidade) à contribuição econômica, política e social das mulheres do campo; a crítica ao modelo de desenvolvimento hegemônico a partir de uma perspectiva feminista; e a luta pelo aperfeiçoamento e consolidação das políticas públicas voltadas às mulheres do campo, da floresta e das águas, nas esferas municipal, estadual e federal.

Na ocasião, Mazé também ressaltou a importância da participação de diferentes entidades na construção da marcha, enfatizando a união das 27 Federações de Mulheres Trabalhadoras Rurais, além de outras organizações como a MMM, AMB, UBM, MMC MIQCB, CUT e CTB. “Representando milhares de mulheres que enraízam suas existências em territórios rurais, produzimos alimentos saudáveis, somos fundamentais para a preservação dos nossos biomas e dos nossos saberes ancestrais. Mesmo assim, tentam nos colocar na invisibilidade. Mas seremos 100 mil em Brasília neste ano, todas na luta em torno de 13 eixos políticos, pela reconstrução do Brasil e pelo Bem Viver!”, disse a coordenadora.

Diálogos com o Governo

O diálogo entre a coordenação da marcha e o governo está sendo conduzido pela Secretaria-Geral da Presidência, bem como pelos ministérios das Mulheres e do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar. Essa agenda transversal com os demais ministérios do governo tem o intuito de buscar respostas concretas para as demandas das mulheres durante o evento em agosto.

A ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, destacou a abertura do governo ao diálogo e ressaltou a importância da Marcha das Margaridas para fortalecer a democracia. Ela enfatizou a necessidade de garantir a participação política das mulheres e combater a misoginia e a perseguição às lideranças femininas. “Nós temos o direito de viver e de não aceitarmos ficar em qualquer lugar. É para isso que a Marcha das Margaridas vem. Meu compromisso é me ligar 24h aos meus colegas de ministério para entregar as respostas que vocês estão vindo buscar”, disse.

O ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, destacou o lançamento de um plano safra voltado para a agricultura familiar, agroecologia e desenvolvimento de máquinas menores para apoiar a produção. Ele afirmou que esse será um “plano safra feminista” e que diversas demandas da marcha estão alinhadas com as políticas do seu ministério.

Reconstrução do Brasil e bem-viver

Em entrevista ao Portal Vermelho, a presidenta da União Brasileira de Mulheres (UBM), Vanja Andréa, disse que a temática de “reconstrução do Brasil e bem-viver” parte muito do “momento que a gente viveu de desconstrução dos direitos, desconstrução das políticas que nós tínhamos e do quanto a gente entende que para avançar, principalmente um pouco mais rápido a partir de todo o momento difícil que a gente viveu, os movimentos e as mulheres têm que participar dessa reconstrução”, disse.  

“Então é por isso que a gente fala de participar da reconstrução do Brasil, e do bem viver numa compreensão da questão dos valores gerais, da não exploração, da harmonia do todo: que é o ser humano, a natureza, o respeito às vidas, o respeito às pessoas. Mas tudo interligado nesse sentido”, concluiu.

Vanja também ressaltou a importância dessa mobilização para visibilizar as mulheres diversas que vivem além das capitais brasileiras. Para ela, a mobilização a Marcha das Margaridas é “um movimento necessário para visibilizar as mulheres diversas, que estão além das capitais brasileiras, e as construções que têm que ser feitas para que as políticas públicas alcancem essas mulheres. Um país forte se constrói pelas mãos de todas as pessoas, e as mulheres querem ser reconhecidas como essas mais de 52% das mãos que tem o direito e o dever de colaborar com essa construção.”

Marcha das Margaridas

A Marcha das Margaridas é considerada a maior mobilização de mulheres do campo e das cidades da América Latina. Por isso, é um momento crucial para fortalecer a democracia, promover a participação política das mulheres, combater as desigualdades de gênero e étnico-raciais, e reafirmar direitos fundamentais, como a autonomia do corpo, o acesso à terra, a inclusão digital e o respeito à diversidade.

A expectativa é que esse movimento gere diálogos construtivos e resulte na formulação e implementação de políticas públicas que contribuam para a redução das desigualdades e a promoção de uma sociedade mais justa e sustentável.

Com a eleição do Presidente Lula, as mulheres participantes da Marcha das Margaridas veem a possibilidade de reconstrução democrática do Estado de Direito no Brasil, com o firme compromisso de retomada das políticas públicas para a agricultura familiar e para as mulheres trabalhadoras do campo, da floresta, das águas e das cidades.

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