Moro pressionou procuradores da Lava Jato por extradição de executivo da Odebrecht

Mensagens obtidas pela PF que o Uol teve acesso revela como agiam de forma irregular procuradores brasileiros e suíços para trocar informações e documentos

Foto: Lula Marques/Agencia PT

Novas evidências de que o atual senador e ex-juiz da 13ª Vara Federal em Curitiba, Sérgio Moro, cometeu irregularidades enquanto era responsável pela Operação Lava Jato surgiram. Em reportagem do Uol, de Jamil Chade com a colaboração de Leandro Demori, é revelado que Moro pressionou para que Fernando Migliaccio, executivo da Odebrecht preso na Suíça, fosse extraditado.

O que a reportagem apurou ao ter acesso a mensagens inéditas é que Moro concordou com um pedido para que a extradição fosse atrasada para que investigadores envolvidos na Operação pudessem trocar informações de forma não oficial, o que é irregular.

As mensagens de um dos procuradores da Lava Jato, Orlando Martello, revelam a ingerência.

Preso na Suíça

No caso, Migliaccio era do setor de Operações Estruturadas da Odebrecht, apontado como um departamento estruturado para realizar pagamentos de propinas. Ele foi preso em 2016 em Genebra e, posteriormente, veio ao Brasil para colaborar com um acordo de delação premiada.

O executivo era considerado uma fonte fundamental, pois poderia apontar de onde vieram as ordens de pagamentos ilegais. O principal alvo era obter informações sobre as movimentações financeiras feitas a pedido do ex-presidente da companhia Marcelo Odebrecht.

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Nas mensagens obtidas de Orlando Martello o interesse de Moro no detido é ressaltado. Em certo trecho, para autoridades suíças é colocado:  “Você se lembra que eu já solicitei a extradição do Migliaccio? Eu fiz isso por causa do pedido do juiz. O Sergio Moro estava me pressionando a fazer isso.”

Na mensagem ainda é questionado que se o pedido de extradição feito interfere em outro pedido, o para ouvir o investigado na Suíça. Na continuação, Martello diz: “Se sim, talvez possamos suspendê-lo (como o Vladmir lhe disse hoje), mas apenas por um curto período.”

Troca de mensagens fora da lei

Esta troca de mensagens pelos procuradores, quase que diariamente, feita pelo Telegram em inglês não estão documentadas em registros oficiais. Esta comunicação informal entre o lado brasileiro e suíço com troca de informações, documentos e combinando estratégias fora de canais oficiais é ilegal.

A forma correta seria utilizar canais de cooperação internacional. As mensagens obtidas fazem parte do material da Polícia Federal na operação Spoofing.

Wowwwww

O procurador suíço Stefan Lenz, responsável pelas investigações sobre a Lava Jato em seu país, era quem mais se comunicava com os procuradores brasileiros nas mensagens observadas. Além de auxiliar Martello em como obter acesso aos dados que apreenderam, ao informar sobre a prisão de Migliaccio, causou comoção em outro conhecido procurador, Deltan Dallagnol – que assumiu como deputado federal este ano e foi cassado por burlar a Lei da Ficha Limpa.

Lenz comunicou no grupo de procuradores que a prisão de Migliaccio ‘rendeu’ dois computadores, pelo menos sete celulares e outros dispositivos eletrônicos, e solicitou ajuda para a análise de dados.

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Em uma sequência de mensagens, Deltan disse:

“Wowwwww […] Isso é precioso!!! […] Uma mina de ouro [..] Podemos ajudar com o que você precisar…provavelmente muito conteúdo em português. Podemos enviar um especialista para ajudá-lo com um acordo de confidencialidade que não poderia trazer nenhuma informação”.

Moro não quis comentar o caso. Lenz não retornou a reportagem e Orlando Martello disse não recordar das mensagens, no entanto disse algo ainda mais preocupante: que a troca de informações com autoridades de outros países – neste caso, de forma extraoficial – é comum.

*Informações Uol. Edição Vermelho, Murilo da Silva.

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