As mudanças que vivi e senti na questão LGBTQIA+ no movimento sindical

Depoimento pessoal revela a conquista de espaço LGBTQIA+ em uma entidade sindical.

Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Formado há pouco mais de um ano e com alguns anos já de experiência desde estagiário em dois grandes sindicatos de base, em novembro de 2013 começava aquela que seria a minha primeira grande oportunidade profissional da carreira, iria ser o profissional de comunicação da CTB Rio de Janeiro.

Contratado para trabalhar em regime de horário parcial, pude manter a vaga (agora já efetiva) no sindicato em que trabalhava e passar, ao longo desses 10 anos pela assessoria de comunicação de outras 2 entidades sindicais de médio-porte, fiz a assessoria de imprensa do Reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e participei de diversas campanhas eleitorais, com destaque para a última, onde trabalhei na comunicação da Dani Balbi (PCdoB), que se elegeu a 1ª deputada transexual do Rio de Janeiro e, com quem hoje colaboro com mandato, sem deixar de lado as questões da CTB-RJ.

Em Resumo, considero que tive uma carreira profissional diversificada e que, junto com meu crescimento também na academia (passei para o Mestrado em História da UFF em 2016 e estou concluindo meu MBA em Marketing Político e Comunicação eleitoral ao fim desse ano), evoluí bastante e sou um profissional bem mais completo agora do que há 10 anos atrás. E junto com meu crescimento, vi também crescer a CTB. Crescer em número de sindicatos, crescer em dirigentes presentes, crescer em qualidade e crescer na sua visão de mundo.

E no dia do Orgulho LGBTQIA+, como jornalista, não podia deixar de trazer em texto esse paralelo para afirmar: Nós avançamos!

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A CTB Rio de Janeiro me contratou sabendo da minha orientação sexual. Quem me contratou foi Secretário de Comunicação da época, Paulo Sérgio Farias, que hoje preside a entidade e, devo ser justo, nunca me faltou nos momentos de maior dificuldade. Ao Paulinho, um agradecimento especial, pela confiança, pela camaradagem e pela amizade estabelecida nessa década de profundas mudanças.

Nesses 10 anos de trabalho tive contato com inúmeros sindicatos e centrais sindicais. Não conheci nenhum profissional LGBTQIA+ em cargo estratégico. Aliás, nas Centrais Sindicais eu não conheci se quer um outro profissional LGBTQIA+.

Participei de reuniões e espaços onde me senti um estranho no ninho, mas jamais sem ser respaldado e empoderado pela CTB-RJ nesse processo. Houve momentos em que acompanhei reunião que não era para simples funcionário acompanhar, mas tinha a confiança da Central e assim o fiz. Isso me ajudou muito a evoluir profissionalmente e me permitiu, apesar de qualquer pesar que houvesse, me sentir sempre em casa na CTB.

Nesses 10 anos, a CTB-RJ me acolheu quando precisei, me deu liberdade quando dela necessitava. Entre convergências e divergências estabelecemos uma história onde somente uma vez, em meu primeiro ano de trabalho, tive um pequeno atrito por questões LGBTQIA+fóbicas. Uma piada sobre futebol e orientação sexual que jamais foi repetida. Nenhuma piada mais foi feita. Eu sei que elas ainda existem, mas sei que há respeito suficiente para não serem feitas nem dirigidas a mim, e muito menos na minha presença. Em um futuro próximo, espero que deixem de existir.

Emagreci, namorei, terminei, namorei de novo, terminei de novo, adquiri uma doença autoimune que complica bastante a minha vida e em todos esses processos contei com a compreensão dos dirigentes da central. Mas eu ainda sentia falta de uma coisa: apesar da CTB me acolher, respeitar e deixar claro que não havia distinção nenhuma a mim por conta da minha orientação sexual, onde estava a CTB e o movimento sindical com relação às questões da população LGBTQIA+?

Como funcionário, até esse ano, me esquivei desse debate deixando as iniciativas partirem da direção. Foi assim que Katia Branco, à época Secretária da Mulher Trabalhadora da CTB-RJ, hoje nossa vice-presidenta, não deixou passar uma data sequer embarco, puxando para a pasta das Mulheres também o compromisso de garantir a existência do tema em nossa pauta. A Central que foi a primeira a trazer as mulheres em seu nome e que faz um belo trabalho na luta pela igualdade Racial não podia simplesmente deixar os LGBQIA+ a ver navios. E não deixou. Anos atrás, entidades como o Sindicato dos Comerciários passaram a entrar mais nesse debate e engrossar fileiras contra a LGBTQIA+fobia no mercado de trabalho com ações dentro de Paradas do Orgulho LGBTQIA+. Parada essa que própria CTB passou a participar e produzir material recentemente, por iniciativa própria da direção e não mais por uma ação voluntária da Katia Branco.

Esse ano, com a nova Secretária de Comunicação, Ana Paula Brito, desenvolvemos pela Secretaria de Comunicação e Imprensa nossa primeira programação mensal do mês do Orgulho. Tivemos vídeo, card, pesquisa, artigos e fomentamos o debate interno. A CTB não apenas mudou sua logo para as cores da Bandeira LGBTQIA+, ela vestiu o debate, e, tenho a certeza que é um caminho sem volta.

Ao longo desses 10 anos eu vi, a passos curtos, a questão LGBTQIA+ ir buscando seu espaço no movimento sindical e, como quem havia passado da vergonha para o orgulho menos de um ano antes de entrar na Central, devo dizer que o crescimento que a central teve nas reflexões sobre a questão foi também o meu crescimento. Cresci muito dentro da CTB e aprendendo a lidar com o contraditório e vendo os outros também aprendendo a lidar comigo.

Então, encerro esse pequeno relato apenas para dizer que tenho ORGULHO de trabalhar numa Central Sindical Classista, que tem um homem cis gay em um cargo empoderado, estratégico e de confiança há 10 anos com não mais do que um pequeno incidente nos primeiros meses de trabalho.

Vida longa a CTB-RJ, viva o Sindicalismo Classista. Nada será como antes, esse ano nós tiramos o movimento sindical do armário!

*José Medeiros é jornalista e historiador, assessor de comunicação da Mandata da Deputada Estadual Dani Balbi e desde novembro de 2013, Assessor de Comunicação da CTB Rio de Janeiro.